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Em discussão

Debate no Senado e na Câmara

A reforma política vem sendo debatida desde o início do ano tanto no Senado quanto na Câmara dos Deputados. Os senadores foram mais rápidos: aprovaram em uma comissão interna uma série de propostas que consideram interessantes levar a plenário. Entre elas, o voto em lista fechada (o eleitor não escolheria o candidato, apenas o partido); a exigência de 50% de vagas para mulheres; proibição de parentes na suplência de senadores; e a possibilidade de candidaturas sem partidos para prefeito e vereador.

Na Câmara, a discussão está indo em ritmo mais lento, até porque os deputados decidiram fazer audiências públicas em várias cidades. Na sexta passada, o evento foi realizado em Curitiba. Depois disso é que os parlamentares votarão suas propostas e darão encaminhamento para que o tema chegue a plenário.

Na semana que passou, o ex-presidente Lula trouxe novamente à tona uma proposta polêmica para evitar que os interesses particulares dos atuais congressistas acabem barrando a tentativa de uma reforma mais ampla. Segundo ele, o ideal poderia ser a convocação de uma constituinte exclusiva para debater o tema.

Nesse formato, a sociedade elegeria representantes que fariam apenas esse trabalho. Assim, não seriam nem os senadores nem os deputados os responsáveis pela discussão, o que reduziria possíveis conflitos de interesses. Especialistas, porém, dizem que a proposta de uma constituinte exclusiva seria inconstitucional.

Não vai mudar

Veja alguns pontos que, de acordo com os especialistas, o Congresso não vai discutir por serem contrários aos interesses de senadores e deputados:

Voto obrigatório

O voto obrigatório é considerado fundamental para a eleição de muitos políticos que estão no Congresso. Sem isso, diz o professor Octaciano Nogueira, da UFMG, os congressistas temem perder legitimidade. Alguns deles também dependeriam do voto obrigatório para "mobilizar" seu eleitorado.

Orçamento legislativo

Os deputados, senadores e vereadores no Brasil hoje são pequenos empresários, dado o tamanho do gabinete que gerenciam, diz Ricardo Costa de Oliveira, da UFPR. Essa estrutura custa para o contribuinte e traz poucos resultados, diz o professor. Sua principal finalidade seria garantir a reeleição do parlamentar.

"Recall" de políticos

Para o professor David Fleischer, da UnB, os congressistas brasileiros não deixarão passar qualquer tentativa de implantar no país o "voto destituinte", que já existe em algumas democracias. Por esse sistema, o político pode perder o mandato a qualquer momento. A revogação depende da vontade dos eleitores.

Reequilíbrio regional

Para o professor Fleischer, da UnB, o G-20 (como ele chama o grupo de estados fora do eixo Sul-Sudeste) não deixaria ser aprovada uma mudança na Constituição para dar mais equilíbrio à representação na Câmara. Hoje, estados como Acre, Roraima e Rondônia têm mais deputados por eleitor, já que a lei garante pelo menos oito representantes por unidade da Federação.

Transparência

O professor Ricardo Costa de Oliveira, da UFPR, diz que o Congresso poderia exigir mais transparência na prestação de contas de campanha e nas declarações de bens dos candidatos. Hoje, por exemplo, um parlamentar que deixe de declarar bens não é punido.

normas que vigoram, dificilmente vão fazer algo que mude radicalmente as suas chances dali por diante. Mais do que isso: não vão aprovar qualquer proposta que reduza seus poderes nos cargos que exercem.

Seremos Breves - Reforma política

+ VÍDEOS

?Políticos não são suicidas?, resume o cientista político An­­tônio Octávio Cintra, da Uni­­versidade Federal de Minas Gerais (UFMG). ?Não vão prejudicar a si mesmos ao aprovar uma reforma política.? E a tendência à autopreservação pode ser percebida na escolha dos temas que estão sendo discutidos até o momento na tentativa de reforma política que está sendo preparada em Brasília . Nenhum dos temas principais afeta o poder dos congressistas.

Especialistas apontam vários temas que poderiam ser debatidos e mudanças que poderiam fazer bem para a democracia brasileira, mas que não entram na pauta devido à falta de interesse dos políticos. Um exemplo, afirma o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB), é o chamado ?recall? de políticos, já adotado em vários países. Quando existe essa possibilidade, a população tem a chance de dizer se o atual governante está ou não atendendo aos anseios da comunidade. Se não estiver, pode perder o mandato antes do fim. ?É o chamado voto destituinte?, afirma.

O próprio Fleischer cita outro ponto polêmico, que poderia ser debatido mas que não entra na pauta por interesse de grupos de parlamentares. ?Seria o reequilíbrio da composição da Câmara dos Deputados?, diz. Hoje, a lei prevê que mesmo os menores estados têm direito a oito deputados federais. Com isso, o Acre, por exemplo, tem um deputado federal para cada 60 mil eleitores. São Paulo tem um representante para cada 450 mil eleitores.

?Isso cria uma diferença de representação que, idealmente, não existiria?, diz o professor, lembrando que no Senado, onde a representação é do estado, não dos eleitores, todas as unidades teriam, de qualquer jeito, direito ao mesmo número de representantes. ?Mas o G-20 jamais deixaria mudar isso?, diz Fleischer. O G-20, explica ele, nesse caso, seriam todos os estados brasileiros, excluídos os mais ricos, do Sul e do Sudeste.

Orçamento

Para o professor Ricardo Costa de Oliveira, cientista político da Universidade Federal do Paraná (UFPR), outro tópico que deveria estar sendo debatido é o tamanho do orçamento do Legislativo no país. ?Na Suécia, por exemplo, um congressista tem muito menos dinheiro, muito menos funcionários, uma estrutura muito menor do que aqui no Brasil. Aqui, o parlamentar é uma espécie de microempresário?, diz.

Para Oliveira, o orçamento do Legislativo, que é atrelado à arrecadação do Estado, cresce a cada ano, fomentando a corrupção e sem trazer resultados concretos para a população. ?O tamanho da estrutura de um gabinete hoje só serve para um objetivo, que é a reeleição do parlamentar?, afirma.

Na avaliação de Octaciano Nogueira, professor de Ciência Política na UnB, a própria questão da obrigatoriedade do voto será ?varrida para debaixo do tapete? pelos congressistas durante a discussão da reforma política. ?Eles não têm interesse em aprovar o voto facultativo até porque creem que muito poucos eleitores continuariam votando para o Legislati­­­vo, o que poderia afetar a própria legitimidade do Congresso Nacio­­­nal?, diz. Para o professor, quem deveria decidir se o voto é obrigatório ou facultativo é o próprio eleitor. ?Mas é claro que os congressistas jamais vão convocar um plebiscito para discutir isso?, afirma.

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Interatividade

Você acha que deveria existir um ?recall? para os políticos que ocupam cargos no Brasil?

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