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Tido como político hábil e até algumas vezes lembrado como potencial candidato à Presidência da República, o governador Beto Richa foi, sem dúvida, o maior derrotado nas eleições municipais. Pior: parece ter planejado com precisão cirúrgica a trajetória certa para alcançar os resultados pífios que as urnas revelaram para ele no último domingo.

A começar pelo mais desastroso dos casos – o de Curitiba, cidade para a qual foi eleito prefeito por duas vezes (a última com 77% dos votos). Talvez por ter dado ouvidos aos "luas pretas" que o cercam e que têm por costume inflar o ego do chefe, Beto Richa começou a errar milimetricamente quando alijou o aliado Gustavo Fruet do seu próprio partido, apostando que bastava seu prestígio para manter Luciano Ducci, de outro partido (PSB), na prefeitura. Ainda que Ducci tenha se revelado um prefeito inegavelmente trabalhador, a Richa se imaginava o poder de eleger até mesmo um poste. Deu no que deu.

No interior, também não foi feliz. Elegeu apenas 78 prefeitos do PSDB (número pequeno considerando-se que o PMDB de Requião tinha 134), a grande maioria em municípios de pequena expressão eleitoral. Em cidades maiores, preferiu a estratégia de apoiar candidatos de partidos aliados ao invés de lançar correligionários tucanos. E perdeu na maioria deles. Nem mesmo nos municípios maiores, em que ainda se disputará o segundo turno, o PSDB está presente com candidato da casa – casos, por exemplo, de Londrina, Cascavel, Ponta Grossa e Maringá.

Teria o governador pensado em exterminar o próprio futuro? Certamente não o fez com esta intenção, mas aceitou correr o risco.

Olho vivo

Titânico 1

Depois de pelo menos oito anos em que, no governo Requião, estavam impedidas de conceder licenças para pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) no Paraná, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) e o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) abriram as comportas. Seguem orientação do governador Beto Richa que, em abril do ano passado, decidiu romper o atraso do Paraná nessa área e recomendou esforço titânico para dar celeridade na liberação dos pedidos de licença pendentes nos dois órgãos. Eram 130 os que até então se encontravam nessa situação.

Titânico 2

O trâmite dos processos é hoje bem mais rápido, talvez facilitado por ligações familiares entre dirigentes dos dois órgãos estaduais e destes com empresas de engenharia, consultoria e empreendedores de PCHs. Por coincidência, várias dessas empresas interessadas ocupam um mesmo endereço em Curitiba, cujos sócios titulares (também por coincidência) carregam sobrenomes idênticos aos dos agentes públicos encarregados de conceder as licenças para construção e operação de PCHs.

Xaxim

O tradicional e populoso bairro do Xaxim, região Sul de Curitiba, sempre teve um Derosso vereador a representá-lo por mais de 40 anos. Primeiro, desde a década de 60, o patriarca João; depois, a partir dos anos 90, o filho João Cláudio, o ex-presidente cassado este ano. Agora seria a vez de Mary, irmã de João Cláudio, que disputou pelo mesmo partido, o PSDB. Mas ela conseguiu apenas 2.532 votos e ficou em 93º lugar na lista de candidatos.

Jaime Lerner reaparece

Assim que desembarcou em Barcelona procedente de Londres, ontem cedo, o ex-governador Jaime Lerner ligou para a coluna para fazer a sua primeira manifestação política desde que deixou o Palácio Iguaçu em 2003. "Pode escrever aí", disse ele em tom de quem acaba de ter um surto criativo: "Quem ama Curitiba vota Gustavo", sua sugestão de slogan para o segundo turno.

Lerner, que se manteve distante no primeiro turno, entrou agora na fila dos novos apoiadores de Fruet, mas fez questão, porém, de afirmar: está fora da cena política e nem pensa em se integrar à campanha. "Falo apenas como cidadão nascido em Curitiba e que foi seu prefeito três vezes."

Provocado a falar mais sobre o resultado da eleição em Curitiba, especialmente sobre os comentários de que a derrota de Ducci teria marcado o "fim da era lernista", o ex-governador mostrou-se levemente irritado ao dizer que "estes que aí estão nunca foram do meu time" e que, portanto, não há que se falar que o lernismo morreu "junto" com eles. Ao contrário, lembra, seus mais antigos e fiéis companheiros, livremente e sem sua influência, preferiram aderir a Gustavo Fruet. Caso, por exemplo, de Gerson Guelmann, que o acompanhou em todas as suas gestões na prefeitura e no governo estadual, e que foi o coordenador geral da campanha de Fruet.

Lerner preferiu rir quando foi lembrado de que, na campanha de 2010, todos os candidatos ao governo do Paraná negavam ser provenientes do seu grupo político e que, em razão disso, ele chegou a lhes conferir um "atestado anti-lernista". Um dos que receberam o atestado foi o então candidato e atual governador, Beto Richa.

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