Protesto desta terça-feira tinge de vermelho-sangue o espelho d’água do Palácio Iguaçu: mudanças de secretários e de discurso para reverter imagem negativa.| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Depois de ver a desaprovação popular maciça da atuação policial na “batalha” do Centro Cívico, que completa uma semana nesta quarta-feira (6), o governo estadual discute internamente uma série de substituições no alto escalão para atenuar o desgaste com o episódio. Dentre os secretários com o cargo ameaçado estão Fernando Francischini, da Secretaria de Segurança, e Eduardo Sciarra, da Casa Civil.

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Trocas são respostas de curto prazo, diz cientista político

Típicas em momento de crise, as possíveis substituições de secretários que devem ser levadas a cabo pelo governador Beto Richa (PSDB) nos próximos dias será uma “resposta de curto prazo”, que servirá apenas para acalmar os ânimos das ruas. A avaliação é do cientista político Emerson Cervi, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Basicamente, as mudanças no alto escalão seriam uma tentativa de satisfazer as pessoas que se indignaram com o que houve no dia 29, mas que não pertencem à categoria de servidores estaduais. Para os professores e as demais categorias que estão mobilizadas, as mudanças significariam muito pouco. “O governo terá que negociar com eles de outra maneira”, afirma Cervi.

No fundo, as substituições não atingirão o âmago da organização política de Richa, avalia o cientista político. “Não haverá mudança administrativa e nem para a base política. Essas mudanças só se justificam porque as primeiras ações do governo não funcionaram, então tem que elevar a resposta, falar para quem não estava envolvido”, diz Cervi.

Clima do interior

Para o especialista, o governador deve ter tomado a dimensão dos acontecimentos apenas depois do feriado de 1º de maio, após ver a repercussão em protestos de rua e ouvir relatos de deputados da base que “mediram o clima” no interior.

Como as manifestações não cessaram no decorrer dos dias, ele se sentiu compelido a dar uma satisfação mais efetiva. “Toda vez que [o governo] vem a público defender o que houve no dia 29, ele gera uma nova leva de críticas. Essa tentativa de mostrar que houve um confronto não está colando”, afirma. (AA)

Veja também
  • Francischini nega ter sido responsável pela “batalha” do Centro Cívico
  • Veneri acusa Sciarra de mandar PM “meter bomba”
  • Após confronto, Richa regulamenta uso de armas não letais
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Outras trocas apuradas pela Gazeta do Povo devem ser na Secretaria da Educação, no comando da Polícia Militar (PM) e na representação do Paraná em Brasília. Apenas esta última foi confirmada oficialmente pelo governo até a noite desta terça-feira (5).

A vice-governadora Cida Borghetti (Pros) foi nomeada para o Escritório de Representação Política no Distrito Federal, substituindo Amauri Escudero, que estava no cargo desde o início do governo Beto Richa (PSDB). Esposa do deputado federal Ricardo Barros (PP), vice-líder do governo Dilma Rousseff (PT) na Câmara, Cida Borghetti é vista como peça-chave para articular assuntos do estado em Brasília.

Essa substituição não tem relação com os incidentes do Centro Cívico. As demais, porém, guardam relação com a forma como foi conduzida a crise com os professores.

Tido como intransigente e com pouca capacidade de diálogo, Fernando Xavier Ferreira deve sair do comando da Educação. Quem tende a entrar é João Carlos Gomes, atual secretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.

Na PM, é esperada a saída do comandante-geral César Kogut, que assumiu a culpa pelos excessos no dia 29. Francischini também afirmou, à imprensa, que as decisões do episódio teriam sido tomadas diretamente pela PM, se isentando de culpa.

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A terça-feira foi tomada por várias reuniões da alta cúpula para tratar das substituições, incluindo conversas com Francischini e Kogut. À noite, tanto a Secretaria de Segurança quanto a PM informaram, que, por ora, não havia alterações formais em seus quadros.

Tampouco havia definição sobre a possível saída de Sciarra na Casa Civil – apontado pela oposição como quem ordenou à PM “meter bomba” nos manifestantes. O secretário nega a acusação.

As possíveis trocas seriam uma resposta do governo Richa para se recuperar do desgaste do conflito em frente da Assembleia Legislativa, que teve como saldo mais de 200 pessoas feridas.

Desde o dia 29, o estado viu várias manifestações populares de indignação contra o episódio. Milhares de pessoas foram às ruas protestar na quinta (30), sexta (1.º) e nesta terça (5). Houve grito generalizado de “fora, Beto Richa” no estádio Couto Pereira – que uniu as torcidas do Coritiba e Operário na final do Campeonato Paranaense – e na plateia do Teatro Guaíra, durante o show do rapper Criolo.

Prevendo novas levas de greves e manifestações, o governador teria decidido mudar a forma com que estava lidando com a situação – o que inclui as mudanças no secretariado e o reconhecimento de que houve excessos na ação da Polícia Militar na semana passada.

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MP ouve 80 testemunhas

Cerca de 80 pessoas prestaram depoimentos e 150 e-mails, com imagens e vídeos, foram recebidos pelo Ministério Público do Paraná (MP) nas investigações sobre os excessos na repressão da manifestação dos professores no último dia 29. O MP apura se houve crime e violação de direitos humanos no incidente. Quem desejar colaborar com as investigações pode enviar imagens e fotos pelo e-mail denuncias29deabril@mppr.mp.br, criado pelo órgão exclusivamente para receber denúncias.

Dança das cadeiras

O governo do Paraná começou nesta terça-feira (5)a promover mudanças no primeiro escalão, mas ainda sem relação com a batalha do Centro Cívico. Veja qual foi essa mudança e quem pode sair do governo nos próximos dias:

mudança confirmada

Escritório do Paraná em Brasília

Sai: Amauri Escudero

Entra: Cida Borghetti (vice-governadora).

especulações

Secretaria da Segurança

Sai: Fernando Francischini
Entra: indefinido

Comando da PM

Sai: César Kogut
Entra: indefinido

Casa Civil

Sai: Eduardo Sciarra
Entra: indefinido

Secretaria da Educação

Sai: Fernando Xavier Ferreira
Entra:
João Carlos Gomes