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O ex-tesoureiro nacional do PT Delúbio Soares disse nesta terça-feira (24) que a engenharia financeira montada por ele para quitar as dívidas de partidos da base aliada "deu errado, deu essa confusão toda", mas negou que o partido tenha corrompido parlamentares.

Segundo o ex-tesoureiro, o diretório nacional do PT o autorizou, em reunião, a captar recursos "junto à rede bancária" para quitar dívidas eleitorais contraídas durante a campanha eleitoral de 2002.

Como "o partido não tinha lastro financeiro" para contrair empréstimos bancários no valor de R$ 60 milhões, disse Delúbio, ele recorreu às empresas do publicitário Marcos Valério de Souza, que captaram o dinheiro nos bancos e o repassaram ao ex-tesoureiro.

Delúbio falou por cerca de 20 minutos durante um ato de apoio a ele convocado pela Juventude do PT do Distrito Federal, que reuniu cerca de cem pessoas na sede da CUT (Central Única dos Trabalhadores) do DF. O ato ocorre dez dias antes do início do julgamento do mensalão no STF (Supremo Tribunal Federal).

Delúbio reconheceu os saques em dinheiro, os pagamentos a partidos e parlamentares e o repasse, ao PT, de recursos captados por Valério, mas disse que a operação se destinou a quitar dívidas contraídas por um caixa dois eleitoral.

"O que houve foi pagamento de dívidas eleitorais que as direções regionais e os partidos aliados trouxeram [ao diretório nacional] e que o Partido dos Trabalhadores, durante uma reunião, pediu uma solução. Deu errado, deu essa confusão toda. E estamos pagando um preço", disse Delúbio.O ex-tesoureiro foi saudado aos brados de "Delúbio guerreiro do povo brasileiro" por uma plateia formada por sindicalistas, militantes e funcionários públicos do governo do DF. Estavam na plateia o presidente do BRB (Banco Regional de Brasília) Jacques Pena, o secretário de Administração Público do Governo do DF, Vilmar Lacerda, deputado distrital Chico Vigilante (PT-DF) e o presidente do diretório regional do PT-DF, Roberto Policarpo.Um poema de Fernando Sabino, com a foto de Delúbio Soares, estampa cartaz exposto durante ato de apoio ao ex-tesoureiro do PT e réu no mensalão."No fim tudo dá certo, e se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim", diz o poema, acompanhado de uma mensagem de "força companheiro" e assinado pela Juventude do PT de Guará (DF).O ato, divulgado nas redes sociais e blogs de militantes do PT, acontece dez dias antes do julgamento do mensalão, no qual Delúbio é um dos principais acusados.Segundo o convite, o objetivo do ato é "ouvir e compreender a explanação de defesa do companheiro Delúbio Soares, fazendo um debate ético e democrático, isento de manipulação midiática"."É missão de cada militante compreender e difundir as reformas de que tanto o Brasil precisa, tais como a reforma política e o marco regulatório das comunicações", diz o texto do convite."Desalojado"O ato, convocado pela Juventude do PT-DF, estava previsto para ocorrer no diretório nacional do PT, em Brasília. Porém, na manhã de hoje o diretório informou à Juventude que havia um "problema hidráulico nos banheiros". Os coordenadores então tiveram que recorrer à CUT. A reportagem apurou junto a membros do diretório nacional que a legenda optou por não se vincular ao evento.Um dos militantes do PT que falou ao microfone, Antônio de Lisboa, da direção da CUT, confirmou a decisão do diretório nacional de pedir a transferência do ato. "Você me ligou hoje, chorando", revelou Lisboa.Ao lado de Delúbio na mesa da palestra, um de seus advogados, Sebastião Ferreira Leite, reclamou de o Ministério Público Federal ter postado mensagens no microblog Twitter sobre o julgamento do mensalão. "O Ministério Público está fazendo militância política, age como se fosse um partido político."Segundo o advogado, a acusação "cabível" contra Delúbio seria "eleitoral por dívidas não contabilizadas". "Mas esse crime prescreveu, no prazo de 180 dias a partir da prestação de contas. Como não teve base legal para fazer a acusação contra o PT, foi criada essa metamorfose ambulante denominada mensalão."Delúbio recebeu elogios e congratulações. "Você orgulha o PT. O processo não é contra o Dirceu, o Delúbio, é contra o PT, é um processo de disputa de hegemonia na sociedade", disse Roberto Policarpo, presidente do diretório regional do PT-DF. "A sociedade já julgou o processo de mensalão duas vezes. Do ponto de vista do PT e do ponto de vista da sociedade, esse assunto está encerrado.""O processo era contra o PT e o governo do presidente Lula. O que deu tranquilidade foi saber que a gente estava cumprindo um papel", disse a mulher de Delúbio, Mônica Valente, membro do diretório nacional do partido.O ato também foi pontuado por ataques à imprensa. "Se precisar colocar o bloco na rua, nós vamos botar, se precisar ir nas portas de determinadas mídias, pode contar", discursou Jeferson Lima, secretário nacional da Juventude do PT nacional.Em sua fala, Delúbio disse à plateia que o TCU (Tribunal de Contas da União) aprovou, em decisão recente, o repasse de recursos do fundo Visanet às empresas de Valério. Contudo, a decisão do TCU, tomada no início de julho, não tratou do fundo Visanet, mas da legalidade sobre devolução, às empresas de Valério, de bônus da verba de propaganda.

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