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Brasília (AE) – Foi um fim melancólico. O rei do baixo clero, Severino Cavalcanti (PP-PE), despediu-se da presidência da Câmara de uma maneira conturbada. Antes de deixar o plenário, teve de ouvir de estudantes que acompanhavam a sessão de sua renúncia das galerias, que já ia tarde. Saiu quase escondido.

Severino passou pouco tempo na Casa que presidiu também por poucos meses – de fevereiro até ontem. Chegou à Câmara, acompanhado da mulher, Amélia, e das filhas Ana e Catarina, alguns minutos antes das 4 horas da tarde e foi direto para o plenário. Foi recebido pelos deputados e companheiros de partido: Francisco Dornelles (PP-RJ), Simão Sessim (PP-RJ), Reginaldo Germano (PP-BA) e pelo corregedor da Câmara – seu afilhado político – Ciro Nogueira (PP-PI). Ouviu algumas palmas, poucas. Uma hora e 10 minutos depois, já estava de saída depois de renunciar ao mandato, em direção a um apartamento funcional na quadra 302 norte, onde morava antes de ser eleito presidente.

O último dia como presidente começou cedo. A romaria de deputados iniciou antes das 9 horas. Severino tinha recém acordado, mais tarde do que o de costume, porque fora dormir já de madrugada. O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), foi um dos primeiros a visitá-lo. Depois, passaram pela casa da Presidência da Câmara, o vice-presidente da Casa, José Thomaz Nonô (PFL-AL) – desde ontem presidente interino –, Sandro Mabel (PL-GO), o primeiro-secretário da Mesa, Inocêncio Oliveira (PL-PE), e mais uma dúzia de deputados, a maioria do chamado baixo clero.

Nas últimas horas na residência oficial de presidente, Severino recebeu vários telefonemas, especialmente de sua cidade natal, João Alfredo (PE). Sentiu falta, no entanto, de um. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem se considerava amigo, não lhe telefonou.

Almoçou dobradinha. À tarde, ensaiou o discurso e chegou a brincar com os filhos. Ao ler o texto uma última vez, na parte em que diria "Resistirei", perguntou: "mas como eu digo resistirei se vou renunciar?", ao que a filha Catarina e dona Amélia responderam: "Está louco, nem pensar em mudar de idéia agora".

A aparente tranqüilidade de Severino parece ter acabado ao chegar na Câmara para seu último dia como presidente. Presidiu a sessão pela última vez, por pouco mais de 20 minutos. Concedeu a palavra a meia dúzia de deputados e fez seu discurso da cadeira da presidência.

Visivelmente tenso, o deputado emocionou-se algumas vezes durante o discurso. Falou 22 minutos para um plenário que registrava 330 deputados presentes.

Severino encerrava o discurso quando Wilma Pessoa, professora da Universidade Federal Fluminense, levantou-se na galeria e gritou: "Vai embora, Severino". No silêncio do plenário, o grito soou como um trovão. Abafou os poucos aplausos que se ensaiavam. Nas palavras de ordem que se seguiram, cantadas por estudantes, Severino saiu quase despercebido.

Desde 1995 como deputado federal em Brasília, oito anos com um cargo ou outro na Mesa da Câmara, seis meses como presidente da Casa, Severino fica ainda poucos dias em Brasília. A mudança já está pronta.

Da casa da presidência saíram apenas objetos pessoais, como os santos de dona Amélia.

Nos próximos dias, o ex-presidente e sua mulher vão operar a juntos a catarata. Segundo Severino, para "voltar a enxergar longe". Depois, de volta a João Alfredo, de onde promete voltar na próxima eleição com o dobro de votos.

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