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sucessão presidencial

Lula ensaia antecipar candidatura. Mas o que ele quer com isso?

Setores do PT incentivam o lançamento antecipado do ex-presidente à sucessão de Temer e veem nisso uma estratégia de reposicionamento da sigla. Mas há quem diga que isso é apenas uma forma de evitar que ele seja condenado

Lula em discurso para a miltância do PT: ele foi chamado por aliados de “próximo presidente da República”. | Paulo Pinto/Agência PT
Lula em discurso para a miltância do PT: ele foi chamado por aliados de “próximo presidente da República”. (Foto: Paulo Pinto/Agência PT)

A um ano e nove meses da eleição de 2018 e embalado por pesquisas que hoje o colocam na dianteira da corrida presidencial, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dá cada vez mais sinais de que quer voltar ao Planalto. Tem participado de mais eventos públicos. Criticado o atual governo. E recentemente admitiu que pode disputar a Presidência “se for necessário”. A caminhada para Brasília, porém, passa necessariamente pela Justiça: ele terá de evitar uma condenação em segunda instância até o ano que vem.

A ala majoritária do PT incentiva a antecipação da candidatura, ainda que informal, e vê nela uma estratégia de sobrevivência e reposicionamento da legenda: resgatar desde já o legado de Lula na Presidência para limpar a imagem do partido e consolidar a sigla como uma opção às forças de sustentação do governo Temer. Mas há quem veja nessa movimentação um objetivo bem mais pragmático de Lula – criar um clima de pressão sobre a Justiça para que ele não seja condenado nos processos a que responde.

Veja a evolução dos números de Lula nas pesquisas eleitorais

Blindagem

“[A possível antecipação da candidatura de Lula] é uma defesa política contra os problemas jurídicos que ele enfrenta. É uma tentativa de blindá-lo contra as investigações em andamento”, diz o cientista político Fernando Azevedo, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

Lula responde na Justiça Federal a cinco processos referentes a investigações de corrupção – veja todas as acusações. Nenhum dos casos foi julgado até agora. Mas, se até o ano que vem Lula for condenado em primeira e segunda instância em alguma dessas ações, ele se torna ficha suja e não poderá concorrer na eleição.

Para Azevedo, com o lançamento antecipado da candidatura, qualquer condenação poderá ser interpretada como uma tentativa de tirá-lo da disputa presidencial – uma “perseguição política” no discurso do PT. Apesar das possíveis “segundas intenções” da antecipação da candidatura, Azevedo diz que Lula atualmente é único nome viável da esquerda para 2018.

O anticonservador

Petistas críticos à postura da direção partido em relação aos casos de corrupção também admitem reservadamente que as movimentações de Lula por sua candidatura até possam ser uma estratégia de defesa pessoal dele. Mas também dizem que a esquerda brasileira não têm alternativas viáveis no atual momento de crescimento do conservadorismo e do que consideram ser o desmonte das políticas sociais pelo governo Temer. Nesse cenário, dizem, Lula é alguém capaz de colocar em discussão outro projeto para o país – embora o lançamento de sua candidatura vá bloquear a construção de novas lideranças nacionais e reforçar o poder interno do grupo que “sujou” a reputação do PT.

De qualquer modo, a estratégia para ter Lula como candidato passa necessariamente por evitar que ele seja condenado. O diretor do Instituto Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, diz que, se isso ocorrer, o ex-presidente passa a ser um candidato forte. Segundo Hidalgo, embora as atuais pesquisas mostrem que Lula lidera as intenções de voto no primeiro turno (25%, segundo o último Datafolha), ele teria extrema dificuldade para vencer no segundo turno porque sua rejeição é alta (44%).

“O Lula vai ter de provar que é inocente para reduzir a rejeição. Se conseguir, será muito forte em 2018”, diz o diretor do instituto. De acordo com Hidalgo, eventualmente ele não precisará nem mesmo ser absolvido. Caso apenas consiga adiar os julgamentos e oficialize a candidatura na Justiça Eleitoral, já terá obtido uma vitória. “Se o Lula for candidato, vai usar isso a favor dele na campanha. Ele vai dizer: ‘Viram? Disseram que eu era culpado, mas eu sou candidato’.”

Precipitação

Cientista político da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Adriano Oliveira diz que qualquer avaliação sobre a sucessão presidencial neste momento é precipitada. “A gente não sabe o que vai acontecer com a Lava Jato até 2018”, diz. Oliveira lembra que a maioria dos pré-candidatos, assim como Lula, foi citada nas investigações. O cientista político também vê riscos se Lula antecipar a corrida eleitoral: ele vai se expor e chamará a atenção para as acusações que pesam contra ele.

Murilo Hidalgo inclusive avalia que o atual cenário é muito mais favorável para um candidato de fora da política: “Alguém como o [João] Doria [prefeito de São Paulo], como o perfil dele”. Doria é empresário e nunca havia disputado uma eleição.

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