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Opinião

Uma gestão sem marca

Guilherme Voitch, repórter da Gazeta do Povo

Governantes precisam de marcas. Fernando Henrique venceu a inflação. Lula criou uma nova classe média. Governadores e prefeitos também lutam por um selo de identificação. A afirmação pode assustar os puristas, mas esse tipo de relação não é subproduto do trabalho dos marqueteiros. É sim uma das virtudes da democracia. Só ditadores têm, magicamente, todas as qualidades e conseguem dar conta de tudo ao mesmo tempo. Políticos do mundo real precisam fazer escolhas. Nada mais natural que defendam essas escolhas e as vendam da melhor maneira possível. Cabe ao eleitor julgar o resultado. O prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet, em sete meses de governo, ainda não encontrou sua marca. Em parte porque não recebeu uma máquina azeitada como propalava seu antecessor. Em parte porque quase todos os prefeitos brasileiros estão encurralados entre a pressão das ruas e a realidade fiscal. Mas Fruet também tem sua parcela de culpa. O noticiário da prefeitura girou, até agora, quase que exclusivamente em torno do transporte público. As demandas, porém, não obedecem fila. Seis em dez curitibanos acham que Fruet precisa dar mais atenção à saúde, área em que o prefeito diz estar trabalhando arduamente. E 40% acreditam que ele não está cumprindo as promessas de campanha. É um óbvio sinal de alerta que Fruet tenta driblar apostando no contato com as ruas. O perfil prefeito atento se sustenta pela empatia do pedetista, mas tem prazo de validade. Quanto mais distante a gestão Luciano Ducci estiver, maior será a pressão para que faça suas escolhas. E aí virá o legado de Fruet. Para o bem ou para o mal.

Gestão municipal

Relação é tensa com Richa e de parceria na esfera federal

O prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet (PDT), manteve nos seus sete primeiros meses de governo relações bem diferentes com os governos estadual e federal. O prefeito diz manter um relacionamento tenso, mas de respeito, com o governador Beto Richa (PSDB). No início do ano, Fruet trocou farpas com Richa durante a discussão sobre o subsídio às tarifas do transporte coletivo. "Quando converso com ele, são conversas cordiais. Mas acho que o resultado das eleições não foi bem digerido [por Richa]. De alguma maneira, procura-se antecipar um tensionamento visando à eleição do ano que vem."

Fruet, porém, diz que os projetos em conjunto estão sendo tocados normalmente. "Tenho críticas ao projeto das UPSs [Unidades Paraná Seguro]. Mas, se não tiver esse trabalho complementar [da prefeitura], o projeto tinha esvaziado completamente. Mas não joguei nisso. Se melhorarmos a qualidade do serviço, todos ganham."

Já com o governo federal, a relação é de parceria total. "Em cada ministério temos um interlocutor. Tenho procurado falar com os ministros. Com quase todos, temos algum tipo de convênio. Temos procurado ocupar todos os espaços. Dos contratos de R$ 50 mil a R$ 10 milhões."

A interlocutora mais frequente no governo federal é a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann (PT), que apoiou a eleição de Fruet no ano passado. "Falo com ela sempre que possível", diz. Gleisi é pré-can­didata ao Palácio Iguaçu no ano que vem.

Levantamento do Instituto Paraná Pesquisas, realizado a pedido da Gazeta do Povo, mostra que atualmente 55% dos eleitores curitibanos aprovam a gestão do prefeito Gustavo Fruet (PDT), ante 39% que a desaprovam. Em comparação com uma sondagem do mesmo instituto feita em abril, Fruet teve uma queda de 11 pontos porcentuais em sua popularidade.

INFOGRÁFICO: Veja os índices de aprovação de Gustavo Fruet

O prefeito de Curitiba segue uma tendência verificada com outros políticos, após a onda de protestos que atingiu o país em junho. Pesquisas de diferentes institutos têm mostrado um descontentamento geral com a classe política. Na quinta-feira, pesquisa Ibope mostrou que houve queda na avaliação da presidente Dilma Rousseff de 55% para 31%. Os governadores também foram mal avaliados. Dez entre onze tiveram aprovação inferior à metade da população.

