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A Câmara Legislativa do Distrito Federal deu início nesta quarta-feira ao procedimento que pode resultar no impeachment do governador José Roberto Arruda (DEM) e do vice-governador Paulo Octávio (DEM), em meio a uma invasão de manifestantes que exigiam a saída dos governantes do cargo.

Após quebrarem parte da porta de vidro da entrada da Câmara Legislativa e ferirem um dos seguranças que tentavam impedir a invasão, cerca de 150 manifestantes arrombaram a porta do plenário da Casa e ocuparam o ambiente de discussões e votações.

Em paralelo, o PT e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) protocolavam mais dois pedidos de impeachment contra Arruda, totalizando seis processos.

O PSOL, a Ordem dos Ministros Evangélicos do Gama --cidade satélite de Brasília-- e dois cidadãos já haviam apresentado pedidos semelhantes. Todos acusam o governador de cometer crime de responsabilidade.

"A Câmara tem toda a disposição de investigar todas as denúncias, mas precisa de condições para fazer isso", disse a jornalistas o presidente em exercício da Câmara Legislativa, deputado Cabo Patrício (PT), após sessão que contou com a presença de apenas seis dos 24 parlamentares.

Arruda é acusado de participar de esquema de pagamento de propina a parlamentares aliados.

Foram exibidas imagens em que ele aparece recebendo dinheiro de seu ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa, autor das denúncias, que envolvem ainda o vice-governador Paulo Octávio, outros integrantes da cúpula do governo local e diversos deputados distritais.

A Câmara Legislativa, que iria ter sua primeira sessão presidida por Cabo Patrício (PT) depois que Leonardo Prudente (DEM) se afastou do cargo em razão do envolvimento no escândalo, só conseguiu realizar a leitura dos seis requerimentos com o pedido de impeachment depois que deputados distritais petistas fecharam um acordo com os manifestantes e conseguiram liberar o plenário.

"Temos a plena consciência de que o povo precisa pressionar, mas todos os documentos que chegam à Câmara precisam ser lidos em sessão ordinária", argumentava a deputada Érika Kokay (PT) aos manifestantes.

"Se eles não forem lidos, não se oficializam nesta Casa. Se a gente não ler os pedidos, eles não começam a andar nesta Casa."

No entanto, parte dos manifestantes resistia. "Ocupa e resiste", gritavam, exigindo a renúncia do governador.

Longo caminho

O processo de impeachment, entretanto, ainda tem um longo caminho a seguir. Além de ser aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça e ser analisado pela procuradoria da Casa, precisa do crivo de dois terços (16) dos 24 parlamentares.

"O voto em plenário é aberto. Tenho certeza que os parlamentares não vão se omitir da sua responsabilidade", comentou Cabo Patrício.

O presidente do PT do Distrito Federal, Chico Vigilante, acredita que o desafio será grande, mesmo após PSDB, PPS, PV, PDT e PSB terem abandonado a base do governo Arruda.

"Eles (deputados da base aliada) não vão abandoná-lo aqui (Câmara Legislativa). Foi só uma saída estratégica para justificar para a opinião pública", disse Vigilante à Reuters.

A Câmara também deu início à investigação sobre a participação de deputados distritais no esquema que foi alvo da Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal.

A invasão

Depois de realizarem uma concentração em frente à Câmara Legislativa, os manifestantes decidiram ocupar o plenário da Casa.

Servidores correram para o plenário para guardar computadores, uma impressora e os microfones das tribunas. Algumas atas e cópias de projetos de lei foram encontrados pelos manifestantes e espalhados pelo chão.

Os vidros que separam o plenário da galeria de visitantes foi pintado com dizeres "Vamos extinguir a Câmara Legislativa. O DF não precisa de mais corruptos" e "Fora, ladrões."

O grupo de manifestantes foi integrado por estudantes, servidores e sindicalistas que portavam bandeiras dos partidos PT, PSOL, PCdoB, PSB, PDT e PSTU, além de estandartes da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e de outras centrais sindicais e movimentos sociais.

Segurando um caixão que simbolizava o enterro político de Arruda, os manifestantes gritavam "O Arruda vai cair, vai cair o Arruda". Subiram nas cadeiras e na mesa do plenário e diziam palavras de ordem no microfone, ameaçando prolongar a ocupação.

Ainda no saguão, gritavam "Arruda para a Papuda (presídio do DF) e PO (Paulo Octávio) no xilindró" e "Arruda, cadê meu panetone?," em referência à justificativa do governador de que o dinheiro que aparece recebendo em imagens gravadas serviria para a compra de panetones para famílias carentes.

Nenhum manifestante foi preso, e a Polícia Militar ficou do lado de fora da Câmara Legislativa praticamente todo o tempo em que a ação durou, pelo menos cinco horas.

Após a trégua para leitura dos pedidos de impeachment, os manifestantes retornaram ao plenário e prometiam passar a noite no local.

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