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Uma grande confusão em torno das notas taquigráficas do depoimento reservado do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), irritou nesta sexta-feira os relatores Renato Casagrande (PSB-ES) e Marisa Serrano (PSDB-MS) e levantou suspeita sobre atuação da secretária-geral da Mesa, Cláudia Lyra, que já deu outras demonstrações de lealdade a Renan. Os relatores esperaram o dia inteiro a transcrição, prometida pelo serviço de taquigrafia para as 8h manhã. No fim do dia, Serrano teve de procurar pessoalmente Lyra para conseguir, somente às 20h, que o texto fosse encaminhado aos relatores.

O que provocou mais dúvidas foi o fato de Cláudia Lyra ter assumido pessoalmente a tarefa de revisar o depoimento tomado por outros funcionários da taquigrafia na noite anterior. Diante das páginas rabiscadas e com bastante correções, ela justificou que havia erros, trucagens e senadores não identificados. Para se certificar que não houve alterações, Marisa Serrano vai requisitar a cópia das fitas gravadas do depoimento.

- Quer dizer que além de sessão secreta no Conselho agora também notas taquigráficas secretas? A Marisa Serrano esteve lá em nosso nome para resolver a liberação. Nós temos as fitas e nos lembramos do depoimento. Se tiver alterações, vamos perceber. Isso é uma besteira, é tentar cercar água com a mão. Isso só cria especulação negativa para o Renan - disse Casagrande.

No fim do dia a secretária Cláudia Lyra divulgou um ato de 1997, do então presidente do Senado Antônio Carlos Magalhães, dizendo que cabia à "secretária geral adjunta" supervisionar, coordenar e orientar as subsecretárias de taquigrafia e expediente. Esse era o cargo que Lyra ocupava à época - hoje é a secretária geral titular, indicada para a função por Renan. E no caso do depoimento reservado de Renan, ela não supervisionava ou coordenava, fez pessoalmente os ajustes que poderiam ser feitos pelas taquigrafas que acompanharam o depoimento. Segundo informações que circulavam no Senado, ela havia tirado as notas do depoimento do departamento de taquigrafia na noite de quinta-feira.

'O Globo': Renan pode ter mentido em depoimento

Reportagem do jornal "O Globo" deste sábado mostra que Renan pode ter mentidoem depoimento reservado aos relatores do seu caso no Conselho de Ética, falta considerada grave no julgamento de processos para perda de mandato por quebra de decoro. Na noite de quinta-feira, Renan alegou ao Conselho não ter declarado os supostos empréstimos de R$ 687,5 mil que tomou da empresa Costa Dourada Veículos, nos anos de 2004 e 2005, porque o dinheiro foi usado para complementar despesas oriundas da sua relação, então sigilosa, com a jornalista Mônica Veloso.

O problema é que a versão não bate com a declaração de Imposto de Renda de Renan de 2007, ano base 2006, em que Mônica já aparece oficialmente como beneficiária de pensão para a filha, no montante de R$ 36.973,50. Como a declaração de 2007, a de 2006, ano base 2005, omite os supostos empréstimos, apesar de a pensão ter sido oficializada no fim de 2005.

Renan se compara a Rui Barbosa e volta a atacar a Abril

O presidente do Senado subiu à tribuna nesta sexta-feira dizendo que tinha dois comunicados muito importantes para o Congresso e o Brasil. No primeiro deles, Renan disse que foi quinta-feira espontaneamente ao Conselho de Ética do Senado para prestar explicações sobre os processos abertos contra ele e que, com isso, abreviou em dez dias o prazo que tinha para tentar impugnar o laudo da Polícia Federal, que aponta várias divergências nos documentos apresentados em sua defesa.

No segundo comunicado, Renan acusou o grupo Abril, que publica a revista "Veja", de cometer irregularidades no mercado de TV a cabo. Segundo ele, a Abril tenta trocar "os laranjas" usados numa negociação envolvendo a TVA para aprovar um "negócio flagrado na ilegalidade". Segundo Renan, o negócio fere os interesses nacionais porque o transfere o controle de uma TV para uma holding estrangeira. Ele disse que está prevista para semana que vem uma reunião do conselho diretor da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), "com toda aparência de remendo", em que seria aprovada a troca de acionistas da TVA. A editora da revista - que já publicou três denúncias contra Renan -vem sendo alvo constante do presidente do Senado.

Renan disse ainda que, por acreditar na democracia, vem enfrentando serenamente todas as "acusações artificiais" que tentam transformar um caso de Vara de Família em crise política nacional. Renan se comparou a Rui Barbosa, que também teria enfrentado "um duro processo para mostrar sua verdade", e disse que tem reagido às acusações sem pôr em risco nenhuma das instituições da República.

- O próprio Rui Barbosa, patrono desta Casa, quando foi descrito como "maníaco da infamação do seu país", lutou pela restauração da verdade e da sua imagem, deixando registrada essa magnífica passagem - disse.

Ao deixar a tribuna, Renan foi indagado pelos jornalistas sobre a segunda representação movida contra ele - a que o acusa de favorecer a Schincariol.

- Eu ainda nem fui citado nesse processo. A cada dia a sua agonia - respondeu.

No dia 7, a Mesa do Senado encaminhou ao Conselho de Ética representação do PSOL pedindo que se investiguem as relações do presidente da Casa com a cervejaria. Reportagem "Veja" afirma que Renan tentou beneficiar a empresa no INSS e na Receita Federal, depois que esta comprou uma fábrica derefrigerante do seu irmão, deputado Olavo Calheiros, por um valor bem acima do praticado pelo mercado. O relator do caso, senador João Pedro (PT-AM), afirmou que aguarda somente resposta ao expediente que enviou a Renan, pedindo explicações sobre as denúncias, para, então, reunir-se com o presidente do conselho, senador Leomar Quintanilha (PMDB-TO), e "formar um juízo" sobre o caso.

Aliados pedem uma CPI para investigar Abril

Com o estímulo dos líderes do PCdoB, Renildo Calheiros (PE), irmão de Renan, e do PT, Luiz Sérgio (RJ), foi requerida, na noite de quinta-feira na Câmara, a instalação da já chamada CPI da Abril. A comissão atende a um anseio de Renan, que já ocupou a tribuna diversas vezes para acusar a Editora Abril, que vendeu a TVA, de persegui-lo no noticiário da revista "Veja".

A criação da CPI só depende de decisão do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), que aguarda parecer da assessoria jurídica sobre a existência ou não de fato determinado.

O Grupo Abril divulgou nota nesta sexta sobre a criação da CPI: "É uma tentativa espúria de alguns poucos, dentro e fora do parlamento, para manipular a Câmara dos Deputados de modo a atingir a Abril pelos fatos que VEJA tem revelado sobre o senador Renan Calheiros".

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