• Carregando...
Para Franklin e Jussara, é preciso avaliar melhor os impactos dos empreendimentos na vizinhança | Antonio Costa/Gazeta do Povo
Para Franklin e Jussara, é preciso avaliar melhor os impactos dos empreendimentos na vizinhança| Foto: Antonio Costa/Gazeta do Povo
  • Veja quais foram os principais projetos urbanísticos da cidade

Em algumas tampas de bueiros de Curitiba que resistiram à ação do tempo e de assaltos, está estampada aquela que foi uma das primeiras marcas industriais da cidade. Os produtos Marumby, fabricados pela antiga Fundição Mueller a partir de 1878, foram muito utilizados na urbanização de Curitiba. Além das tampas, a fábrica foi a fornecedora municipal de postes e bancos de praças por várias décadas. Mas foi com o seu fechamento, por volta de 1970, que ela interferiu pra valer no visual da cidade. No terreno da antiga fábrica, mantendo-se a fachada original, foi erguido o primeiro shopping do Paraná, o Mueller, o precursor de uma série de empreendimentos que exigiram muitas modificações viárias em espaços nobres curitibanos.

Na Cândido de Abreu daquela época – início da década de 80 – qualquer nova construção deveria ser feita com um recuo de 10 metros da rua. Isso inviabilizaria o projeto pré-concebido para o shopping. Optou-se, então, por manter intacto o lado exterior da antiga metalúrgica, o que garantiu aos empreendedores do Shopping Mueller a possibilidade de construir no alinhamento da rua.

Desde então predomina em Curitiba, assim como em várias cidades brasileiras, um jogo de troca-troca, pelo qual grandes empreendedores conseguem, quase que invariavelmente, erguer prédios de qualquer tamanho em qualquer bairro. Empresários, pesquisadores e governo concordam que toda obra gera impactos – bons e ruins – e cabe ao poder público mensurar todos os efeitos e exigir medidas compensatórias e mitigatórias para liberar as construções.

Mecanismos

Os governantes têm em mãos mecanismos para controlar esse processo, mas a sociedade pode ter ainda mais ferramentas. Na Universidade Positivo (UP), professores e alunos dos cursos de Direito e Arquitetura e Urbanismo juntaram forças e conhecimentos para desenvolver o projeto de um Estudo de Impacto da Vizinhança (EIV), mais completo do que os que são atualmente utilizados. "Para o estudo ser bem aplicado, precisamos ter audiências públicas. Temos muito a ganhar se participarmos das discussões e sabermos o que de bom e de ruim uma obra vai causar. Os efeitos mais visíveis são os viários, mas os impactos vão muito além disso", diz a professora Jussara Maria Silva, de Arquitetura.

Leandro Franklin, professor de Direito da UP, também destaca a importância das audiências públicas, mas aproveita para atacar o modelo vigente: "Até onde a gente vai mudar a nossa cidade de acordo com interesses privados?", questiona. Para ele, os impactos sociais não são levados em conta quando o poder público municipal flexibiliza algumas normas para favorecer empreendimentos. Como exemplo, ele cita as mudanças na região do Ecoville.

De descampado, o Campo Comprido virou uma linha de produção de edifícios; tanta gente com tanto dinheiro despertou o pronto interesse de empresários, os quais tiveram a permissão para erguer o ParkShopping Barigüi em uma área de preservação permanente. O problema todo, diz o professor, é que a cidade foi projetada por um pequeno grupo de tecnocratas. "As políticas públicas não podem ser feitas de forma isolada. Quando pensamos em planejamento e desenvolvimento, temos que abordar aspectos urbanísticos, sociais e econômicos. Temos que garantir o acesso das pessoas a uma paisagem, aos direitos sociais como moradia e saúde e também ao trabalho digno e à renda."

É ruim mais é bom

Melhorias viárias e algumas facilidades podem ser concedidas pelos governos de acordo com o grau de vantagem que o novo espaço proporcionará, como vagas de emprego, por exemplo. Na maioria das vezes, são os próprios empreendedores que arcam com os custos das obras viárias. O Shopping Palladium, inaugurado em maio deste ano, providenciou a passagem de nível sob a Avenida Kennedy e a nova pista da avenida, a qual deve ser liberada em breve. Já desembolsou R$ 7 milhões, mas para quem passa de carro ou de ônibus pela região, isso pouco importa. O trânsito ficou muito ruim.

De fora, é o caos, mas dentro, é tudo o que os curitibanos querem. São 15 shoppings na cidade, o mesmo número de Belo Horizonte, que tem 700 mil pessoas a mais. "O shopping é muito útil pra todo mundo, principalmente para nós, que moramos perto. E se ali não virasse um shopping, ia ser o quê?", diz Carlos Alberto de Sousa e Silva, síndico e morador de um edifício ao lado do Mueller há 30 anos. Fica a pergunta.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]