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Recesso teve duas vezes mais votações

Fevereiro pode ter menos da metade das sessões realizadas em janeiro pela Assembléia Legislativa. No mês passado, época de recesso parlamentar, ocorreram seis dias de votação, graças às sessões extraordinárias convocadas pelo então presidente Hermas Brandão (PSDB) entre os dias 15 e 30. Se as comissões estiverem compostas até a próxima segunda-feira, fevereiro terá no máximo três dias de votações.

A nova legislatura começou no último dia 1.º, com a posse dos 54 deputados e eleição da nova mesa executiva. No dia 15, a dois dias do sábado de carnaval, houve a cerimônia solene de abertura dos trabalhos, com almoço e discurso oficial do governador Roberto Requião (PMDB). Nos dois dias não foram discutidos nem votados projetos.

A escassez de trabalho, porém, não afetará o bolso dos parlamentares. Os cinco dias de presença na Assembléia em fevereiro serão suficientes para garantir os R$ 67.040,00 mensais de cada gabinete. O valor representa a soma do salário, verba administrativa e despesas com pessoal de cada parlamentar.

No mês passado, quando deveriam estar de folga, os deputados da velha legislatura receberam mais R$ 19 mil em jetons. A verba é uma espécie de "abono" correspondente à soma de dois salários, pago pela Assembléia para convocação e desconvocação de cada deputado. O pagamento está previsto por lei, mas os parlamentares não recebem automaticamente. Entre os 54 deputados paranaenses, apenas Tadeu Veneri (PT) não recolheu os seus cheques.

O cidadão desavisado que foi à Assembléia Legislativa ou à Câmara Municipal de Curitiba na Quarta-Feira de Cinzas deu com o nariz na porta. Ao contrário de quase todos os órgãos do governo do estado e da prefeitura, ambas estiveram fechadas. E não foram apenas os vereadores e deputados estaduais que tiveram o dia para recompor as energias gastas no carnaval. Com os portões trancados, foi cancelado o expediente para assessores parlamentares e funcionários administrativos.

A folga ocorreu em uma data que não é feriado oficial, mas nem por isso significará economia para o bolso dos contribuintes. Ou seja, o descanso será remunerado. "Na época de eleições, todo o candidato trabalha sábado, domingo e dia santo pedindo voto. Depois que o cara se elege, aí é outra história", desabafa o comerciante Luiz Antônio Venâncio.

Ele é dono de uma loja que vende máquinas de costura na Rua Barão do Rio Branco, a 30 metros da Câmara de Curitiba. Ao contrário dos vizinhos que ocupam cargo público, teve trabalho desde o começo da tarde. "Aqui a gente não pára, assim como todo mundo. É só dar uma espiada." Na frente do seu negócio, também estavam abertas uma loja de livros usados e outra de motos.

Às 15h15, um assessor parlamentar do vereador Tito Zeglin (PDT) tentou entrar no gabinete do chefe. Queria colocar as tarefas em dia, mas foi barrado pelo único segurança que cuidava do prédio. "Tenho coisas para fazer e o duro é ficar para fora, perder a viagem." O assessor preferiu não se identificar à reportagem, segundo ele, para "não criar caso". "Até sei que estou com a razão de ter vindo trabalhar, mas vai pegar mal com os colegas", justificou.

Ele permaneceu alguns minutos na frente da Câmara, debaixo de chuva, até que encontrou um companheiro de espera, professor de inglês da rede estadual de ensino. O professor só volta às aulas hoje pela manhã e aproveitou a tarde de ontem para distribuir convites para um seminário sobre segurança do trabalho. A meta era apenas distribuir os papéis sobre o evento, que ocorre em março, pelos gabinetes dos parlamentares.

O trajeto dele começou às 14h40 na Assembléia. Encontrou o prédio, incluindo o estacionamento, às moscas. Ao lado, no Palácio Iguaçu, pessoas trabalhavam normalmente. Assim como o assessor parlamentar, foi barrado por um segurança, que trabalha para uma empresa terceirizada. "Neste mês tem só três sessões, é bom se informar direitinho", disse o guarda, de dentro da guarita coberta.

O professor, já molhado, deu meia-volta e foi para a Câmara. "Para lá eu já liguei e sei que pelo menos tem gente", disse, com a certeza de que poderia passar pelos gabinetes dos vereadores. Quinze minutos depois, descobriu que a informação estava errada.

Na Câmara, porém, ao menos descobriu que poderia voltar hoje, quando o atendimento volta ao normal. Na Assembléia, expediente só na próxima segunda-feira. Em ambas as casas, as votações tomarão três dias da próxima semana. Serão as primeiras de 2007. Prova de que, em ambos os casos, o ano vai mesmo começar só depois do carnaval.

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