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Vereador sabia da denúncia

As denúncias de uso de autorizações de medicamentos e exames com objetivos políticos é de conhecimento de vereadores de Matinhos. De acordo com o vereador Júnior Castro, o assunto já foi debatido em plenário e "todos sabem dessa prática corriqueira".

Castro, que faz oposição à atual administração municipal, não soube informar, no entanto, porquê as denúncias não foram averiguadas nem pelos vereadores da cidade nem encaminhadas ao Ministério Público Estadual (MP) para que houvesse qualquer tipo de investigação. "Todo mundo está acostumado com a forma ditatorial do prefeito e os moradores de Matinhos têm medo de mostrar a cara nesses assuntos", justificou o parlamentar.

O empresário Ronaldo Gomes Temponi, sócio-gerente do laboratório Labomar, que realiza exames para a prefeitura através de contratos de terceirização, disse desconhecer as denúncias. "Eu sei que o prefeito e o secretário me pagam, em algumas ocasiões, por exames que não são atendidos pelo SUS. Mas pelos exames que são pagos pela verba de convênio, não precisa de liberação aqui."

A promotora de Justiça Fernanda Maria Campanha Motta Ribas, da comarca de Matinhos, afirmou que desconhece a denúncia. Ela informou que iria investigar e se houver comprovação dos fatos, poderá oferecer denúncia por improbidade administrativa. Santos já responde há várias ações, que estão em tramitação na Justiça.

Moradores do município de Matinhos, no litoral do estado, estariam sendo orientados a procurar o gabinete do prefeito para conseguir a liberação de exames laboratoriais e medicamentos pagos com verbas do Sistema Único de Saúde (SUS) e solicitados por médicos que trabalham no hospital municipal Nossa Senhora dos Navegantes. O próprio prefeito da cidade, Francisco Carlim dos Santos, estaria recebendo os cidadãos em seu gabinete para autorizar a "liberação".

O prefeito negou a acusação, disse que a autorização é dada pela secretaria municipal de Saúde, localizada no mesmo prédio do hospital, e desafiou alguém a mostrar uma autorização dele para os exames. "Pago R$ 1 milhão se alguém encontrar algum pedido de exame ou de remédio que eu tenha assinado. O que faço sempre é pagar com dinheiro do meu bolso exames que não estão na cota do SUS ou que não possam ser realizados na rede pública."

Vários moradores da cidade afirmam que foram encaminhados ao prefeito para que tivessem os exames liberados. A maioria, no entanto, prefere não divulgar seus nomes, com receio de retaliações. "A cidade é pequena e o prefeito pode nos perseguir", disse um dos denunciantes.

Idosos

Na tarde da última quarta-feira, no entanto, a Gazeta do Povo presenciou moradores idosos na ante-sala do gabinete do prefeito esperando a liberação dos exames. Sem saber da presença do jornalista no local, a secretária que atendia no setor informou ao aposentado Lizandro Ferreira de Souza, de 68 anos, que ele teria que aguardar a presença de Francisco Carlim para a liberação. A informação foi passada a Souza no momento em que ele reclamou pelo período de quase uma hora de espera no local. "Afinal, quem tem que assinar esta liberação?", perguntou o aposentado. "É o prefeito", disse a secretária, que não teve seu nome identificado. "Somente ele?", voltou a perguntar Souza. "Só ele. Tem que esperar um pouco que ele já está chegando", respondeu a servidora.

Quatro pessoas, todas idosas, estavam com pedidos de exames e remédios no local. Somente Souza se dispôs a falar com a reportagem da Gazeta do Povo. Ele informou que sua esposa, Carmem Cordeiro, de 53 anos, havia tido uma consultada no período da manhã no hospital e que o médico havia solicitado alguns exames. De acordo com ele, funcionários do hospital teriam orientado o aposentado a procurar o chefe de gabinete, Omar Alves Saikali. No gabinete, Souza foi informado que quem assinaria era o prefeito.

Ao ser questionada sobre o procedimento, a secretária do gabinete não soube explicar sobre as razões da necessidade de assinatura do prefeito e disse que quem informaria seria o chefe de gabinete. Na presença do jornalista, Saikali informou que não poderia dizer nada sobre o assunto. Dez minutos após saber da presença da imprensa no local, todos os portadores dos pedidos de exames e remédios foram atendidos e tiveram "liberadas"as solicitações médicas.

"Levei o exame ao laboratório e me perguntaram porque não estava carimbado. Mas outra funcionária disse que havia um telefonema da prefeitura liberando", contou o aposentado Lizandro Souza. A mulher dele, Carmem Cordeiro, se mostrou indignada com a situação. "Será que ele (o prefeito) não tem outras obrigações para cumprir ?"

O prefeito disse que desconhece a orientação de funcionários do hospital. "Alguém deve estar enganado, pois a autorização teria que ser da secretaria de Saúde do município". Informado sobre as declarações da secretária de gabinete a um aposentado, o Francisco Carlim apenas preferiu alegar que não acreditava na história.

Para dar essas respostas, o prefeito indicou o secretário de Saúde, Jeferson de Azevedo, que acumula o cargo de diretor do hospital. Azevedo informou que desconhecia qualquer orientação para a procura do gabinete do prefeito. Ele disse que o laboratório está localizado no próprio hospital e que os exames seriam realizados no local. "O que sei é que algumas pessoas procuram diretamente o prefeito para pedir auxílio para pagamento de exames mais avançados."

Carlim argumentou ainda que a secretaria de Saúde de Matinhos faz uma triagem no atendimento de exames e fornecimento de remédios. "Tem muita gente de Pontal do Paraná e Paranaguá que vem até aqui para fazer os exames, já que o nosso é o único hospital municipal do litoral."

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