O Departamento de Justiça dos Estados Unidos investigou, pela primeira vez, o caminho das três mil armas oriundas dos EUA e apreendidas com bandidos no Brasil entre os anos de 1998 e 2003. Segundo o estudo, 80% das armas vindas dos EUA para o Brasil são de uso restrito das Forças Armadas. Além disso, parte delas é de fabricação norte-americana. O restante foi importado da Europa, de Israel e também do Brasil, por revendedoras americanas.
De acordo com a investigação, as armas foram vendidas legalmente nas lojas dos Estados Unidos, contrabandeadas para Venezuela, Argentina e, principalmente, Paraguai, e terminaram o "percurso" nas mãos de bandidos brasileiros.
Pela investigação, quatro em cada dez compradores americanos eram brasileiros residentes naquele país, sendo que a maioria deles residente no estado da Flórida. "Flórida é o Paraguai das Américas. Muita facilidade de comprar armas e de lá mandar", disse Rubem César Fernandes, da ONG Viva Rio.
Uso restrito
Segundo a polícia norte-americana, das três mil armas apreendidas, 80% são de uso restrito das Forças Armadas ou da polícia: fuzis, metralhadoras e pistolas, pegas com os bandidos, mas que fazem parte do arsenal da própria Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro e da Polícia Militar do Estado.
Apesar dessa constatação por parte do Departamento de Justiça dos EUA, o secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, negou descontrole com a fiscalização das armas. "Nós temos o controle das armas que estão sob nossa guarda e estamos fazendo mensalmente um levantamento", afirmou.
O relatório conclui que só haverá controle das armas no Brasil se os Estados Unidos e os países vizinhos da América do Sul ajudarem. Mas, antes, o Brasil tem que "fazer o dever de casa". Parte do Estatuto do Desarmamento, por exemplo, ainda não saiu do papel, mesmo tendo sido aprovado há mais de três anos pelo Congresso Nacional.
Cadastro
Segundo o presidente da Subcomissão de Controle do Tráfico de Armas, deputado Raul Jungmann (PPS-PE), o problema é que os estados sonegam informações para o cadastro do Sistema Nacional de Armas. Ele defende a aprovação de uma lei que determina que o Estado que sonegar informação não receberá dinheiro Federal para segurança.
"No caso das armas do Brasil o que existe é desinteligência, falta de cooperação, desarticulação. O crime organizado vai, portanto, continuar ganhando esse jogo de goleada, se nós não mudarmos isso", afirma Jungmann.
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