Kennedy (à esq.): conversa ocorreu 46 dias antes de ele ser assassinado; O presidente Jango.| Foto: Arquivo/ Reuters; Arquivo

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O áudio de Kennedy e os demais documentos estão disponíveis no site http://arquivosdaditadura.com.br

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Um áudio do ex-presidente dos Estados Unidos John F. Kennedy, divulgado ontem na internet pelo jornalista Elio Gaspari, revela que os norte-americanos cogitaram, em setembro de 1963, "intervir militarmente" no Brasil para depor o então presidente João Goulart, conhecido como Jango. A gravação é de uma reunião de Kennedy com assessores e foi realizada 46 dias antes de ele ser assassinado em Dallas, no Texas. Na ocasião, os norte-americanos discutiam a situação do Brasil e do Vietnã.

Jango acabou sendo deposto em abril de 1964 por um golpe militar organizado pelas Forças Armadas brasileiras, que acusavam o então presidente de querer impor o socialismo ao país. Para a cientista política Maria Celina D’Araújo, a informação não surpreende. "Os americanos estavam dispostos, mas a ajuda não foi necessária. O golpe foi tramado e aplicado aqui. Made in Brazil mesmo", diz ela.

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De fato, Washington se preparava para um cenário de guerra civil no Brasil caso houvesse reação das forças leais a Jango. Mas, como se sabe, não foi preciso oferecer mais do que apoio diplomático aos militares.

A conversa de Kennedy com seus assessores consta da edição revista e ampliada do livro A Ditadura Envergonhada, de Elio Gaspari, que é colunista de vários jornais brasileiros, inclusive da Gazeta do Povo.

A divulgação na internet faz parte do projeto "Arquivos da Ditadura", que reúne documentos referente à ditadura militar colhidos por Gasperi durante os últimos 30 anos. Esses documentos serviram de base para a edição e a reedição de seus livros sobre o regime militar no Brasil.

De acordo com a editora Intrínseca, responsável pelo projeto, o acervo reúne bilhetes, despachos, discursos, manuscritos, diários de conversas travadas pela cúpula e telegramas do governo americano, somando mais de 15 mil itens sobre a ditadura. São registros que se iniciam nos anos anteriores ao golpe e seguem até os últimos dias do regime. Entre eles, há 10 mil provenientes do arquivo do general Golbery do Couto e Silva, como suas apreciações e análises conjunturais redigidas em três momentos distintos, de 1960 a 1968.