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Cavagnari é militar da reserva e professor da Unicamp | Divulgação/Unicamp
Cavagnari é militar da reserva e professor da Unicamp| Foto: Divulgação/Unicamp

"As Forças Armadas não vão permitir represália e retaliação." A afirmação é de um ex-militar que, por divergir das medidas tomadas pelo governo golpista durante a ditadura, sofreu uma espécie de boicote e preferiu deixar a corporação. Geraldo Cavagnari Filho é enfático ao afirmar que a Comissão da Verdade, além de não poder voltar atrás em tudo o que foi feito entre 1964 e 1985, corre o riso de reacender o ódio entre as Forças Armadas e os opositores ao regime. Para ele, o país já está pacificado e, com o tempo, a história de torturas e crimes contra a humanidade será reescrita pelos historiadores.

Coronel reformado do Exér­­cito, Cavagnari não se diz contra a criação da comissão, mas defende que a formação do grupo é algo inútil, que não levará a lugar nenhum. Ele argumenta que não há sentido em desenterrar essa página da história brasileira. "Desenterrar tudo isso agora para quê? Para criar mais ódio? O país está pacificado, já lavou a alma, os direitos perdidos foram retomados", afirma. "Nada vai alterar as decisões já tomadas ou vai produzir um efeito significativo. O que pode acontecer, na verdade, é desenterrarmos uma hostilidade enterrada já há muito tempo, de ambos os lados envolvidos."

Questionado se resgatar os acontecimentos da ditadura militar não é um dever moral e uma obrigação do poder público, Cavagnari afirma que a história irá se encarregar de trazer à tona tudo que ocorreu naquela época. "Nada vai apagar o fato de ter havido tortura no Brasil e o comprometimento de ambos os lados envolvidos. Todos esses fatos serão resgatados. Mas é preciso dar tempo ao tempo para que tudo seja julgado pelos historiadores e não por um juiz", defende. "A história será reescrita de qualquer forma. Mas ainda não há distância suficiente dos fatos para que isso seja feito."

Poder militar

"Eu, pessoalmente, era contra o que foi feito. Mas, nas Forças Armadas, não se concorda com as coisas, apenas se obedece às ordens", diz Cavagnari. Sen­­tindo-se tolhido e sem espaço dentro da corporação, ele pediu transferência para a reserva em 1981. Como professor da Uni­­versidade Estadual de Cam­­pinas (Unicamp), fundou o Núcleo de Estudos Estratégicos da instituição.

E é exatamente por conhecer as Forças Armadas como poucos que Cavagnari alerta para o risco de tirar a Comissão da Verdade do papel. "Estão querendo brincar com as Forças Armadas novamente. Ela é calma, mas, quando é contrariada, há uma resposta violenta. Não se trata de uma declaração em tom de ameaça. Apenas digo isso porque já estive lá dentro", afirma. Para ele, em uma democracia, não deve haver espírito de vingança.

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