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Veja como Lula se relacionou com Lugo e Obama |
Veja como Lula se relacionou com Lugo e Obama| Foto:

Um mês depois de ter sido chamado de "o cara" pelo presidente norte-americano, Barack Obama, Lula passou por dois imbróglios diplomáticos na semana passada. Após uma enxurrada de protestos da comunidade judaica, viu o líder iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, adiar a visita que faria ao Brasil. Pouco tempo depois, gastou dois dias e não conseguiu convencer o colega paraguaio, Fernando Lugo, a encerrar as discussões sobre a revisão do Tratado de Itaipu.

Os episódios são um retrato da política internacional da gestão Lula, na visão de especialistas. "Durante o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), os contenciosos com os países vizinhos nunca chegaram à intensidade dos últimos anos. Paradoxalmente, as relações com os Estados Unidos e com os países ricos nunca estiveram tão boas", resume o professor titular de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, Argemiro Procópio.

A analogia mostra uma contradição. A partir da visão institucional do PT para a política global, Lula ampliou o intercâmbio com os países em desenvolvimento. No comércio, números comprovam que a proposta surtiu efeito, mas no campo da diplomacia os resultados são questionáveis, especialmente quanto aos países da América Latina.

Em seis anos e cinco meses de governo, Lula transformou-se no presidente brasileiro que mais tempo passou no exterior. Foram 348 dias (15% do mandato) fora do Brasil, contra 347 (11,8%) de FHC. A escolha dos destinos mostra a prioridade do petista aos países mais pobres. Foram 129 dias (37% do total) em missões no Canadá, Estados Unidos e países da Europa, contra 170 (49%) do antecessor.

"Graças a essa prática multilateral, de busca de novos parceiros no comércio, o Brasil tem passado pela crise mundial de uma maneira muito mais tranquila que outros países", diz o deputado federal Dr. Rosinha (PT), ex-presidente do Parlamento do Mercosul e membro da Comissão de Relações Exteriores da Câmara.

Em meio ao vendaval que assola a economia norte-americana, os negócios com a China equilibraram a balança comercial brasileira em 2009. No primeiro quadrimestre do ano, os chineses foram os maiores compradores de produtos do Brasil. Eles importaram US$ 5,6 bilhões em mercadorias nacionais (o que representa uma expansão de 64,7% em relação ao mesmo período de 2008).

A estabilidade econômica, apesar da crise, atraiu a atenção de vários líderes mundiais. Além de Obama, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, não esconde o apreço por Lula.

"Diplomacia presidencial"

O protagonismo recente, segundo o professor Procópio, é resultado do que ele define como uma tática de "diplomacia presidencial". "Lula colocou em segundo plano os embaixadores para fazer ele mesmo o papel de grande diplomata." O posicionamento, segundo ele, também reflete a fragmentação das lideranças do governo nas relações internacionais.

Na prática, a condução do setor é dividida em três. O secretário de Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, cuida dos países da América Latina. Os demais países ficam com ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, enquanto o secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, cuida da parte administrativa do ministério, como a formação de novos membros do corpo diplomático.

Militante histórico da esquerda latino-americana, Garcia mantém relações próximas com vários presidentes da região – em particular, com o venezuelano Hugo Chávez. "O governo Lula partidarizou a política externa brasileira, quebrou-se o consenso de continuidade que sempre existiu na diplomacia brasileira", critica Rubens Barbosa, que foi embaixador do Brasil em Washington durante o governo FHC.

Fiascos

Barbosa vê uma sucessão de fiascos na relação com os países da América do Sul. Com relação ao imbróglio com o Paraguai sobre o Tratado de Itaipu, ele afirma que a diplomacia brasileira precisa defender o interesse nacional. "Se os paraguaios querem levar o assunto à Corte Internacional de Haia, que levem. O tratado é válido, não há dúvida."

Os ataques internos e as contestações fora do país não afetam o ponto de vista do governo. "Não queremos ser uma ilha de prosperidade no continente cercada por países com dificuldades", disse o próprio Lula em entrevista coletiva ao lado de Lugo na sexta-feira.

Nessa linha, o governo tem se esforçado para estabelecer relações de desenvolvimento em conjunto com os demais países da região. "Precisamos também estar interligados pelos tecidos industriais dos países", afirma o presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Reginaldo Arcuri. O órgão é responsável por ações integradas nas cadeias automotiva e de exploração de petróleo no Mercosul.

Ex-diretor da Secretaria do Mercosul em Montevidéu (Uruguai), Arcuri afirma que a postura "pacifista" do governo Lula está longe de ser uma revolução no jeito de se relacionar com os vizinhos. "O Barão do Rio Branco consolidou nossas fronteiras (no século 19) sem dar um único tiro."

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