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Em depoimento na CPI do Apagão no Senado, o brigadeiro Jorge Kersul Filho, chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), reclamou nesta quinta-feira do fato de conteúdo da caixa-preta do Airbus da TAM acidentado em Congonhas ter sido exposto. Segundo ele, por conta da divulgação, o Cenipa tem recebido reclamações de órgãos internacionais, já que o país é signatário de uma convenção que proíbe a divulgação e a exposição de dados de caixas-pretas.

Numa sessão transmitida ao vivo para rádio e TV na quarta, a CPI do Apagão na Câmara revelou a transcrição dos diálogos da cabine dos pilotos momentos antes do acidente, o maior da aviação brasileira, depois que as informações já tinham sido vazadas para a imprensa.

- Há um momento de descrédito em nosso órgão, o que é uma pena - disse Kersul, explicando que, apesar de ter sido contra a divulgação, não tinha nada a fazer, já que seguiu determinações da CPI da Câmara.

- Não creio que o vazamento e a divulgação tenham contribuído para melhorar a imagem do país no exterior - ironizou o militar.

Na quarta-feira, o diretor-técnico da Flight Safety Foundation (FSF), fundação internacional para segurança de vôo, disse que a divulgação viola uma convenção internacional que protege esse tipo de informação.

O militar voltou a defender ainda que é muito cedo para falar das causas do acidente:

- É pedir demais que tão cedo já exista uma solução. Não tenho nada de novo a vocês - disse aos senadores.

O relator da CPI, Demóstenes Torres (DEM-GO), concordou com o militar e criticou a atitude dos deputados:

- Há leis que devem ser cumpridas. Quem descumpre a Constituição deveria perder o mandato.

Zuanazzi: empresas são responsáveis por segurança

O presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, que também prestou depoimento na CPI do Senado, disse que as empresas aéreas são as as responsáveis em primeiro lugar por seguir ou não as normas de segurança estabelecidas pela agência estatal. Caberia à Anac apenas fiscalizar se as normas são cumpridas.

- Homologando a empresa, estamos passando toda a responsabilidade primária, do ponto de vista de segurança, para essa empresa - disse.

Presidente da Anac, Milton Zuanazzi, em depoimento à CPi do apagão aéreo do Senado

Quando Zuanazzi fazia as declarações, o presidente da TAM, Marco Bologna, chegou à CPI. Sem demonstrar constrangimento, o diretor da Anac cumprimentou o executivo com um aperto de mão e um sorriso.

Zuanazzi demonstrou pouca animação ao comentar as medidas do Conselho Nacional de Aviação Civil (Conac) para desafogar Congonhas. Sem querer dizer se é contra ou a favor as medidas anunciadas pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, o presidente da Anac se limitou a garantir que vai cumprir a lei:

- Não vou fazer juízo de gosto ou contragosto. Cabe cumprir a lei. O Conac é que faz a política - disse.

Alvo preferencial dos ataques de senadores, Zuanazzi defendeu a construção de áreas de escape para as pistas de Congonhas e afirmou que o aeroporto paulista, palco da tragédia com o Airbus da TAM, não é exatamente um exemplo de lugar para pousos e decolagens.

- Se fôssemos fazer um aeroporto ideal, com certeza Congonhas não seria esse aeroporto - afirmou Zuanazzi.

Na berlinda, o titular do órgão regulador vem recebendo críticas diretas do Congresso. Parlamentares criticam o cunho político da indicação de Zuanazzi e cogitam aprovar uma regra legal que facilite a demissão de diretores do órgão.

Esta não é a primeira vez em ele reconhece que a pista de Congonhas opera no limite. A condição da pista é uma das hipóteses do acidente com o vôo 3054 da TAM, que vitimou 199 pessoas.

- Que precisamos de um outro aeroporto lá, não há a menor dúvida - completou.

Ele próprio já afirmou que a construção de um terceiro aeroporto é projeto apenas para 2050.

O presidente da Anac sofreu, inclusive, agressões verbais. O senador Raimundo Colombo (DEM-SC) chegou a chamá-lo de "ignorante", referindo-se a seus conhecimentos sobre o aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro

Em seu segundo depoimento do dia, Bologna voltou a dizer na CPI do Senado que o Airbus que explodiu em Congonhas teria condições de pousar em segurança mesmo com um dos reversos travados. No entanto, ele admitiu que, em virtude do acidente, é possível que a companhia passe a exigir que os dois reversos estejam ligados no pouso.

Parentes de vítimas pedem à CPI identificação de culpados

Na abertura da sessão da CPI, familiares das vítimas do acidente leram uma carta em que se diziam estarrecidos, indignados, com "profunda dor" e exigiam investigação completa sobre a tragédia, a identificação das causas e dos culpados, e conseqüente julgamento e condenação dos responsáveis.

- Fica evidente que existem problemas que exigem soluções imediatas e efetivas. A segurança não deve ficar em segundo plano - disse Luiz Fernando Moysés, que perdeu a mulher no acidente e integra da comissão de parentes das vítimas, que se reunirá com o presidente Lula.

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