
A Operação Juçara da Polícia Federal, que desmantelou uma quadrilha de extração ilegal de palmito no litoral do Paraná, partiu para uma nova linha de investigação: a possível prática de crime eleitoral e tráfico de influência. Para a PF, existem indícios de que o dinheiro arrecadado com o crime ambiental pode ter abastecido os cofres de campanhas eleitorais.
A abertura da nova linha de investigação foi feita após reportagem da Gazeta do Povo ter revelado, na última quinta-feira, que o casal Cezar Renato Tozetto e Doris Correa Tozetto, presos pela Operação Juçara, trabalhava na Assembleia Legislativa do Paraná os dois eram servidores comissionados do presidente da Casa, deputado Nelson Justus (DEM), e pediram exoneração na quinta-feira passada.
A primeira iniciativa da PF para começar apurar as novas suspeitas foi intimar Cezar e Doris Tozetto para prestar depoimento. O delegado-chefe da PF em Paranaguá, Jorge Luiz Fayad Nazario, confirmou ontem que mandou um ofício para a Assembleia. Neste documento, a PF quer saber informações sobre as atividades diárias do casal, o horário de trabalho, a lotação deles e a forma de controle de suas atribuições além dos decretos de nomeação e exoneração de ambos.
Os depoimentos do casal foram tomados pela PF na última sexta-feira. A Gazeta do Povo teve acesso aos documentos. Tanto Doris quanto Cezar não responderam a nenhum questionamento sobre seu envolvimento no caso e com a Assembleia. A única pergunta que o casal respondeu foi se tinha interesse em fazer uma delação premiada. Ele disseram que não. A partir daí, todas as perguntas não foram respondidas. Eles alegaram o direito de permanecerem em silêncio. O casal nem mesmo confirmou que foi contratado para trabalhar na Assembleia.
No depoimento anterior que havia prestado à PF na terça-feira da semana passada, dois dias antes da reportagem da Gazeta do Povo revelar que Doris era servidora da Assembleia, ela havia respondido às perguntas. Ao ser questionada sobre sua atividade profissional, ela respondeu que "trabalhava no escritório da Indústria de Conserva Palmeira" a fábrica ilegal de palmito. Não citou o vínculo empregatício com a Assembleia. Procurada pela reportagem para esclarecer se apenas omitiu o emprego no Legislativo ou se efetivamente nunca trabalhou na Assembleia, Doris se recusou a falar. Disse apenas que não tinha nada a declarar.
Já o marido dela, Cezar Tozetto, afirmou em depoimento na sexta-feira, já após a reportagem ter revelado que ele estava empregado na Assembleia e depois de sua exoneração, que é motorista há 29 anos, que ganha R$ 700 e que não tem outra atividade remunerada. No depoimento não consta se ele alega ser motorista da Assembleia ou se ele exercia a profissão na fábrica de palmito em conserva. Cezar, porém, é acusado pela PF de ser o transportador do produto industrializado ilegalmente. A Gazeta não conseguiu ouvi-lo ontem.



