Para Ênio Verri, André Vargas fez uma “afirmação muito pesada”| Foto: Ivonaldo Alexandre / Gazeta do Povo

Opinião

Financiamento público não resolve problema

O cientista político Emerson Cervi, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), discorda da interpretação de que o atual sistema de financiamentos de campanha "induza" os partidos a aderir à prática de caixa 2. E acredita que não é a reforma política que irá resolver os problemas de recursos não declarados à Justiça Eleitoral. "O caixa 2 é um reflexo de outras práticas de nossa sociedade", afirma. "Os partidos só podem fazer caixa 2 porque as empresas que doam os recursos fazem também.

Ninguém teria como doar recursos declarados para um candidato e correr o risco de esse dinheiro ir para caixa 2. A empresa não teria como justificar essa saída de dinheiro", diz.

Inaceitável

Na avaliação do professor, o financiamento público – defendido pelo PT e outros partidos –, apenas tornaria os partidos mais dependentes do poder público e os afastaria da sociedade. "Colocar a culpa no sistema é uma hipocrisia. Ninguém é obrigado a aceitar caixa 2", opina.

Para Cervi, ao dizer que vários candidatos e vários partidos praticam caixa paralelo, os políticos pretendem, às vezes, fingir que se trata de uma prática aceitável.

Rogerio Waldrigues Galindo

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Lideranças do PT paranaense reagiram ontem às declarações do deputado federal André Vargas (PT-PR), que em entrevista à Gazeta do Povo se disse favorável ao retorno de Delúbio Soares ao partido. Para defender a volta do antigo tesoureiro, expulso em 2005 depois do es­­cândalo do mensalão, Vargas afirmou que é comum a existência de caixa 2 em campanhas (único crime de que Delúbio poderia ser acusado, segundo ele). Vargas chegou a dizer que, no Paraná, poucos petistas seriam contra o retorno de Delúbio, tais como os integrantes da ala do partido conhecida como Democracia Socia­­­lista, a quem chamou de "esse pessoal que nunca fez caixa 2".

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Delúbio foi acusado em 2005 de ser um dos principais operadores do mensalão, que consistiria no pagamento de propina a parlamentares em troca de apoio a votações de interesse do governo federal. Em depoimento ao Congresso, ele admitiu ter feito caixa 2 para pagar contas de campanha ao PT e acabou sendo expulso do partido. Agora, ele teria a intenção de pedir a sua refiliação. Para Vargas, não aceitar a volta dele seria uma "hipocrisia".

Ontem, o presidente estadual do PT, deputado Ênio Verri, discordou das declarações de André Vargas. "Me parece uma afirmação muito pesada do deputado André Vargas", disse, sobre a possibilidade de que só um ala do PT talvez discordasse. "Parece que todos os outros fazem caixa 2, o que não é verdade", disse. Verri disse concordar apenas em um ponto com o colega de partido: o sistema de financiamento privado de campanha, segundo ambos, induziria partidos a trabalhar com caixa paralelo.

A senadora eleita Gleisi Hoffmann, que assim como André Vargas é integrante do diretório nacional do PT, também rebateu as afirmações. "Eu não sou da Democracia Socialista. E nunca fiz caixa 2", disse. "A análise da filiação do Delúbio não vai depender de quem faz ou não faz caixa 2. Essa é uma discussão política mais profunda", disse. Segundo ela, o debate sobre a volta do ex-tesoureiro só deve ocorrer caso ele venha a pedir o ingresso.

Outro que contestou a opinião de André Vargas foi o deputado estadual Tadeu Veneri. Segundo ele, a prática de caixa paralelo não é generalizada. "As contas de todos os deputados, de todos os partidos são analisadas pela Justiça Eleitoral. E não acredito que seja uma prática típica de um ou de outro grupo", afirmou. Sobre a declaração de que apenas certos setores do PT terem mais reações à ideia de Delúbio ser refiliado, Veneri preferiu não falar. "É uma declaração irônica que não vale a pena comentar."

A reportagem tentou entrar em contato novamente com André Vargas ontem, mas ele não deu entrevista alegando que estava em reunião em Brasília. Depois não atendeu mais ao telefone.

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