Um grupo de servidores federais em greve no Arquivo Nacional barrou na tarde desta quinta-feira (5) a entrada do ex-procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, membro da Comissão da Verdade, que havia marcado uma reunião com a direção da instituição.

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Representando a comissão, o ex-procurador-geral iria conhecer as características do acervo formado pelos documentos da ditadura militar (1964-1985), hoje sob guarda do Arquivo Nacional, vinculado ao Ministério da Justiça. Os papéis serão usados pela Comissão da Verdade para investigar crimes contra os direitos humanos.

Contudo, ao chegar ao prédio, por volta das 15h, Fonteles foi barrado por um grupo de servidores em frente à entrada principal. Ele estava acompanhado de assessores e do subprocurador-geral da República Wagner Gonçalves.

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Fonteles disse ao grupo de cerca de 15 grevistas que os trabalhos da comissão não podiam ser postergados, pois têm prazo definido de dois anos para acabar.Um manifestante disse que lamentava pelos mortos e desaparecidos da ditadura, mas que os "vivos também estão precisando de ajuda". Fonteles retrucou dizendo que os opositores da ditadura haviam morrido "para nós termos isso aqui [democracia]".

Como os grevistas não arredaram pé da entrada, Fonteles foi embora. Minutos depois, duas diretoras do Arquivo Nacional foram ao encontro dele, no prédio do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde funciona a comissão.

Os servidores do Arquivo (400 no Rio de Janeiro e 50 em Brasília) começaram a greve na última terça-feira, em protesto contra a falta de um plano de carreira para a categoria. Segundo o comando de greve, 50% dos vencimentos dos servidores do Arquivo são gratificações temporárias, "o que gera uma insegurança", e um plano pode corrigir o problema. Eles também reivindicam a substituição do atual diretor, Jaime Antunes da Silva, que ocupa o cargo desde 1992, segundo os grevistas.

No final da tarde, os grevistas decidiram, em assembleia, que passarão a autorizar novas eventuais visitas de membros da Comissão da Verdade. Maria Rita Aderaldo, vice-presidente da Associação dos Servidores do Arquivo Nacional (Assan), disse que Fonteles foi barrado "para que a greve tivesse eficácia, não temos nada contra a comissão, pelo contrário". "A Assan participou desde o começo pela abertura dos arquivos da ditadura que estão no Arquivo", disse Maria Rita.

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