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A notificação extrajudicial feita pela Daslu, multimarcas de alto luxo de São Paulo, para que a futura grife da ONG Davida, que trabalha com prostitutas, troque de nome em dez dias, não surtiu efeito. A Daspu, que montará uma linha de roupas e acessórios especial para prostitutas, pretende continuar com este nome, mesmo que seja movida uma ação judicial pela grife paulistana.

- Vamos permanecer com a marca porque não estamos sujando o nome de ninguém - justificou Gabriela Leite, coordenadora da Davida e fundadora da rede brasileira de prostitutas.

O nome Daslu é uma abreviação dos nomes das amigas Lúcia Piva de Albuquerque e Lourdes Aranha dos Santos, que, em 1958, resolveram vender roupas de grifes famosas, principalmente importadas, para amigas. O nome Daspu, como anunciou Elio Gaspari em sua coluna no jornal "O Globo", segue o mesmo princípio. Segundo Gabriela, teve uma inspiração, mas foi uma idéia que veio sem a intenção de denegrir a imagem da outra grife.

- O prefixo "das" faz parte da língua portuguesa, não é propriedade da Daslu. Em São Paulo há uma butique que se chama Dasloca, que nunca foi notificada.

O advogado da Daslu Celso Reali Fragoso não concorda com a justificativa.

- Somos uma marca exportada para 40 países, o nome está registrado. Não podemos permitir que a marca ou o nome da marca sejam usados sem autorização. Nomes que levem à confusão, independentemente da nossa autorização, aproveitando-se da notoriedade da marca Daslu, também não podem ser usados.

Para ela, a notificação foi um caso claro de preconceito.

- É porque é uma grife de prostitutas. Eles dizem que estamos sujando o nome deles e que "é um deboche da marca que visou denegrir a imagem da Daslu usufruindo do renome". Por que estamos sujando o nome deles? Porque somos prostitutas?

ADVOGADO NEGA PRECONCEITO. Reali rebate e diz que em momento algum a ação foi motivada por preconceito e que a marca que escolhe com quem ela quer se associar. Segundo ele, este não é o primeiro caso que a Daslu tem que notificar, que já surgiram empresas como Dasloo, Dalu e outros nomes semelhantes, e que todas foram notificadas.

- Já foram mais de 14 lojas, e todas aceitaram em mudar de nome dentro do prazo previsto, sem ação na justiça. O nome da marca é tão forte que somos obrigados a preservar sua imagem - disse o advogado, ressaltando que em momento algum a notificação aconteceu pelo fato da grife ser de prostitutas.

De acordo com o documento, caso a Daspu não desista do nome em dez dias, prazo que termina na próxima quarta-feira, a nova grife terá que responder judicialmente, nas esferas civil e penal.

- É uma ameaça, mas não temos medo de nenhuma ameaça - diz Gabriela.

DESGINER DE SAPATOS APÓIA DASLU. O advogado da Daslu disse que a empresa não irá se manifestar quanto ao próximo passo, caso a Daspu não volte atrás na sua decisão de manter o nome da grife.

- Estamos tranqüilos e temos certeza de que a ONG terá a sensibilidade de alterar o nome. Buscamos uma ação conciliatória e não pretendemos levar isso adiante. Se a causa é nobre ou não, isso não significa que a lei não deva ser cumprida.

A designer de sapatos Constança Basto acha que os sócios da Daslu têm razão para não estar gostando da semelhança dos nomes.

- É uma comparação chata, com o significado de prostitutas. A intenção pode até não ter sido ruim, mas a marca tem que se proteger. Eu não gostaria que houvesse uma loja chamada Constança Bastos. Acho que eles (a ONG) deveriam procurar outro nome engraçado.

A dona da multimarcas carioca Novamente, Fátima Lomba, já foi "homenageada" mais de uma vez. No Rio, existem lojas, também de roupas, como Totalmente, Basicamente e Simplesmente. Ela considera a discussão uma perda de energia.

- Isso não me afeta, não me atinge. Para mim é um privilégio ser inspiração de alguém. Todo mundo sabe o que é a Daslu, deixa a Daspu para lá.

CAMISETA É ÚNICA PEÇA PRONTA. O trabalho da grife carioca ainda está no início. A primeira coleção é esperada para março do próximo ano. Por enquanto há apenas algumas peças-piloto desenvolvidas por prostitutas ligadas à ONG e a intenção de desenvolver linhas feitas especialmente para elas. Haverá a linha de batalha, com tops e vestidos, para ser usada durante o trabalho; a linha básica, para os momentos de lazer; a linha ativismo, como mensagens de direitos humanos, DST/Aids e pela regulamentação da prostituição; e a linha folia, para festas e carnaval.

A única peça pronta é a camiseta do bloco de carnaval "Prazeres da Vida", feita pelo designer Silvio de Oliveira, que será lançada na próxima segunda-feira durante um ensaio na Praça Tiradentes, às 18h.

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