
Macapá - O Ministério Público Federal (MPF) no Amapá encerrou ontem o inquérito sobre o esquema de corrupção no Ministério do Turismo. Segundo o procurador da República Celso Leal, a cúpula da pasta será denunciada nos próximos dias e a suspeita sobre a participação da deputada Fátima Pelaes (PMDB-AP) será enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo o inquérito, a cúpula do ministério teve participação no desvio de R$ 3 milhões dos R$ 4,4 milhões liberados a partir de emenda da deputada.
O nome dela aparece em pelo menos quatro depoimentos como destinatária do dinheiro da pasta. Ela tem foro privilegiado no STF e somente a Procuradoria-Geral da República, em Brasília, tem prerrogativa para investigá-la na área criminal
Com o encerramento do inquérito nesta sexta-feira, o MPF consegue impedir que todo o inquérito seja enviado ao STF, o que prejudicaria a denúncia sobre os demais envolvidos. O Supremo e a PGR vão receber todos os autos, mas apenas para analisar o envolvimento de Fátima Pelaes.
De acordo com os relatos presentes no inquérito da polícia, Fátima Pelaes teria montado um conluio no Amapá para levar recursos públicos para ela própria e para a campanha à sua reeleição no ano passado. A deputada é autora das emendas parlamentares que favoreceram o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável (Ibrasi), entidade pivô do esquema investigado pela PF. A operação Voucher, desencadeada pela polícia na terça-feira, prendeu 35 pessoas, incluindo os quatro investigados que prestaram os depoimentos que comprometem a deputada.
Um dos depoimentos é de Merian Guedes de Oliveira, que aparece como secretária da Conectur, uma cooperativa fantasma do Amapá que, segundo a investigação, foi subcontratada pelo Ibrasi por R$ 250 mil e fez um convênio com o próprio Ministério do Turismo em 2009 no valor de R$ 2,5 milhões. Merian disse que foi avisada pelo patrão e dono da Conectur, Wladimir Furtado, que a deputada Fátima Pelaes ficaria com os recursos do Turismo destinado ao Amapá.
Furtado foi preso na operação da PF na terça-feira. Em seu depoimento, Wladimir Furtado se identificou como "turismólogo" e afirmou "nunca entregou nenhum dinheiro para Fátima Pelaes".
No entanto, um sobrinho de Furtado, David Lorrann Silva Teixeira, deu uma versão diferente. Ele, que é tesoureiro da Conectur, declarou que "seu tio falava que ganharia 10% do total e a deputada federal Fátima Pelaes ficaria com aproximadamente R$ 500 mil do total".
Outro depoimento que menciona o nome da deputada foi dado por Errolflynn de Souza Paixão, que já foi sócio da Conectur. Segundo ele, "Wladimir chegou a dizer que o dinheiro seria devolvido à deputada". Outra depoente, Hellen Luana Barbosa da Silva, afirmou aos policiais que, na sua opinião, "a deputada Fátima Pelaes indicou o Ibrasi para receber parte do dinheiro para financiar sua campanha à reeleição".



