Participando de uma solenidade pública na manhã desta segunda-feira (6) na sede do Tecpar para anunciar a nacionalização da produção de quatro medicamentos, o ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP), ouviu o que já está acostumado quando participa de eventos para anunciar a distribuição de recursos: elogios. Dessa vez, porém, o tom elogioso do discurso teve uma diferença. Ele foi proferido pela sua esposa, Cida Borghetti, durante o exercício dela no cargo de governadora em exercício do estado. O governador Beto Richa está em férias.
“O ministro é um exemplo de dedicação e amor. Ele entende dessa pasta tão demandada. Foi relator do orçamento e conhece como ninguém o orçamento da União. Por isso, essa economia significativa que ele já promoveu nesses meses em que está à frente do ministério. Por isso, desejamos ao ministro toda sorte e sucesso e que possa promover a saúde aos brasileiros, em especial ao povo do Paraná”, disse Cida ao abrir seu discurso.
Beijo no rosto
Barros falou antes da governadora. Ao final do seu discurso, foi recebido por ela com um beijo no rosto mesmo tendo sido mais econômico nos elogios. Publicamente, ele se ateve apenas a “agradecer o tempo dedicado pela esposa ao evento”. Em nota oficial quando do seu retorno ao PP, Cida oficializou que pretendia se candidatar ao posto de governadora do Paraná em 2018. Pelo menos neste ano, as viagens do ministro pelo estado geralmente têm sido geralmente acompanhadas por sua esposa.
Os compromissos de Barros no Paraná durante as últimas eleições municipais já lhe renderam a abertura de um procedimento investigativo contra ele pela comissão de ética da Presidência da República. O procedimento foi instaurado após o jornal Folha de S.Paulo publicar que Barros fez promessas em eventos de candidatos e participou de eventos eleitorais em dias de agenda oficial como ministro da Saúde. Mesmo procedimento foi instaurado contra Mendonça Filho (DEM) por viagens dele a Pernambuco, reduto eleitoral do atual ministro da Educação.
Levantamento da Gazeta do Povo publicado no último dia 19 mostrou que a cada dez viagens oficiais de Barros, quatro são para o Paraná. Na ocasião, o Ministério da Saúde ressaltou que Barros havia cumprido agenda em 20 estados e 55 cidades brasileiras como ministro – 67% delas fora do Paraná.
Motivo
O ministro da Saúde veio a Curitiba anunciar que o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), e os institutos Butantan e Fiocruz ficarão responsáveis pela transferência de tecnologia de quatro medicamentos biológicos (Bevacizumabe, Etanercept, Infliximabe e Trastuzumabe) para tratamento de doenças como câncer, artrite e doenças autoimunes. Segundo Barros, ao final de todo o processo de transferência da tecnologia, a produção nos laboratórios nacionais trará uma economia de 30% nos R$ 8 bilhões gastos pelo ministério com a importação desses medicamentos.
“Nesse primeiro momento, a economia é de R$ 1 bilhão para o próximo período. Mas por contrato os fornecedores já passam a vender de imediato com 30% de desconto e a cada ano precisa reduzir com mais 5% [de desconto], trazendo economia imediata ao país. Com todas as parcerias [firmadas], [teremos] uma economia em torno de R$ 3 bilhões”, disse Barros, que também assinou a compra de 30 milhões de doses da vacina antirrábica produzida pelo Tecpar ao custo de R$ 38,4 milhões.
Maringá
A produção dos novos medicamentos pelo Tecpar ocorrerá em Maringá, redutor eleitoral de Barros e onde ele tentou eleger seu irmão prefeito no último pleito. De acordo com Júlio Félix, diretor-presidente do instituto, a escolha se deu porque o instituto recebeu da prefeitura a doação de um terreno na cidade em 2012 para ampliação das suas atividades. A estimativa é que o instituto arrecade R$ 500 milhões ao ano a partir de 2018, com o fornecimento dos insumos ao Ministério da Saúde.
“Já estamos há 27 anos lá [em Maringá] e ampliaremos onde temos esse terreno regularizado. Além disso, é um ambiente propício ao trabalho que vamos desenvolver e contamos com a Universidade Estadual de Maringá”, afirmou Félix.
O Tecpar divulgou que pretende realizar em Maringá uma obra para a construção da fábrica de finalização e envase de medicamentos e vacinas, que vai dar suporte à produção da vacina antirrábica e aos demais medicamentos biológicos. Disse também que, nos próximos anos, “novas plantas biológicas serão instaladas no local devendo gerar pelo menos 250 empregos diretos e qualificados, além de envolver mestres e doutores para auxiliar no desenvolvimento dos novos produtos”.
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