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"É importante também que nossos deputados se conscientizem que os tempos são outros." | André Lima / Gazeta do Povo
"É importante também que nossos deputados se conscientizem que os tempos são outros."| Foto: André Lima / Gazeta do Povo

Embora não diga estar otimista com o novo comando da Assem­­bleia Legislativa, o presidente da seção Paraná da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR), José Lúcio Glomb, acredita que a Casa parece estar trilhando um caminho para a mudança. Para ele, ainda é preciso tempo para avaliar se essa tendência será mantida. "Seria conveniente darmos um tempo um pouco mais extenso para ver o conjunto da obra", diz Glomb sobre as medidas anunciadas pelo presidente da Assembleia, Valdir Rossoni (PSDB). Para Glomb, um dos líderes do movimento O Paraná que Queremos, que pede transparência no poder público, é preciso dar um voto de confiança para o novo presidente da Casa.

É possível falar em vida nova na Assembleia sendo que o novo presidente da Casa, Valdir Rossoni, integrou a Mesa Diretora em legislaturas passadas e se manteve em silêncio sobre reivindicações do movimento O Paraná que Queremos no ano passado?

Contra o deputado Rossoni realmente pesa o silêncio dele durante esse período todo e o fato de ter pertencido à Mesa Diretora. No entanto, nós não podemos deixar de admitir que as atitudes que ele tomou agora foram corajosas. Se ele está querendo mudar, e entendeu que aquele passado realmente é um passado que não deve continuar, então deve ter o nosso apoio. Vamos continuar vendo com atenção isso e observar até que ponto essa intenção de mudança se mostra um movimento forte e sustentável.

Rossoni fez diversas promessas quando assumiu a presidência, mas na última semana recuou em algumas delas. Dá para continuar acreditando que as coisas realmente vão mudar?

O presidente da Assembleia tomou algumas iniciativas muito importantes. No entanto, vamos aguardar para ver até onde vão as medidas efetivas que o presidente está tomando. Muitas são de muita coragem e ousadia, enquanto outras parecem ser o prosseguimento de algumas ações do passado. Seria conveniente darmos um tempo um pouco mais extenso para ver o conjunto da obra. Algumas ações tomadas até agora foram importantes; outras poderiam ser repensadas.

Quais medidas foram importantes e quais deveriam ser repensadas?

Noto como importante a redução de cargos comissionados. Claro que não foi na extensão que a gente gostaria. Mas ainda assim houve uma diminuição. A demissão de pessoas que não estavam regularmente na Assembleia e que recebiam altos salários também foi importante. Ainda ressalto a importância da contratação de uma auditoria para a organização da Assembleia daqui para a frente [serviço de consultoria que será prestado pela FGV]. Em relação à auditoria para o passado, acredito que o Tribunal de Contas [TC] e o Ministério Público [MP] podem fazer esse trabalho. Naturalmente, para planejar o futuro, a FGV terá que saber como eram as práticas administrativas no passado. Mas não se trata de uma auditoria no sentido de acessar as irregularidades.

O senhor não considera uma quebra de promessa de Rossoni quando ele diz que não haverá mais uma auditoria [investigação dos erros do passado] da FGV e sim uma consultoria [proposição de medidas para o futuro]?

A FGV, ao que me parece, nem faz esse tipo de trabalho [de auditoria]. Ela presta uma consultoria de organização. Se Rossoni quiser fazer uma auditoria do passado, além do MP e do TC, poderá se socorrer com uma empresa privada. Eu gostaria que o MP e o TC atuassem firmemente nisso e que se socorressem, se entenderem ser necessário, de uma empresa autônoma e independente de auditoria.

Como o senhor vê o caso dos grampos e da licitação de bloqueadores de celulares que ocorreu na Assembleia [em 2010]?

O presidente deveria ir a fundo nessa questão. O grampo é inadmissível e quem pretende esse tipo de comportamento não tem boa intenção. O presidente deve solicitar uma investigação profunda para investigar os responsáveis para que eles sejam punidos.

Sobre a nova lei [aprovada na quarta-feira] que permite o pagamento de gratificações a servidores, o senhor a vê como uma quebra de promessa?

Essa nova lei me parece realmente ir contra o caminho inicial que estava se procedendo. É importante fazer uma ampla e forte reformulação na Assembleia com a contratação de mais pessoas por concurso para diminuir ao máximo os cargos de confiança.

Rossoni estaria tentando agradar a dois reis? Ao mesmo tempo que busca se sair bem com a opinião pública, ele também estaria tentando não bater de frente com um grupo mais antigo da Assembleia?

A reformulação da Assembleia exige muita coragem. Pessoas que permaneceram por muito tempo na Casa, como o próprio Rossoni, têm ligações com os deputados que lá estão. Mas a impressão que me deu é que o presidente tem a intenção de fazer uma efetiva reformulação da Assembleia. Não conseguirá isso se tentar agradar a todos. Certamente ele vai ter de tomar medidas antipáticas. Mas somente dessa maneira que ele conseguirá resultados concretos. O certo é que as medidas que serão tomadas devem agradar à maioria, que é a população.

Quais atitudes o senhor considera que demonstrariam essa intenção da nova direção de realizar mudanças?

Seria muito importante fazer uma grande análise de todas as pessoas que trabalham lá. Verificar se os cargos que ocupam são regulares ou não. Se as pessoas estão efetivadas de acordo com a lei – e afastar aqueles que estejam fora. Mas é importante também que nossos deputados se conscientizem que os tempos são outros. As pessoas não suportam mais benefícios indevidos – está aí o caso das aposentadorias dos ex-governadores para provar. O presidente da Assembleia tem a missão importante de virar o jogo.

O ex-presidente da Assembleia Nelson Justus foi eleito para presidir a CCJ [Comissão de Constituição e Justiça da Casa]. Isso demonstra que ele ainda tem muita influência?

Penso que seria mais conveniente colocar outro nome na presidência da CCJ. Os deputados não pensaram dessa maneira e prestigiaram uma pessoa que sofre de um amplo desgaste na opinião pública.

O senhor está esperançoso?

Eu diria o seguinte: não estou otimista, mas também não estou pessimista. Diante dos acontecimentos, eu vejo que há um caminho que pode ser seguido. Se isso persistir – e o tempo dirá –, nós teremos já um bom começo para uma mudança de clima; para que tenhamos aqui no Paraná uma administração eficiente, voltada aos interesses do cidadão. É isso que nós todos esperamos.

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