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| Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Então presidente da Petrobras, Graça Foster disse em reunião do Conselho de Administração da estatal ocorrida no dia 12 de dezembro de 2014 que qualquer valor que fosse colocado no balanço anual da empresa para medir as perdas com corrupção decorrentes da Operação Lava Jato não seria verdadeiro. “Essa de dizer que eu só posso mostrar para o mercado a certeza absoluta dessa questão da Operação Lava Jato é uma inverdade, porque jamais acontecerá. Só daqui a três, cinco ou dez anos. Quando isso tudo for julgado e sair o valor dessa operação toda”, disse Graça aos conselheiros.

Em determinado momento foram apresentadas as datas-limite para a empresa apresentar o balanço, que, à época, estava atrasado. Diante do calendário, um dos presentes indagou: “O juízo final é 28 de fevereiro, então?”. Graça interveio e disse: “Não há a menor perspectiva racional de ter esse número exato. Não há”. Em seguida, ela lançou o desafio: “Se o jurídico acha que há, por favor, pode se manifestar”. Não houve resposta.

O balanço da Petrobras referente ao terceiro trimestre de 2014 sofreu atrasos a partir do momento em que a PriceWaterhouseCoopers se recusou a assiná-lo sem antes saber dos resultados das investigações da Operação Lava Jato. A recusa da empresa de auditoria ocorreu em novembro do ano passado.

A estatal viria a divulgar em abril o balanço do terceiro trimestre de 2014 - devidamente auditado -, dois meses depois de Graça deixar o cargo e ser substituída por Aldemir Bendine. Nele foi incluída uma estimativa de perda de R$ 6,194 bilhões em razão da corrupção entre os anos de 2004 e 2012.

Saúde

A divulgação é obrigatória para empresas de capital aberto tanto pela legislação brasileira quanto pela dos Estados Unidos, onde a estatal também é listada em bolsa. A falta do balanço, além de criar instabilidade nos preços das ações da empresa no mercado, pode levar credores a exigir o pagamento antecipado de dívidas, prejudicar o caixa e a nota de crédito da companhia. O resultado informa o mercado e os acionistas sobre a saúde financeira da empresa, como a capacidade de honrar pagamentos, de fazer novos investimentos e de obter financiamentos.

A avaliação de Graça registrada em áudio não consta da ata oficial daquela reunião de 12 de dezembro. A Petrobras costuma gravar em áudio ou vídeo as reuniões. Esse material foi enviado à CPI da Petrobras que funciona na Câmara na semana passada. A estatal não comenta a divulgação do conteúdo dos encontros, pois afirma se tratar de um “vazamento ilegal”.

Mantega indicou nomes para Petros, mostram gravações

Gravações das reuniões do Conselho de Administração da Petrobras mostram que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega fez indicações políticas para o comando da Petros, fundo de pensão dos funcionários da estatal. Os áudios dos encontros mostram que a iniciativa foi criticada por integrantes do colegiado, que apontavam inexperiência dos indicados e até a suspeita de que um deles teria lidado com propinas em ocasiões anteriores. Mantega foi presidente do Conselho de Administração da Petrobras.

No encontro, de 13 de janeiro de 2015, a então presidente da Petrobras, Graça Foster, disse que recebeu “uma determinação” de Mantega, com nomes e currículos, e que ele pediu que Graça “viabilizasse as mudanças” na Petros. Ao final, ela pediu que essa informação não constasse da ata. O pedido de Graça foi atendido.

Menos de dois meses depois, houve mudanças na diretoria da Petros. Como os indicados por Mantega não são citados na gravação da reunião do conselho, não é possível saber se os nomes apoiados pelo então ministro da Fazenda e presidente do Conselho de Administração da estatal entraram na Petros.

Na reunião, o então representante dos funcionários da Petrobras, Sílvio Sinedino, afirmou que foi chamado para discutir a mudança na diretoria do fundo de pensão e soube de alguns nomes que haviam sido indicados para cargos que não tinham “a menor capacidade para assumir essas posições” - nunca haviam sequer administrado “nem uma carrocinha de pipoca”.

Sinedino chegou a dizer que uma auditoria interna da Petrobras mostrava que uma das pessoas indicadas teria recebido parte dos R$ 500 mil de propinas supostamente pagas por uma administradora de fundos de investimento.

Graça pediu para que as informações tratadas na discussão não fossem transcritas na ata da reunião. “Quem me mandou e-mail, quem me passou os nomes, eu peço que não esteja em ata. Senão a gente não vai poder conversar aqui na reunião do conselho. Porque o ministro passou o nome, isso não deve estar em ata”, afirmou.

O documento oficial, porém, registrou a preocupação de Sinedino sobre os “potenciais indicados, além de ser mais um caso de patente interferência do acionista controlador”. A reportagem não conseguiu contato com Sinedino. Mantega foi questionado, mas não respondeu. Graça não foi localizada. Em nota, a assessoria da Petrobras afirmou que não comentaria “informações supostamente oriundas de vazamentos ilegais”.

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