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Chega a ser constrangedora a avidez com que agora se movimentam em torno dos dois vitoriosos do primeiro turno, Ratinho Jr. e Gustavo Fruet, os políticos deixados na periferia pelos eleitores. À semelhança das mariposas que esvoaçam em torno das lâmpadas, contam-se talvez às dezenas os ansiosos que agora fazem fila nos comitês dos candidatos para oferecer seus préstimos – alguns deles os mesmos que, no primeiro turno, preferiam o conforto do muro ou davam combate explícito aos vencedores do último domingo.

Para definir alguns desses casos o dicionário dá a palavra certa: oportunismo. E é em razão desse oportunismo que estão vicejando parcerias que a boa e sã coerência (de que tanto se falou na campanha) classificariam de impossíveis. Salvo raras exceções, parcerias políticas, ideológicas e pessoais que, dada à impossibilidade lógica, servem apenas para denotar o "olho gordo" que lançam sobre as vantagens que esperam auferir caso o segundo turno consagre o candidato no qual, à última hora, decidiram apostar suas fichas.

Os dois candidatos vencedores foram sustentados durante a campanha por alianças partidárias pequenas, pouco tempo de televisão e recursos comparativamente escassos. Gustavo Fruet, por exemplo, saiu candidato pelo seu minúsculo PDT, com apoio do nanico PV e do desgastado PT. Ratinho Jr., por sua vez, juntou em torno de si, além do inexpressivo PSC, o PR e o PCdoB.

E só com o pouco que tiveram derrotaram as maiores forças. Derrotaram os 15 partidos que se alinharam com Luciano Ducci; a máquina da prefeitura e suas obras de última hora; a máquina do governo estadual e a imaginária liderança do governador Beto Richa, que abençoava com sua presença o candidato que escolheu. Todas essas forças foram derrotadas pelos dois menos bafejados por apoios tão amplos.

A ceia dos cardeais

Aos perdedores, as batatas? Não é como pensam os perdedores, mais interessados agora na maionese que se acreditam no direito de degustar. Mal saído o resultado das urnas, o ex-governador Roberto Requião, por exemplo, correu para hipotecar apoio a Ratinho Jr., onde já se encontrava, desde a primeira hora, por exemplo, o seu desafeto Orlando Pessuti. A tiracolo, carregou o acólito de todas as horas Doático Santos, que antes havia escalado para compor o time dos peemedebistas cooptados por Beto Richa para apoiar Luciano Ducci em detrimento da fidelidade que deveriam dedicar a Rafael Greca, candidato oficial do PMDB.

A adesão de Requião a Ratinho por acaso seria inspirado no idealismo que professa quando se diz seguidor da Carta de Puebla? Ou poderíamos ficar com hipótese de que pretende apenas garantir, numa eventual administração comandada por Ratinho Jr., alguns carguinhos para abrigar suas ovelhas, como o próprio Doático, já citado como futuro presidente da Cohab? Mais do que isso: não estaria Requião buscando abrigar-se a si mesmo numa nova "onda" política após o mais contundente fracasso que as urnas já concederam ao seu PMDB, que só conseguiu reeleger um vereador? A companhia de Requião parece ter sido bem recebida por Ratinho Jr., que a comemorou. Quem sabe tenha que arrastar também a rejeição do ex-governador.

Constrangido, dizendo-se não responsável pela derrota do seu pupilo e até se declarando surpreso por nunca terem antes lhe informado que Gustavo Fruet pretendia ser candidatar a prefeito, Beto Richa decidiu declarar neutralidade. Neutralidade? Significa que nada fará para evitar que sua derrota fique ainda mais flagrante caso o vitorioso do segundo turno seja Gustavo Fruet, a quem alijou da disputa? Não se tem dúvida que, ainda que discretamente, fará companhia ao velho e combatido desafeto Requião entre os neo-ratinhos. Mesmo porque é só com a derrota de Fruet agora que terá mais chance de disputar a reeleição com Gleisi Hoffmann, em 2014. Neutralidade agora?

Quem mama...

E Fruet? Alguém acredita ser por absoluto e nobre desprendimento que o DEM já se apresentou para ficar ao lado do PT brigando pela vitória de Gustavo, enquanto ainda ocupa cargos importantes na prefeitura e no governo do estado? Há ainda outros que, agora declarando-se "gustavistas" desde os tempos em que jogavam bolinha de gude, esperam a hora de empunhar a bandeira 12 assim que encontrarem uma fresta na porta do comitê. Maldosos de plantão até já lhes aplicam, com pequena mudança, aquele slogan criado por Jaime Lerner, o primeiro a aderir rapidamente a Gustavo: "Quem ama Curitiba, vota Gustavo". Os maldosos preferem slogan foneticamente parecido mas de sentido oposto: "Quem mama Curitiba, vota Gustavo". Mas que Ratinho não fique muito feliz, pois se o candidato não tomar cuidado, o desvirtuado slogan serve também para ele: "Quem mama Curitiba, vota Ratinho Jr.".

Toda essa gente que decidiu esvoaçar em torno das luzes de Gustavo e Ratinho tem poucos votos. Melhor seria se os dois candidatos disputassem a eleição sem os penduricalhos do oportunismo, sem parcerias impossíveis.

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