Luiz Felipe Lampreia foi um dos mais importantes ministros do governo Fernando Henrique.| Foto: Arquivo/Gazeta do Povo

O sociólogo e diplomata Luiz Felipe Lampreia morreu, aos 74 anos, nesta terça-feira (2), após uma parada cardíaca durante a manhã, um mês depois de ter alta do Hospital Samaritano, no Rio, conforme informou o blog Lauro Jardim. Ele havia sido internado para tratar um tumor de pulmão.

CARREGANDO :)

A objetividade e o pragmatismo sempre foram marcantes no embaixador. Quando era ministro das Relações Exteriores no governo Fernando Henrique Cardoso, Lampreia não gostava de conversas longas. Costumava resolver tudo em menos de meia hora, enquanto ouvia cantos gregorianos em seu gabinete.

Nascido no Rio de Janeiro em 19 de outubro de 1941, o diplomata ingressou no Instituto Rio Branco em 1962. Serviu em Portugal, Paramaribo, no Suriname, e Genebra, na Suíça – como representante do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC), até ser convidado por Fernando Henrique a assumir a pasta das Relações Exteriores, na qual permaneceu de 1995 a 2001.

Publicidade

Crítico ao governo do PT, Lampreia escreveu artigos contra a entrada da Venezuela no Mercosul e os passos dados pelo seu sucessor, Celso Amorim, no Itamaraty. Um deles foi o fim das negociações para a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

Apesar das divergências, Lampreia sempre teve o Estado como prioridade. Assim, há cerca de um mês, assinou, junto com mais 40 embaixadores aposentados de todas as tendências políticas, um manifesto em favor do governo brasileiro no impasse com Israel. As autoridades israelenses tornaram público o nome do líder de assentamentos em territórios palestinos, Dani Dayan, para ser embaixador em Brasília, antes mesmo da concessão do agrément, ou seja, da autorização do Brasil.

Mesmo aposentado, Lampreia nunca parou. Mantinha um blog no GLOBO, escrevia artigos e participava de debates e entrevistas sobre política externa com frequência. Era vinculado ao Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e presidente do Conselho de Relações Internacionais da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).

Publicidade

Bastante respeitado entre colegas e representantes da classe produtiva brasileira, o diplomata também fazia parte de conselhos de instituições e empresas nacionais e estrangeiras. São exemplos a Partex Oil and Gas, a Souza Cruz, a Coca-Cola e o banco português Caixa Geral de Depósitos.

Lamento

O ex-ministro de Relações Exteriores do governo Lula, Celso Amorim, lamentou a morte do também ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia. Amorim divulgou uma nota de pesar:

“Com tristeza tomei conhecimento do falecimento do Ministro Luiz Felipe Lampreia, a quem sempre tive em alta consideração como profissional e colega. Lampreia e eu mantínhamos relação de respeito e lealdade recíprocos, nas várias posições que ocupamos, independentemente de nossas eventuais diferenças políticas. Recentemente, tive o prazer de ver seu nome em um abaixo assinado, que eu só viria a firmar mais tarde, sobre a questão do pedido de agrément do embaixador israelense. Sucedi Luiz Felipe Lampreia como embaixador em Genebra (inclusive no sistema GATT/OMC), secretário-geral e ministro das relações exteriores (e vice-versa). Posso dar testemunho da elevada reputação de que gozava entre seus pares de outros países”.