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O subchefe de Polícia Civil, delegado Ricardo Martins, disse nesta sexta-feira que a Delegacia de Homicídios da Zona Oeste atuará junto com a 16ª DP (Barra da Tijuca) no inquérito que apura a morte do inspetor Félix dos Santos Tostes, de 49 anos, suspeito de chefiar a milícia na favela de Rio das Pedras, em Jacarepaguá. Os policiais já ouviram o depoimento da mulher atingida por bala perdida durante o assassinato. Segundo os investigadores, o depoimento não acrescentou novos detalhes ao inquérito.

Félix foi morto a tiros na tarde da quinta-feira. Segundo Ricardo Martins disse que o inspetor estava lotado no Setor de Situações Diversas da Polícia Civil, aguardando resultado do processo que respondia na Corregedoria Interna da Polícia Civil por suspeita de participar da milícia.

O comércio na Favela Rio das Pedras, em Jacarepaguá, está fechado e bandeiras pretas foram estendidas em toda a comunidade como forma de luto pela morte do inspetor. De acordo com o presidente da associação de moradores de Rio das Pedras, Elir Bittencourt, o velório do policial está previsto para acontecer a partir de meio dia na sede da assaociação. Moradores devem fazer homenagem ao inspetor antes do enterro que será às 17h no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap.

O corpo do inspetor foi encontrado na Rua Senador Rui Carneiro, no Recreio dos Bandeirantes, dentro de uma picape Hilux. Segundo o delegado Carlos Augusto Nogueira, da 16ª DP, acabara de deixar o edifício de número 475, onde havia feito uma visita a uma pessoa, cuja identidade não foi revelada pela polícia, segundo o delegado, em respeito à família da vítima.

A mulher, o filho e muitos amigos de Félix estiveram no local do crime. Alguns policiais também foram até a Rua Senador Rui Carneiro. Uma mulher, que seria amiga da família, se aproximou do carro onde estava o corpo e gritou que o responsável pela morte seria o vereador Nadinho de Rio das Pedras (PFL). Um amigo teria alertado Félix sobre a ameaça . De acordo com o delegado titular da 16ª DP, ainda é muito cedo para afirmar que o policial tenha sido vítima de vingança. A polícia vai investir em várias linhas de investigação. O delegado Carlos Nogueira afirmou que a mecânica do crime e a quantidade de pessoas que participaram do assassinato só serão determinadas com a conclusão da perícia.

Mulher é atingida por bala perdida durante crime

Uma mulher internada no Hospital Lourenço Jorge foi ferida por uma bala perdida, durante o ataque ao policial, mas o ferimento não foi grave. Ela passava pelo local quando foi atingida. De acordo com PMs, foram recolhidas no local em que o policial foi encontrado mais de 46 cápsulas de fuzil de calibres .556 e .762, além de cápsulas de pistolas de calibres .45 e .40. Há mais de 30 perfurações no carro. O assassinato do policial civil será investigado, a princípio, pela 16ª DP (Barra da Tijuca). De acordo com a polícia, pelo menos quatro homens teriam participado do assassinato. Os bandidos teriam utilizado duas pistolas e dois fuzis e estariam num Astra preto.

- Pode ser que após uma avaliação feita por nós a investigação seja transferida para outra unidade - informou o chefe de polícia, Gilberto Ribeiro, logo após receber a notícia do crime, em São Paulo, onde está a trabalho.

O inspetor Félix dos Santos Tostes estava afastado do gabinete da Polícia Civil por suspeita de ligação com a milícia desde o início do mês. Ele integrava a equipe do delegado Ricardo Hallak, ex-chefe da corporação, desde 2003. Alvo de investigação da Corregedoria Geral da instituição, o policial também é acusado de cobrar taxas de segurança na venda de gás, no transporte alternativo, no bingo e na TV a cabo clandestina da favela.

Policial negava ligação com milícia e dizia que 'cuidava da comunidade'

À epoca, o inspetor negou participação em negócios ilegais, e afirmou estar sendo alvo de perseguição. O policial disse que apenas "cuida da comunidade". Na Polícia Civil há 18 anos, ele disse que vive do salário de policial e de atividades no comércio.

— Sou policial e defendo minha comunidade dos bandidos. Não sei dessa história de taxas. Também não sou dono de bingo e não tenho Mercedes blindada. Meus bens estão declarados no Imposto de Renda — afirmou Félix em entrevista ao Jornal "O Globo".

A briga entre policiais, bandidos e milicianos já resultou em diversas mortes desde o final do ano passado. Em dezembro, uma onda de ataques na cidade, que seriam em resposta a atuação da milícias em comunidades, deixou 19 mortos e mais de 30 feridos . Foram pelo menos 15 ataques em série em diversos pontos do Rio de Janeiro, da zona sul da capital à Baixada Fluminense.

No início deste mês, nove pessoas morreram durante conflitos que envolveram PMs, milicianos e traficantes de drogas na área da favela Kelson´s, na Penha. Na ocasião, o secretário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, disse que já tem um relatório com nomes dos policiais envolvidos com milícias, os locais onde atuam e as unidades em que trabalham. Ele não quis dizer a quantidade de nomes investigados, mas adiantou que não é pequena.

- É um número grande - limitou-se a dizer.

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