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O juiz Julier Sebastião da Silva, da 1.ª Vara Federal de Cuiabá (MT), provocou muita confusão nesta quinta-feira na CPI dos Bingos, onde prestava depoimento, forçando o encerramento da sessão. O juiz disse que houve caixa dois na campanha eleitoral de 2002 de candidatos do PSDB, incluindo a do senador Antero Paes de Barros (MT), que na época era candidato do partido ao governo do estado. Parte do dinheiro da campanha eleitoral de Antero teria vindo das empresas de João Arcanjo Ribeiro, o Comendador, que cumpre pena de 49 anos no Uruguai por lavagem de dinheiro, homicídio e crime organizado.

Irritado, Antero, que participava da sessão, iniciou um bate-boca com o juiz, chamou-o de mentiroso e de servir de "instrumento petista" instalado dentro do Judiciário, já que teria sido filiado ao PT. Sobre a acusação de que teria recebido dinheiro de Arcanjo, Antero explicou que alguns cheques oriundos de um jantar para arrecadar fundos para a campanha eleitoral, bancado pelo comitê do PSDB em agosto de 2002, foram trocados em uma das factorings de Arcanjo, "empresa que funcionava normalmente em Cuiabá". Ele afirmou que a troca dos cheques foi realizada legalmente dentro da chamada operação de fomento mercantil.

Em resposta, Julier da Silva disse que as operações de fomento mercantil só podem ser feitas por empresas jurídicas comerciais, sendo a transação vedada a comitês eleitorais. No caso, teria ficado clara a existência de fortes indícios de crime contra o sistema financeiro e abuso de poder econômico. Ele disse que determinou a abertura de inquérito policial contra Antero depois que o Ministério Público Federal concluiu que a Vip Factoring, empresa de Arcanjo, teria emitido, em nome do comitê eleitoral do PSDB, 84 cheques que totalizaram R$ 240 mil. E garantiu que Arcanjo contribuiu para a campanha do PSDB.

Antero negou as acusações e tentou desqualificar o juiz, afirmando que ele era "um magistrado patrocinado pelo governo Lula", informando que entre outras coisas, Julier, que é diretor do Fórum da Justiça Federal de Mato Grosso, teria conseguido patrocínio da Caixa Econômica Federal para publicar um livro do fórum, no qual a foto dele aparece mais de 15 vezes.

- Do mundo da jogatina e do crime, Arcanjo se transformou em um banqueiro responsável a partir de suas factorings que chegavam a emprestar, o que é considerado ilegal, dinheiro para campanhas eleitorais. Foi nesse momento que o Comendador passou a ser, de fato e não de direito, o governador de Mato Grosso - disse Julier da Silva.

Segundo o juiz, as operações milionárias da máfia de Arcanjo estenderam-se a empresários, prefeitos, governadores e senadores, "que mantinham relações estranhas com o comendador".

- Todos passaram a comer na mão do comendador - afirmou o juiz.

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