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| Foto: Antônio Cruz/ABr

Nordestino de fala mansa, Garibaldi Alves (PMDB-RN) encerra o mandato-tampão de um ano na presidência do Senado Federal no próximo dia 2 de fevereiro, com o legado de ter encarado o Palácio do Planalto na polêmica das medidas provisórias.

O gesto de devolver a MP das Filantrópicas (que anistiava entidades irregulares) ao Poder Executivo, em novembro de 2008, é apontado por ele próprio como o principal ato de sua gestão. "Tivemos a possibilidade de dar passos seguros em busca de uma melhor afirmação da independência do parlamento", afirma.

Apesar de avaliar o mandato com uma nota 7, o potiguar explica que desistiu da candidatura à reeleição no Senado porque sempre achou o ex-presidente da República José Sarney o melhor nome do PMDB para o cargo de presidente.

Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, o senador também lamentou não ter pressionado a Câmara para votar os cerca de 1,3 mil vetos presidenciais emperrados no Congresso. E ressaltou que, ao contrário do presidente Lula, não tem azia por causa da imprensa. "Se me desse azia, eu estaria liquidado."

Como o senhor acredita que sua gestão será lembrada?

Foi uma gestão que durou só um ano, mas que mesmo assim teve seus resultados. Tivemos a possibilidade de dar passos seguros em busca de uma melhor afirmação da independência do parlamento. Na nossa gestão, o Senado teve a preocupação de tentar equilibrar o exercício dos três poderes. O que ficou mais conhecido foi o gesto de devolver uma medida provisória (a MP das Filantrópicas) ao Poder Executivo. Tivemos também uma preocupação especial com a votação dos vetos presidenciais, que se acumulam ainda hoje e representam um descaso com a independência do Legislativo. São 1,3 mil vetos que não foram votados. Além disso, houve uma preocupação com a ética, com a vida interna do Senado. Isso ficou claro quanto ao nepotismo. Procuramos atender integralmente o que foi disposto na Súmula 13 do Supremo Tribunal Federal.

Seria mais trabalhoso assumir um mandato completo, de dois anos, do que chegar à presidência do Senado após o escândalo Mônica Veloso?

Eu justamente queria ser candidato agora para ter a oportunidade de exercer um mandato inteiro. Isso não foi possível e eu não sei sinceramente dizer como eu me sairia dentro de dois anos. Para um mandato-tampão, eu até que sou condescendente comigo mesmo. Acho que foi um mandato razoável.

Se fosse para dar uma nota para sua gestão, qual seria?

Ah... Uma nota 7.

Quanto tempo o senhor demorou só para se adaptar ao cargo e colocar a casa em ordem?

Ao administrar uma Casa como esta, os desafios se sucedem um após o outro, de modo que não há aquele período que você diga que não vai acontecer mais nada de preocupante. Não foi fácil, mas acho que todos ajudaram, governo e oposição.

Por vezes o senhor entrou em choque com o Poder Executivo, como no caso da devolução da MP das Filantrópicas. Esse choque pode ter prejudicado uma nova candidatura do senhor para o cargo?

Eu não sei se atrapalhou ou não. Só sentiria isso se a candidatura tivesse prevalecido. Como ela morreu no nascedouro... Minha candidatura era do PMDB e o partido é da base.

O senhor pretende voltar a concorrer à presidência do Senado?

Eu ainda tenho que concorrer novamente a uma vaga de senador em 2010 pelo Rio Grande do Norte. Fica difícil eu falar sobre isso... É ser muito pretensioso. Principalmente porque o Senado deve mudar o seu perfil, já que dois terços das vagas estarão em disputa daqui a dois anos.

Qual balanço o senhor faz do conflito com a Câmara por causa da PEC dos Vereadores? Como foi a relação com o presidente da Câmara, Arlindo Chi-naglia (PT-SP)?

Até aí estava tudo muito bom. O único incidente com a Câmara e com o presidente foi esse, da não-promulgação da nossa decisão sobre proposta dos vereadores. Fora isso, sempre tive um bom relacionamento com o deputado Chinaglia. No geral, não há do que reclamar.

O presidente Lula disse recentemente que a imprensa "dá azia". Acontece a mesma coisa com o senhor?

Se me desse azia eu estaria liquidado. Porque eu não deixo de falar. Acho que o presidente deve ter dito isso, mas no fundo nós temos que reconhecer que, apesar de excessos, a imprensa é fundamental.

Nos últimos meses o senhor foi um dos personagens favoritos de cartunistas e humoristas, que exploraram o seu jeito de falar. Como o senhor encara essa situação: leva na esportiva ou vê como preconceito?

Levo na esportiva. Não me incomodo. A princípio diziam que era pelo fato de ser nordestino que eu tinha essa voz arrastada. Mas tem nordestino que fala rápido demais.

Como o senhor avalia a disputa entre José Sarney e Tião Viana?

O Senado terá de optar entre a experiência do Sarney e a juventude do Tião. Há muitas conjecturas que cercam essa eleição. Uns dizem que ela reflete uma indisposição que existe entre Senado e Câmara. Outros dizem que ela tem as suas vistas voltadas para 2010. Eu diria você que ela é sobretudo voltada para dentro do Senado. Acredito que Sarney será vitorioso. Ele já ocupou a presidência duas vezes e isso deve prevalecer na votação.

É verdade que, dentro da negociação para que o senhor desistisse da candidatura, José Sarney já se comprometeu a escalá-lo em uma comissão importante em troca do apoio?

Isso não está em jogo. Eu diria a você que eu gostaria de ser lembrado para uma comissão, mas não condicionei a minha posição a receber uma comissão ou ter a possibilidade de dirigi-la.

Como foi a relação do senhor com o presidente Lula?

Tive um bom relacionamento com o presidente e com os ministros. Todos eles tiveram a oportunidade de conversar conosco. Lula veio aqui no Congresso por ocasião da comemoração dos 20 anos da Constituição e não houve problema algum. O fato de eu ter devolvido uma medida provisória é que gerou uma especulação de que o Planalto teria ficado revoltado. Mas isso foi amenizado pelo comportamento do líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR). Ele foi muito tranquilo, apaziguou tudo. Lula é muito simpático, uma figura carismática e um homem muito aberto.

Há algum político do Paraná que o senhor admire?

Eu me dou muito bem com os irmãos Alvaro (PSDB) e Osmar Dias (PDT). E também com o Flávio Arns (PT). São homens públicos de valor.

Do que o senhor vai sentir falta no cargo?

Vou realmente sentir saudade do dia-a-dia no Senado. A despeito de eu ter tido alguns momentos mais difíceis, foi muito gratificante. Eu costumo recordar que no mesmo dia que eu tomei posse houve a votação da CPMF. Eu presidi toda a sessão, que varou a madrugada e foi uma das mais duras que já ocorreram. Tinha horas que eu pensava que não ia conseguir levar aquilo adiante. Depois dessa prova de fogo, não teve mais mistério.

O que o senhor se arrepende de ter feito e de não ter feito?

Eu me arrependo de não ter feito uma pressão maior sobre a Câmara para votar os vetos presidenciais, que são um tema a ser votado em sessão conjunta do Congresso. Isso gerou em mim uma frustração muito grande. Arrependimento de algo que eu fiz? Depois que o tempo passa a gente não se arrepende de mais nada.

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