Queda
Confira o número de CPIs mistas, do Senado e da Câmara, instaladas desde 2003: Lula 1 (2003-2006) 21Lula 2 (2007-2010) 19Dilma (2011-2014) 11
Embate político
CPIs perdem força no governo Dilma
Principais ferramentas para a apuração de suspeitas de irregularidades no governo, as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) perderam força durante o governo Dilma Rousseff. "Tudo mudou depois da CPI dos Correios", diz o senador Alvaro Dias (PSDB). Segundo ele, após a investigação, que apurou o mensalão, entre 2005 e 2006, a base governista redobrou os cuidados com a criação e o andamento de CPIs. O panorama está diretamente ligado à redução da oposição no Congresso. Os cinco partidos declaradamente oposicionistas na Câmara (PSDB, DEM, PPS, Psol e Solidariedade) têm atualmente o controle de 102 cadeiras. Em 2006, tinham 156. Para a instalar uma CPI, é necessário o apoio de 171 deputados. Atualmente, há três CPIs em funcionamento na Câmara (sobre trabalho infantil, tráfico de pessoas e exploração sexual de crianças e adolescentes) outras três no Senado (espionagem, assassinato de jovens negros e violação do direito humano à saúde). Nenhuma gera embate político com o governo.
Principais gestos de rebeldia da base aliada contra o governo nos últimos dias, as decisões de criar uma comissão externa para apurar irregularidades na Petrobras e de chamar dez ministros para prestar esclarecimentos na Câmara dos Deputados são mais um susto do que uma ameaça concreta à gestão da presidente Dilma Rousseff. Ambas as ferramentas têm alcance limitado na comparação com uma comissão parlamentar de inquérito (CPI), que dá aos congressistas poder de investigação equiparado ao das autoridades judiciais.
O constrangimento político provocado pelas ações também é relativo. Dos dez ministros chamados, seis foram convidados e quatro convocados. No primeiro caso, eles não são obrigados a comparecer e podem mandar representantes. Já a convocação torna a presença obrigatória a ausência injustificada é caracterizada como crime de responsabilidade. "Quem é convocado vai com a corda no pescoço, quem é convidado vai a passeio", diz o deputado paranaense Fernando Francischini (Solidariedade).
Representante do único partido de oposição no "Blocão", grupo de aliados a Dilma encabeçado pelo PMDB e descontente com o tratamento recebido pelo governo, Francischini é autor dos requerimentos que levaram às convocações dos ministros Manoel Dias (Trabalho), Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) e Jorge Hage (Controladoria-Geral da União). Os três foram aprovados pela Comissão de Fiscalização Financeira e Controle (CFFC). Desde 2011, outros oito requerimentos de convocação de ministros apresentados pelo deputado acabaram arquivados.
No ano passado, 11 ministros compareceram à CFFC, todos por convite. Atualmente, a comissão é comandada pelo PMDB o paraibano Hugo Motta é o presidente do grupo e o paranaense João Arruda, o vice. Na quarta-feira passada, coube a Arruda comandar a sessão que aprovou as convocações em massa.
Com 11 participações em CPIs, o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) é cético quanto à produtividade das audiências com ministros. "Acho até que eles gostam de serem chamados. O fenômeno que estamos presenciando agora nós já vimos no passado, é uma briga entre os aliados do governo para ver quem come a maior fatia do bolo. Na presença da autoridade, essa arrogância costuma diminuir", afirma o tucano.
Segundo Alvaro, a maneira como as audiências são conduzidas também colabora para esfriar o debate. "Quando o presidente da comissão quer blindar o ministro, ele permite que sejam feitos blocos de perguntas por vários parlamentares. Aí dá para responder o que quiser, não tem uma troca de ideias."
Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo foi convidado e compareceu 15 vezes nos últimos três anos a reuniões de comissões do Senado e da Câmara. "É uma prerrogativa do Congresso e para nós acaba sendo uma oportunidade", diz o ministro. Bernardo está na lista dos seis convidados na semana passada e vai falar na Comissão de Ciência e Tecnologia sobre ações realizadas pelo ministério e prioridades para 2014. "É um convite, mas na realidade a gente sabe que não tem como recusar." O requerimento partiu do deputado paranaense Sandro Alex (PPS).
Sem poderes
A comissão externa aprovada pela Câmara terá a missão de acompanhar o andamento da denúncia que envolve a empresa holandesa SBM Offshore, que aluga plataformas a companhias de petróleo. Há suspeitas de que a SBM teria pago suborno a funcionários da Petrobras. A comissão pode apurar fatos e fiscalizar. Mas não tem o poder de uma CPI, como determinar a quebra de sigilo bancário e telefônico.
Esplanada no Congresso
Veja quais são as altas autoridades do governo federal que terão de prestar esclarecimentos na Câmara:
CONVOCADOS*
Comissão de Fiscalização Financeira e Controle
Gilberto Carvalho
Secretário-Geral da Presidência
Motivo: irregularidade envolvendo repasses para ONGs
Jorge Hage
Ministro-chefe da Controladoria-Geral da União
Motivo: irregularidade envolvendo repasses para ONGs
Manoel Dias
Ministro do Trabalho
Motivo: irregularidade envolvendo repasses para ONGs
Aguinaldo Ribeiro
Ministro das Cidades
Motivo: andamento das obras de mobilidade urbana
CONVIDADOS**
Comissão de Fiscalização Financeira e Controle
Arthur Chioro
Ministro da Saúde
Motivo: esclarecimentos sobre o programa Mais Médicos, uso de avião da FAB, gastos para a saúde indígena, aluguel superfaturados de veículos da pasta e gastos com medicamentos
Graça Foster
Presidente da Petrobras
Motivo: esclarecer sobre denúncia de propina a funcionários da estatal
Comissão de Viação e Transportes
Moreira Franco
Ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil
Motivo: situação atual da secretaria e os projetos futuros para promover a modernização do setor aéreo
Comisão de Ciência e Tecnologia
Marco Antonio Raupp
Ministro da Ciência e Tecnologia
Motivo: ações realizadas em 2013 e planejadas para 2014
Paulo Bernardo
Ministro das Comunicações
Motivo: ações realizadas em 2013 e planejadas para 2014
Comissão de Integração Nacional
Francisco José Coelho Teixeira
Ministro da Integração Nacional
Motivo: falar sobre programas da pasta
Comissão do Esporte
Aldo Rebelo
Ministro do Esporte
Motivo: apresentar "planos" e "projetos" da pasta
* Convocação: são obrigados a comparecer ao Congresso num prazo de 30 dias, sob pena de crime de responsabilidade.** Convite: na prática, podem não comparecer.
Esquerda tenta mudar regra eleitoral para impedir maioria conservadora no Senado após 2026
Falas de ministros do STF revelam pouco caso com princípios democráticos
Sob pressão do mercado e enfraquecido no governo, Haddad atravessa seu pior momento
Síria: o que esperar depois da queda da ditadura de Assad
Deixe sua opinião