Moro: “Não vejo com clareza excessos [da Lava Jato]. Pela dimensão dos crimes em investigação e pelo caráter sistemático deles, não vejo algo que possa ser descrito como excesso”.| Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

O juiz Sergio Moro disse, em entrevista publicada nesta sexta-feira (10) pelo jornal Valor Econômico , que “realmente” acha que “há risco de retrocesso” quanto à herança deixada pela Operação Lava Jato. Moro se refere à tentativa de anistia geral a crimes ligados a doações eleitorais, encampada pela Câmara dos Deputados.

CARREGANDO :)

Saiba mais sobre quem é Sergio Moro

Sobre a Lava Jato, que completa três anos na semana que vem, Moro disse que “mais do que uma investigação criminal, transformou-se em um processo de amadurecimento institucional, no qual há crimes praticados por pessoas poderosas e em que se mudou de um regime de impunidade para outro de responsabilidade [pela prática de atos ilícitos]”.

Publicidade

Regra ou exceção?

Para o juiz, “algo mudou” no país após o processo do mensalão, mas Moro salienta que “é difícil prever o futuro. E se isso vai passar a ser uma regra [o regime de responsabilidade] ou se foi uma exceção”.

Moro não quis detalhar o que ele acha que mudou no país. “É, porque eu realmente acho que há risco de retrocesso. Fatos como aquela tentativa de anistia”, segundo ele, não apenas à anistia ao caixa dois, mas sim à tentativa de anistia geral que a Câmara dos Deputados encampou. “Se fosse ao caixa dois seria algo menos preocupante. Digo a tentativa de anistia geral. E ainda tem uma incógnita, porque há muitas investigações em andamento. Teremos de ver qual será o destino delas”.

Sobre o legado da Lava Jato, o juiz afirmou que o “trabalho que foi feito até agora é difícil de ser perdido”, graças a todas as condenações e dinheiro público recuperado. “Acho que a grande questão é até onde vai, entendeu? Para onde se pode ir”, salientou o juiz, dizendo achar importante o desdobramento da operação para outros estados.

Ele disse acreditar que o “próprio crescimento institucional” possibilitou à Lava Jato chegar onde chegou e disse não ter ideia de quando pode terminar. “Normalmente o tempo de duração de uma ação penal é de seis meses a um ano, aproximadamente. Até o julgamento. Mas tem investigações em andamento, e a conclusão delas é mais imprevisível.”

Publicidade

Sem excessos

Moro também comentou, na entrevista, sobre as acusações de que houve excessos na Lava Jato. “Não vejo com clareza excessos. Pela dimensão dos crimes em investigação e pelo caráter sistemático deles, não vejo algo que possa ser descrito como excesso”.

O juiz não quis comentar a escolha do ministro Luiz Edson Fachin para a relatoria da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).