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A presidente Dilma Rousseff na posse com seus 39 ministros: equipe terá pouco recurso para muita cobrança em mais um ano de ajuste orçamentário | Roberto Stuckert Filho/Presidência
A presidente Dilma Rousseff na posse com seus 39 ministros: equipe terá pouco recurso para muita cobrança em mais um ano de ajuste orçamentário| Foto: Roberto Stuckert Filho/Presidência

R$ 100 bilhões é a expectativa sobre os cortes orçamentários federais para este ano de 2015. A presidente Dilma Rousseff disse no final de dezembro que o valor é "chute", mas não desmentiu o montante, que deve ser anunciado em fevereiro.

127% é a evolução do tamanho do corte (caso confirmado em R$ 100 bilhões), em relação ao ajuste feito em 2014, de R$ 44 bilhões. Em 2013, o valor do corte ficou em R$ 28 bilhões. Em 2011 e 2012, em R$ 50 bilhões e R$ 55 bilhões, respectivamente.

Uma certeza acompanha a perspectiva de novos e "velhos" ministros da presidente Dilma Rousseff (PT) para 2015 – haverá pouco recurso para muita cobrança. A expectativa é de que até o final de fevereiro a equipe econômica anuncie cortes na casa de R$ 100 bilhões. Ao mesmo tempo, a instabilidade política gerada pela crise na Petrobras e a acirrada disputa eleitoral aumentam a exigência sobre o desempenho do primeiro escalão.

Conheça a equipe de ministros para o segundo mandato da presidente Dilma

O ajuste foi comum a cada início de exercício orçamentário durante o primeiro mandato de Dilma. Em 2013 e 2014, os cortes ficaram em R$ 28 bilhões e R$ 44 bilhões, respectivamente. Mesmo com o aperto de cintos, sempre foram preservadas as despesas em saúde, educação, Bolsa Família e investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Por outro lado, a escassez de recursos atingiu em cheio pastas menos "badaladas", como Cultura, Agricultura, Defesa e Ciência e Tecnologia. Desde o dia 1.º de janeiro, a maioria dos ministros já começou a agir preventivamente, mesmo que só nos discursos, para amenizar perdas. Na disputa por uma fatia maior no orçamento, cada um usa as armas que dispõe.

Novo titular da Defesa, Jaques Wagner admitiu que vai usar o bom trânsito com Dilma e o PT. "Evidentemente, em dificuldades, todos terão que dar alguma contribuição, mas vou usar do meu peso político lastreado no plano estratégico dos projetos para brigar", declarou o ex-governador baiano, que assumiu na sexta-feira no lugar de Celso Amorim. Em 2013, os cortes na pasta superaram R$ 4 bilhões.

O novo ministro da Cultura, Juca Ferreira, disse que deixou claro para Dilma, na conversa em que aceitou o convite para assumir a pasta, que vai precisar de recursos. "Eu garanto o trabalho, mas eu não sou mágico, sou um servidor público dedicado. Sou solidário com as dificuldades que a economia está passando, mas eu preciso ter um mínimo de recursos", declarou Ferreira, durante a cerimônia de posse da presidente. Uma das apostas dele é a aprovação de uma proposta de emenda à Constituição que prevê a destinação de 2% do orçamento federal para a área.

A nova ministra da Agricultura, Kátia Abreu, se antecipou a possíveis decisões da equipe econômica que possam aumentar os juros dos empréstimos para produtores rurais. "O agronegócio responde aos anseios do Ministério da Fazenda. Costumo dizer que salgar a carne podre é sempre um desperdício. O agronegócio é carne boa, carne verde, que dá para salgar, porque ajuda a economia do país", defendeu.

Reempossado na Saúde, Arthur Chioro disse que a pasta é "protegida" pelos repasses obrigatórios previstos na Constituição, mas que "nada impede que a sociedade possa discutir mais recursos". Segundo ele, o desafio de ampliar o financiamento do setor caminha ao lado do desafio de tomar iniciativas para melhorar a gestão dos serviços.

Um dos principais porta-vozes de Dilma, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que foi mantido no cargo, se esforçou para conter o pessimismo entre os colegas no dia 1.º de janeiro. "Acho que todos os anos são difíceis, todos têm os seus problemas, não apenas 2015. Governar não é fácil."

Petista muda área econômica, mas mantém "loteamento"

Chico Marés

Em seu início de mandato, a presidente Dilma Rousseff (PT) mudou o perfil de sua equipe econômica, mas manteve o loteamento político do seu ministério. Ao indicar Joaquim Levy e Nelson Barbosa para os ministérios da Fazenda e do Planejamento, a presidente fez uma clara tentativa de reaproximar o governo do mercado. E medidas de austeridade, como a mudança nas regras de obtenção do seguro-desemprego, apontam para isso. Entretanto, a distribuição do ministério entre os partidos da base mostra uma disposição de manter um modelo de articulação política similar ao do primeiro mandato.

Dilma pode estar tentando seguir o modelo adotado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2003, aponta o cientista político da UFPR Ricardo Oliveira. Lula colocou nomes bem vistos pelo mercado em pontos chave para a economia, como a Fazenda e o Banco Central, e distribuiu o resto do ministério entre o PT e siglas aliadas.

Há alguma semelhança entre esses dois momentos. Tanto Lula quanto Dilma assumiram a Presidência sob certa desconfiança do mercado e do mundo político. Ele, por ser o primeiro governante do PT na história do país. Ela, pela eleição acirrada e pelo mau momento econômico.

Entretanto, as semelhanças param por aí. No primeiro governo Lula, eram apenas seis pastas no comando das legendas aliadas – divididas entre PV, PCdoB, PSB, PTB, PL e PPS. Em 2014, serão 15 ministérios destinados a esses partidos – seis do PMDB, dois para o PSD, um para Pros, PDT, PRB, PCdoB, PTB, PP e PL.

Mesmo assim, Dilma conseguiu desagradar a gregos e troianos com as nomeações – o que pode sinalizar um esgotamento deste modelo. De um lado, o PMDB, mesmo controlando seis ministérios, considera que a importância das pastas e os nomes escolhidos não correspondem à importância que a sigla teve na eleição e terá no Congresso.

Por outro lado, o próprio PT se considera subvalorizado, especialmente a corrente majoritária, a Construindo um Novo Brasil. Militantes do partido contestam ainda a indicação de figuras como Kátia Abreu (PMDB) e Gilberto Kassab (PSD). Em 2003, o partido contava com 21 ministérios. Agora, serão 13.

Oliveira, entretanto, minimiza a relevância dessas disputas. "Nas outras eleições de Lula e Dilma, sempre houve esse movimento, reclamações, críticas."

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