Gaudêncio Torquato é consultor político de Temer há três décadas.| Foto: Reprodução/Facebook

Desafiado por uma economia em recessão e pelo clima de discórdia política que se instaurou no país, Michel Temer (PMDB) chega à presidência interinamente com uma urgência: alavancar a popularidade junto a um eleitorado descontente e apreensivo com um plano de governo de medidas amargas e firmar parcerias políticas que potencializem a governabilidade prometida.

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A batalha mais árdua do peemedebista, no entanto, não deve ser travada com deputados e senadores, que devem restabelecer o elo perdido com o governo federal agora que Dilma Rousseff (PT) foi afastada.

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O verdadeiro desafio é convencer os brasileiros de que as medidas de austeridade previstas no documento “Uma ponte para o futuro” não são um retrocesso dos pontos de vista econômico, trabalhista e previdenciário.

“Ele já tem o apoio da Câmara e do Senado. Para conseguir o apoio da população, basta fazer com que ela volte a ter dinheiro no bolso. Temer chega agora como esperança. Se ele conseguir colocar a gota nesse poço vazio, vira herói, assim como aconteceu com Fernando Henrique Cardoso e o Plano Real”, avalia Carlos Manhanelli, presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos (ABCOP).

Já para Gaudêncio Torquato, consultor político de Temer há três décadas, as pretensões do peemedebista são mais modestas: Temer seria “apenas” um presidente de transição cujo papel é pacificar e preparar o país para 2018, pleito ao qual ele não planeja concorrer. Pelo menos por enquanto.

Para tanto, segundo Torquato, Michel – como se refere ao presidente interino – vai concentrar esforços na retomada de investimentos nacionais e internacionais e no corte de “gorduras” do Estado. A resposta, tem convicção, será positiva tanto por parte do mercado quanto por parte das bases sociais que, ao contrário do que teme a oposição, não serão sacrificadas com cortes nos programas sociais.

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A Gazeta do Povo conversou com Torquato sobre o cenário político e econômico que Temer deve encontrar e as possíveis estratégias a serem adotadas. Confira a íntegra:

Qual será o maior desafio de Temer como presidente?

Recuperação econômica e pacificação do país. A intenção de Michel é pacificar o Brasil. Precisamos recuperar o estado democrático de direito, o império da ordem, da norma e da lei. O país está em estado de esculhambação. Não é possível ver o Palácio do Planalto invadido pelo MST e pela CUT, ver grupos nas ruas depredando e vandalizando. É preciso recuperar o conceito de moral, autoridade, de eficiência, de participação política de maneira séria.

O que Temer terá de fazer para tirar o Brasil da recessão econômica e aplacar o clima de ódio e desconfiança política que se instaurou?

Vai ter que recompor a economia brasileira. A equipe econômica dele vai ter que reconstruir essa política econômica errada baseada em subsídios e incentivos a determinados setores. Vai ter que ajustar contas do governo; aplicar um corte profundo nas gorduras do Estado e baixar juros. Por isso, vai ter que escolher uma pessoa forte no mercado, como o Henrique Meirelles (presidente do Banco Central do Brasil entre 2003 e 2011), para compor a economia. Só então será possível restabelecer a confiança da população e do mercado, retomando investimentos. A resposta será positiva, tanto por parte do empresariado quanto por parte das bases sociais, em função da garantia que ele está dando de que os programas sociais serão mantidos e consolidados a partir do Bolsa Família.

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O ‘plano de governo’ de Temer – o documento “Uma Ponte para o Futuro” – defende medidas de austeridade consideradas amargas pela população e recebeu uma enxurrada de críticas...

Trata-se de um erro de avaliação tremendo. O documento foi muito elogiado por quem entende de mercado, por setores da economia, por quem trabalha na área econômica. O PMDB foi o único partido que apresentou uma proposta para o país – PT não fez isso, PSDB não fez isso. O “Uma Ponte para o Futuro” vai ainda ser complementado por um outro documento, o “Travessia Social”, que vai tratar da área social.

Como Temer pretende alavancar sua popularidade, hoje muito baixa junto à população?

A popularidade de Michel nunca esteve em alta, pois o vice-presidente não aparece no contexto nacional. A função do vice é substituir o presidente, o vice não é um líder de massas, é uma figura discreta. A visibilidade se abre para os atores do primeiro plano da política. Não se pode cobrar popularidade de Michel porque ele é vice; é agora que ele vai ocupar uma posição central.

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A ruptura com o PT pode ser revertida, pode haver uma parceria no futuro?

Acho muito difícil que haja parceria com o PT. O PT é sempre o partido de oposição, não gosta de parceria. É um partido dividido dentro dele mesmo, em alas: tem a ala do Lula, tem a ala do Tarso Genro... Enquanto partido, vai ter que renascer das cinzas. Se o PT quisesse participar do governo, teria espaço. Mas não acredito que queira; o PT quer ir para a oposição para viabilizar a candidatura de Lula para 2018.

Temer vai concorrer em 2018?

Acredito que não. Michel quer preparar o país para que em 2018 haja um pleito democrático em um Brasil mais avançado.