Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Sistema eleitoral

Reforma pode acabar com coligação nas eleições proporcionais

Modelo atual confunde eleitores ao permitir que voto em um candidato ajude a eleger outro de orientação política diferente

Romanelli e Elton Welter: STF teve de decidir se vaga na Assembleia ia para o partido ou para a coligação | Valterci Sanrtos/ Gazeta do Povo
Romanelli e Elton Welter: STF teve de decidir se vaga na Assembleia ia para o partido ou para a coligação (Foto: Valterci Sanrtos/ Gazeta do Povo)
Tiririca: ajudando a eleger candidatos de outros partidos |

1 de 1

Tiririca: ajudando a eleger candidatos de outros partidos

No sistema brasileiro atual, o eleitor corre o risco de votar em um candidato a deputado ou a vereador e ajudar a eleger, sem querer, alguém de um partido completamente diferente. As coligações nas eleições proporcionais fazem com que blocos de variados partidos contem como um só durante o período eleitoral – ou seja, os votos de um partido acabam somando para todos os candidatos da coligação. E o número final de votos dessa coligação é que vai determinar quantas cadeiras os partidos terão. No entanto, uma proposta da Comissão da Reforma Política do Senado, que será colocada em votação, visa acabar com essa situação.

Segundo o cientista político da UFPR Fabrício Tomio, a modificação desse sistema é positiva. "Acho que acabar com esse formato, no qual a coligação 'dissolve' os partidos políticos, é uma alteração positiva relevante", afirma. No entanto, ele vê com ressalvas o impedimento total das coligações. "A forma como as coligações estão sendo feitas está equivocada, mas os partidos devem ser livres para se associar."

Para a cientista política da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Maria do Socorro Braga, as coligações são importantes para garantir que os partidos menores tenham a possibilidade de eleger candidatos. Muitas vezes, partidos pequenos têm dificuldade de atingir, sozinhos, o quociente eleitoral. Mesmo assim, contam com candidatos viáveis e com representatividade na sociedade. "Em um sistema eleitoral com tantos partidos como o nosso é importante que haja esse dispositivo, para permitir a representação dos partidos menores", afirma.

Posição parecida tem a cientista política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Silvana Krause. Para ela, as coligações em si não representam um problema. No entanto, a maneira como elas são feitas no Brasil gera distorções na representação parlamentar. "Só é possível permitir coligações entre partidos quando há critérios mais justos na distribuição das cadeiras e mecanismos de constrangimento para partidos que se 'divorciem' depois das eleições", comenta.

Segundo Silvana, há dois momentos nos quais essa coligação pode trazer problemas. Primeiro, durante a eleição: quem vota em um determinado candidato acaba votando também em outro partido coligado. Isso gera inúmeras distorções. Um exemplo é quando um determinado partido consegue muitos votos de legenda mas sem políticos com votações grandes – nesse caso, as cadeiras podem acabar migrando para uma legenda mais fraca, mas com alguns poucos candidatos mais fortes.

Outro caso claro de distorção é quando grandes "puxadores" de votos, como, por exemplo, o deputado federal Tiririca (PR-SP), fazem votações muito acima do quociente eleitoral e "puxam" candidatos de outros partidos – no caso de Tiririca, os beneficiados foram Otoniel Lima (PRB), Vanderlei Siraque (PT) e o delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz (PCdoB). "A maneira como as coligações são feitas reforça carreiras pessoais e fragiliza os partidos. Os votos de legenda perdem peso", afirma Tomio.

As coligações também podem representar um problema depois das eleições. A discussão sobre a titularidade do mandato, por exemplo, só foi encerrada neste ano, com decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que favorece as coligações. Isso significa, por exemplo, que a cadeira na Assembleia do secretário de Estado do Trabalho, Luiz Cláudio Romanelli (PMDB), membro do governo Beto Richa, pode ser ocupada por um deputado da oposição, Elton Welter (PT). Os dois participaram da mesma coligação em 2010.

As mudanças que estão em debate, no entanto, dizem respeito apenas às eleições proporcionais. Para disputar cargos no Executivo e no Senado, os partidos poderão continuar se coligando. Além disso, não há nenhuma restrição prevista a candidatos a deputado de partidos diferentes que queiram dividir palanque. A única diferença é que o voto em um candidato só servirá para eleger parlamentares de seu partido.

Interatividade

O fim das coligações ajudaria a tornar as eleições no Brasil mais compreensíveis para o eleitor?

Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br

As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor

Principais Manchetes

Tudo sobre:

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.