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Erismar Rodrigues Moreira, o Bem-Te-Vi, tinha assumido o controle do tráfico na Rocinha depois que Luciano Barbosa dos Santos, o Lulu, foi morto por policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope), em abril de 2004. Era um traficante que gostava de usar armas douradas. Recentemente, a polícia apreendeu um fuzil AK-47 do bandido que, a princípio, pensou-se que fosse banhado a ouro. Mas uma perícia na arma descobriu que a cor dourada era, na verdade, produto de um revestimento de cobre que deu o tom amarelado ao fuzil.

De acordo com escutas telefônicas, Bem-Te-Vi teria contratado um armeiro especializado para dourar o armamento de sua quadrilha. Ele tinha, por exemplo, um fuzil HK-G3, uma pistola Desert Eagle calibre .50 e outra Glock, austríaca, além de um fuzil suíço Sig-Sauer, calibre 5.56. Tudo dourado. Segundo a polícia, a obsessão do traficante por ouro começou com jóias. Ele colecionava pulseiras, anéis, cordões e relógios feitos do metal.

Bem-Te-Vi também gostava de se relacionar com personalidades. Numa investigação da Polinter sobre a Rocinha, pelo menos 11 pessoas famosas foram citadas ou flagradas em escutas telefônicas. Algumas delas foram protegidas pelos próprios criminosos que falavam sobre as celebridades usando apelidos ou códigos.

Outras, no entanto, foram identificadas e tiveram que prestar esclarecimentos. Júlio César, ex-goleiro do Flamengo atualmente no futebol italiano, por exemplo, conversou com Bem-Te-Vi pelo rádio e demonstrou até uma certa intimidade chamando o traficante de Bente. O jogador, que se identificou como JC, contou ao bandido um assalto que acabara de testemunhar perto da Rocinha. No depoimento na polícia, Júlio César afirmou ter conhecido Bem-Te-Vi há cerca de um ano e meio num jogo de futebol beneficente na favela. O goleiro disse que esse foi o único contato pessoal que teve com bandido.

O jogador Jorginho, da seleção brasileira de futebol de areia, também prestou depoimento e negou qualquer envolvimento com o traficante. Ele disse que não foi a festas patrocinadas pelo tráfico e que freqüenta a favela para realizar trabalhos sociais com crianças. Tanto Jorginho quanto Júlio César não foram incriminados.

Já Marcelo Santoro, irmão de Mônica Santoro, ex-mulher e mãe de dois filhos do jogador Romário, foi indiciado pela polícia. Ele é acusado de ser intermediário entre traficantes e personalidades. Marcelo teria levado o sobrinho Romarinho, de 11 anos, a bocas-de-fumo para se encontrar com o traficante.

Bem-Te-Vi também seria um dos protetores de Pedro Machado Lomba Neto, o Pedro Dom, assaltante de residências nas regiões da Barra e Zona Sul da cidade, recentemente morto pela polícia.

A polícia acredita que a morte de Bem-Te-Vi vai diminuir o clima de tensão entre Rocinha e Vidigal. O traficante, que desde agosto já controlava as bocas-de-fumo na parte alta do Vidigal, tentava tomar também a parte de baixo da favela, dominada por outra facção.

Os confrontos entre traficantes da Rocinha e do Vidigal se agravaram a partir de abril do ano passado, quando um grupo comandado por Eduíno Eustáquio de Araújo, o Dudu, tentou invadir a Rocinha para tomar os pontos de venda de droga comandados por Lulu. A briga entre as quadrilhas, numa Sexta-Feira Santa, acabou com três mortos e sete feridos. Uma das vítimas foi a mineira Telma Veloso Pinto, que foi atingida por um tiro de fuzil ao tentar furar o bloqueio montado na Avenida Niemeyer por cerca de 60 bandidos vestidos de preto e com coletes à prova de bala, que roubavam carros para invadir a favela rival.

Na ocasião, a Niemeyer ficou fechada por sete horas e o Túnel Zuzu Angel, por mais de três, para evitar que mais pessoas fossem feridas. Depois desse episódio de violência que chocou a cidade, os bandidos da Rocinha, chefiados por Bem-Te-Vi, decidiram invadir o Vidigal, dando início a outros confrontos.

O episódio violento mais recente aconteceu em junho, quando a Niemeyer foi fechada por 35 minutos devido à uma intensa troca de tiros entre traficantes do Vidigal, que estavam no local conhecido como Rampa do 14. Em novembro do ano passado, bandidos das duas favelas trocaram tiros por mais de uma hora. Na época, a disputa pelo controle do tráfico nos dois locais já havia deixado 27 pessoas mortas, entre bandidos, policiais e moradores vítimas de balas perdidas. Somente na primeira semana da guerra, que começou em abril do ano passado, foram mortas 12 pessoas.

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