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“Queremos uma sociedade que não apenas delegue poder [a políticos], mas que também participe da gestão de seus interesses.” Alexandre Boing, estudante e participante da Marcha da Liberdade | Jonthan Campos/ Gazeta do Povo
“Queremos uma sociedade que não apenas delegue poder [a políticos], mas que também participe da gestão de seus interesses.” Alexandre Boing, estudante e participante da Marcha da Liberdade| Foto: Jonthan Campos/ Gazeta do Povo

Marchas

Hackers convocam manifestações

Os grupos de hackers LulzSecBrazil e Anonymous convocaram seus seguidores para marchas em 15 cidades brasileiras, incluindo Curitiba e Cascavel. Todas elas ocorrerão hoje, às 13 horas. De acordo com os organizadores, a ideia é protestar "contra o governo corrupto" e defender a liberdade de expressão. Em Curitiba, a concentração será na Praça Santos Andrade. De lá, o grupo deverá seguir para o Palácio das Araucárias, no Centro Cívico. Já em Cascavel, a reunião será no calçadão em frente da Igreja Matriz.

Esses dois grupos foram responsáveis pela invasão de diversos sites do governo ao longo das últimas semanas. Entre os sites atacados estão o do Senado, o do Ministério dos Esportes e o do IBGE. De acordo com eles, os ataques aconteceram em protesto contra a corrupção e em favor da transparência. Apesar disso, suas ações foram consideradas "ingênuas" e "pouco propositivas" por boa parte dos web ativistas.

Convergência de bandeiras diferentes é marca do movimento

Durante o mês de junho, as marchas pela liberdade de expressão, pela maconha e a das "vadias" mobilizaram militantes em diversas capitais do Brasil. Inspiradas em movimentos internacionais, essas marchas utilizaram as mídias sociais, como o Twitter e o Facebook, para juntar pessoas das mais diversas origens e com os mais diversos pontos de vista políticos para defender a liberdade de expressão, o direito de solicitar a legalização das drogas e os direitos das mulheres.

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Do Cairo a Curitiba, a internet se tornou espaço de mobilização política e influenciou decisivamente em diversas manifestações ao longo deste ano. Apesar de não criarem nenhum padrão novo, as mídias sociais contribuíram para que as mobilizações e os militantes se organizassem de forma mais des­­­centralizada e independente. Resultados diretos desse fenômeno foram as revoltas no Oriente Médio – que resultaram na queda de ditaduras no Egito e na Tunísia – e as marchas da Liberdade, da Ma­­­conha e das Vadias, no Brasil – leia mais sobre isso no texto ao lado.

De acordo com o cientista político da UFSCar Fernando Azevedo, a internet mudou a forma de arregimentação dos militantes, pois ela permite o contato direto entre militantes com muito mais facilidade. Com isso, partidos políticos e instituições perderam importância. "A mobilização está passando por cima das velhas instituições políticas, inclusive os partidos", afirma ele.

Uma consequência disso é que novas bandeiras, que ganhavam pouco espaço dentro de partidos e sindicatos, acabam ganhando uma maior importância. Exem­­plos disso são as lutas pela legalização da maconha, pela liberdade de expressão ou pelos direitos das mu­­­lheres. "Esses movimentos po­­­dem ser chamados de pós-materialistas, pois as demandas não são sociais, nem políticas, mas culturais", comenta Azevedo.

Outro ponto bastante importante dessas causas é a convergência. Segundo a professora de Comunicação Kelly Prudêncio, da UFPR, a grande força desses movimentos está justamente no fato de eles poderem se conectar e colocar suas demandas de forma conjunta. "Os atores sociais se aliam em determinadas causas e criam ‘nós’. É a lógica da organização em redes", explica. "A força não está mais no ator político, e sim na associação."

Apesar disso, vale ressaltar que a internet não é criadora desse fe­­­nômeno, e que tampouco ela cria no­­vos militantes, dizem os especialistas. Em primeiro lugar, o fenômeno da convergência de causas é muito mais antigo do que a própria web. Segundo Pru­­dêncio, trata-se de uma tendência que existe desde os anos 60. "Mesmo antes da internet, já existia uma tendência do ativismo político ser mais ligado a o que acontece no dia a dia das pessoas, ao invés de grandes transformações sociais", afirma ele.

Outro aspecto desses movimentos é que eles mobilizam apenas as pessoas que já estariam propensas a se engajar politicamente. Logo, é difícil dizer que, por causa da internet, a juventude está mais politizada. "O que há é um tipo de participação diferente, com bandeiras mais genéricas e nem sempre politizadas, com reivindicações até mesmo vagas", comenta Azevedo.

Inspiração estrangeira

Este ano tem sido de grande mobilização política fora do Brasil. No mundo árabe, multidões derrubaram regimes tirânicos e abalaram a política da região. Na Europa, milhares tomaram as ruas para protestar contra os altos índices de desemprego e a crescente falta de perspectiva no continente desde o início da crise econômica mundial.

Apesar de alguns pontos comuns, existe algo que separa os protestos no exterior com as mobilizações brasileiras. Enquanto essas regiões vivem um momento crítico em sua história, o Brasil passar por um período de estabilidade econômica, política e social. Logo, as revoltas estrangeiras acabam sendo muito mais canalizadas para questões sociais, enquanto no Brasil essas causas tendem a ser mais ligadas a questões de cultura política.

Mesmo assim, algumas características comuns se destacam. Todos os movimentos transcendem as instituições políticas e se apresentam como revoltas coletivas, sem um líder ou um projeto específico e pré-definido. Apesar de isso ser bastante positivo, por ser mais democrático e abrangente, há também o problema da falta de foco. "Elas [as manifestações] expressam insatisfações, mas não se estruturam em um projeto político", explica Azevedo.

Interatividade

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