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Vista do prédio da Assembleia do Paraná, com servidores da Casa à frente: pela Constituição, comissionados deveriam ser exceção. Mas no Legislativo estadual são 1.308 contra apenas 454 funcionários efetivos | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
Vista do prédio da Assembleia do Paraná, com servidores da Casa à frente: pela Constituição, comissionados deveriam ser exceção. Mas no Legislativo estadual são 1.308 contra apenas 454 funcionários efetivos| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Indicação política

Confira o número de servidores comissionados de alguns órgãos públicos:

Governo federal - 20 mil*

Governo do Paraná - 3.931**

Prefeitura de Curitiba - 565

Assembleia do Paraná - 1.308

* Dados aproximados.

** Números de outubro.

Desvirtuados, cargos viraram foco de corrupção no Paraná

Os cargos de comissão são necessários para que o eleito indique pessoas de confiança que vão impor à máquina pública a visão política de quem ga­­­nhou a eleição. O problema, se­­­gundo o cientista político Adria­­­no Codato, da Univer­­­sidade Federal do Paraná, é o desvirtuamento da ideia original. Esse mau uso do cargo se caracteriza pela utilização dele para arrecadar recursos públicos para fins privados, pelos privilégios dos comissionados em relação aos servidores co­­muns e pela quantidade exagerada desse tipo de cargo na administração pública.

"Esses cargos acabam servindo para arrecadar recursos para os partidos ou para o sujeito que o nomeia. É comum haver políticos que ficam com uma parcela do salário do comissionado, por acerto. É preciso consertar essas distorções, porque o cargo de comissão é necessário", explica Codato.

Segundo o cientista político, uma prova disso são os recentes acontecimentos envolvendo a Assembleia Legislativa do Paraná, que vieram à tona na série de reportagens Diários Secretos, da Gazeta do Povo e da RPC TV. Funcionários comissionados não trabalhavam e ainda assim recebiam salário (o que caracteriza desvio de dinheiro público) ou eram laranjas de um esquema de corrupção.

O que chama a atenção no caso da Assembleia é o exagerado número de comissionados em relação à quantidade de servidores efetivos. Na última vez em que a lista de servidores da Casa foi divulgada, ainda neste ano, o número de funcionários do Legislativo era 1.762, sendo 1.308 comissionados e apenas 454 efetivos.

A Associação Nacional do Ministério Público de Contas (Ampcon) lançou neste fim de ano uma campanha para discutir formas de fiscalizar, em todo o país, os cargos de comissão, cujo titular é indicado politicamente e não presta concurso público. No Paraná, a fiscalização começa em 2011 pelos municípios.

A iniciativa de fiscalizar o uso dos cargos comissionados do país é de procuradores que atuam em todos os Tribunais de Contas (TCs) do Brasil. O objetivo da campanha será verificar se a ocupação dos cargos está sendo feita de acordo com o que prevê a Constituição Federal. Segundo o texto constitucional, os cargos comissionados devem ser exceção no serviço público, e não regra. Além disso, só podem ser ocupados por pessoas que desempenham as funções de assessoria, direção e chefia.

No entanto, costuma ser comum em vários órgãos a profusão de cargos comissionados para abrigar aliados de políticos eleitos. Muitos nem sequer têm qualificação para exercer as funções definidas na Constituição e, na prática, acabam cumprindo atividades que só deveriam ser executadas por servidores concursados.

Profissionalização

"Essa campanha é a favor da profissionalização do serviço público. Alguns cargos acabam virando recompensa eleitoral, e isso é antidemocrático. Os comissionados têm que ser poucos, bons e adequados ao cargo", explica o procurador-geral do Ministério Público de Contas junto ao TC do Paraná, Laerzio Chiesorin Júnior.

Segundo ele, no Paraná a fiscalização do uso dos cargos terá como ponto de partida os municípios. Os procuradores, explica ele, vão se dividir por regiões do estado e verificar se as prefeituras mantêm comissionados irregularmente. O administrador do município onde for verificada alguma irregularidade terá um prazo de seis meses para se ajustar à Consti­­tuição.

"Em 120 dias [quatro meses], o responsável terá que mostrar que já tomou as providências necessárias. O prefeito encaminha à Câmara um projeto para transformar os comissionados em efetivos, quando necessário, e para realizar concurso público [para preencher as vagas]", afirma Chiesorin Júnior. Caso o prazo não seja cumprido, o TC poderá aplicar multa, conforme prevê o artigo 87 da Lei Complementar Estadual n.º 113, de 2005.

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Interatividade

O Ministério Público conseguirá moralizar o uso dos cargos comissionados? Por quê?

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