Sangria

"Os políticos com mandato executivo continuam sangrando. Mas essa não é uma grande preocupação para Fruet", diz o diretor da Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo. Para ele, a aprovação do prefeito é até superior à média dos governantes. O dado mais negativo para o prefeito, diz Hidalgo, está na percepção de 29% dos entrevistados que consideram a gestão Fruet pior do que o esperado, contra 21% que a consideram melhor. "A expectativa em torno dele era muito grande. Isso acaba sendo ruim para o prefeito. Há um sentimento de que as coisas não vão da forma que eram esperadas."

Essa percepção aparece em outro indicador. Para 40% dos eleitores curitibanos, o pedetista não vem cumprindo suas promessas de campanha. As críticas ao prefeito são alavancadas especialmente por uma área: a saúde. Na sondagem espontânea, quando as pessoas dizem o que pensam sem nenhum estímulo do pesquisador, 30% dos entrevistados disseram que Fruet não tem investido o suficiente no atendimento médico da população. Na estimulada, quando o entrevistador apresenta opções, 60% afirmaram que a saúde é a área para a qual o prefeito deveria dar mais atenção.

Por outro lado, 17% dos entrevistados entendem que Fruet concentrou seus esforços majoritariamente no transporte público. A redução da tarifa de ônibus é a realização do prefeito mais lembrada pelos curitibanos. Mas foi citada por um número baixo de pessoas: apenas 8,76% dos entrevistados.

Procurado pela reportagem, Fruet disse que não comenta pesquisas. Mas fez uma análise de seus sete primeiros meses à frente da prefeitura. Entre os destaques, apontou justamente a saúde. Segundo ele, mesmo com um cenário financeiro ruim, que teria sido herdado da gestão anterior, a área recebeu atenção especial, disse o prefeito. "Fizemos um grande aumento de custeio na saúde. Desde junho, chegamos a mais de 40 equipes de saúde da família, chegamos a dez unidades de saúde abertas até as 22 horas, fizemos o Cajuru 100% SUS, fizemos o Instituto da Mulher no Bairro Novo e aumentamos os atendimentos no Hospital do Trabalhador."

A polêmica sobre o subsídio estadual para as tarifas de transporte público e as manifestações pelo passe livre nos ônibus foram citadas pelo prefeito como "momentos negativos" de sua gestão. Apesar disso, o prefeito citou como positivos o conjunto de 11 projetos de mobilidade urbana formatados em parceria com o governo federal. "Temos a retomada do projeto do metrô, passando pela reestruturação do VLP [veículo leve sobre pneus]."

Fruet também destacou que, desde junho, começaram a sair os editais licitação de obras mais volumosas. "Para chegar nisso, foi um grande esforço de adequação financeiro. Retomamos os canais com os agentes financeiros. Curitiba não tinha financiamento para este ano. Só vamos recompor isso ano que vem."

Beto é aprovado por 53%; Dilma por 32%

Euclides Lucas Garcia

A Paraná Pesquisas também ouviu os eleitores de Curitiba sobre o desempenho das gestões do governador Beto Richa (PSDB) e da presidente Dilma Rousseff (PT). A administração do tucano foi aprovada por 53,37%, enquanto a gestão da petista recebeu a aprovação de 32,22%.

Apesar de o seu governo ser bem avaliado por mais da metade dos eleitores curitibanos, os números de Richa caíram progressivamente em relação aos dois levantamentos anteriores do instituto. Em abril de 2011, primeiro ano de sua gestão no governo estadual, a aprovação de Richa em Curitiba era de 74,8%. Em dezembro do mesmo ano, o índice foi de 71,08%. Agora, 53,37% aprovam sua gestão. Já a desaprovação subiu. Em abril de 2011 era de 19,77%. Subiu para 23,98% no fim daquele ano e atingiu 42,63% na pesquisa atual.

Considerando o limite máximo da margem de erro da pesquisa, de 4 pontos para mais e para menos, aprovação e desaprovação de Richa dentre os curitibanos podem estar muito próximas: 49,37% contra 46,63%.

A queda de popularidade é ainda mais acentuada no caso de Dilma. A aprovação que ela tinha na primeira pesquisa, em abril de 2011, se inverteu e hoje quase o mesmo índice reflete a desaprovação à sua gestão. Naquela ocasião, 64,07% aprovavam a administração de Dilma. Em dezembro do mesmo ano, o índice ficou em 61,18%. Já agora, a aprovação despencou para 32,22% dos eleitores curitibanos.

Por usa vez, os números contrários ao governo da petista subiram de 31,64% para 33,23% em 2011, chegando atualmente a 64,79%.

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