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Os promotores de Santo André acreditam existir ligação entre a denúncia apresentada há três anos por empresários de ônibus da cidade - que seriam extorquidos para financiar campanhas eleitorais do PT - com a afirmação do ex-tesoureiro nacional petista Delúbio Soares de que existe caixa dois na contabilidade eleitoral do partido.

"Temos uma avaliação de que o esquema implementado durante a administração do PT em Santo André serviu como laboratório para o esquema realizado atualmente no governo federal", disse o promotor Amaro José Thomé Filho, um dos responsáveis pela investigação da suposta rede de extorsão de empresários em Santo André.

A declaração foi feita nesta sexta-feira após o interrogatório dos seis acusados de participarem do recolhimento da propina na cidade. O juiz substituto da 1ª Vara Criminal de Santo André, André Pasquale Rocco Scavone, ouviu o depoimento dos empresários Sérgio Gomes da Silva, conhecido como Sombra, Ronan Maria Pinto (que detém mais da metade das linhas de ônibus na cidade), Humberto Tarcísio de Castro, Irineu Nicolino Martin Bianco, Luiz Marcondes de Freitas Júnior, além do ex-vereador petista na cidade Klinger Luiz de Oliveira.

Sombra também responde a uma ação penal onde é acusado de ser o mandante do assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel (PT), em janeiro de 2002. Os promotores argumentam que o prefeito foi morto por tentar desmantelar o esquema de corrupção montado no município.

"O Celso sabia que existia e como funcionava o caixa 2 montado na Prefeitura para abastecer o PT, mas foi morto depois que tentou impedir o prosseguimento do esquema", disse o promotor Roberto Wider Filho, outro responsável pela investigação.

A cobrança de propina feita em Santo André chegaria ao Diretório Nacional do PT por intermédio do então presidente do partido, deputado federal José Dirceu, ex-ministro chefe da Casa Civil. A denúncia envolvendo Dirceu partiu do médico João Francisco Daniel, irmão mais velho do prefeito Celso Daniel. O dinheiro, segundo ele, seria entregue pelo então secretário municipal de Santo André, Gilberto Carvalho, atual chefe de gabinete do presidente Lula.

Dirceu emitiu uma nota onde afirma que as denúncias não têm fundamento e foram arquivadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por falta de consistência. O pedido de investigação foi arquivado em 2002 pelo presidente do STF, Nelson Jobim.

Sombra foi o primeiro a ser interrogado pelo juiz de Santo André e, por orientação de seus advogados de defesa, não respondeu a nenhuma pergunta formulada pelos promotores. A acusação queria que ele esclarecesse os depósitos bancários em sua conta no valor de R$ 100 mil fornecidos pelo empresário de ônibus da cidade, Luiz Alberto Gabrilli, que seriam o pagamento mensal da "caixinha" para continuar a operar linhas na cidade.

"Ele não conseguiu esclarecer a origem dos depósitos na sua conta, que seriam a origem demonstrada do pagamento de propina", afirmou o promotor Wider.

O advogado Adriano Salles Vanni, um dos 17 escalados para defender Sombra, rebateu a acusação dos promotores alegando que seu cliente poderia ser uma vítima de uma armação.

"O Sérgio respondeu apenas indagações do magistrado por orientação nossa. A acusação é frágil e está formulada em fatos políticos e com pretensões comerciais. Nunca existiu cobrança de propina, e meu cliente desconfia de depósitos bancários feitos em sua conta em caixas eletrônicos. Tudo o que ele recebeu está declarado em seu imposto de renda", disse Vanni.

Ronan afirmou que todas as denúncias são infundadas e que nunca cobrou ou pagou propina para operar linhas de ônibus na cidade. O empresário também se considera uma vítima de "interesses econômicos" de seus concorrentes no sistema de transporte municipal.

"Fui sócio do Sérgio em alguns negócios para ajudá-lo, mas todas as sociedades foram desfeitas no final de 2002. Não faria hoje mais nenhuma sociedade com ele, mas já contratei seus serviços de assessoria", disse Ronan.

Klinger deixou rapidamente as dependências do Fórum de Santo André, afirmando que as denúncias são "descabidas e que abalaram profundamente sua vida pessoal, profissional e política."

"Eu deixei a vida pública em 2004, e me sinto muito prejudicado por todas as denúncias mentirosas", afirmou.

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