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O governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), tomou posse ontem e proferiu um discurso agressivo e cheio de mágoas, adquiridas durante a eleição, a qual venceu por uma diferença de apenas 10.479 votos. Extremista e disposto a radicalizar nos próximos quatros anos, o governador disse que alguns de seus companheiros pediram que houvesse uma busca de conciliação e harmonia, mas que ele não está disposto a seguir esse caminho.

O tom do pronunciamento foi o mesmo da entrevista concedida após a eleição, no início de novembro. Os principais alvos das palavras de Requião foram seus adversários políticos e a imprensa. O discurso de posse foi dedicado ao ex-governador de São Paulo, Cláudio Lembo

(PFL), que também atacou as elites brasileiras em entrevista a um jornal.

Das dez páginas de seus discurso, Requião usou três para reclamar da disputa eleitoral, embora tenha dito que não estava lamentando a vitória apertada. Outras duas foram dedicadas à exposição de sua ideologia, afirmando ser "totalmente de esquerda". Requião também falou sobre sua administração anterior, mas dedicou poucas palavras ao que será feito neste mandato. No restante do tempo, criticou a mídia, a qual acusa de "má fé cínica ou ignorância córnea".

Requião culpou os adversários pela vitória apertada. "De todas as disputas, desde que fui eleito deputado em 1982, essa foi a mais difícil de todas. Nunca se viu uma união de forças tão poderosa, obstinada, arrogante e sem escrúpulos como a que enfrentamos", afirmou. "Fizeram ressurgir a cólera em nosso estado. Passaram como uma horda de bárbaros sobre as mais comezinhas regras de convivência", declarou Requião, dizendo que seus adversários tentam "o mito da cordialidade toda vez que se vêem em perigo ou depois de uma derrota".

O governador disse ainda que, do lado oposto a ele, estavam todos os interesses contrariados e os que "não produziram mais que 38 mil empregos com carteira assinada". Segundo ele, há entre seus adversários quem "sinta urticária quando se fala em povo". Requião atacou também quem o chama de populista e os que têm "horror a um Hugo Chávez (presidente da Venezuela), a um Evo Morales (presidente da Bolívia), a um Rafael Correa (presidente do Equador)".

Com o discurso de quem vai mesmo radicalizar até 2010, Requião afirmou que seu governo não é de centro-esquerda, mas sim, de esquerda. "Não venham com centrismos, com equilibrismo. Somos um governo de esquerda. E que a má interpretação ou a distorção daquilo que disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não sirva de pretexto para que alguns neguem o lado em que nos posicionamos", disse o governador, em uma das raras vezes que citou o presidente da República.

Para o governador, "a direita julga que o poder é dela, por delegação natural, como se fosse a reprodução do direito divino dos reis", citou, lembrando a frase do ex-presidente da França François Mitterrand. "Assim, para a direita, a eventual ascensão da esquerda é usurpação, é anti-natural".

Como já vinha fazendo desde as eleições, Requião se voltou contra a imprensa. Segundo ele, não haverá dinheiro para a "grande mídia" do Paraná nos próximos quatro anos. "Batam como quiserem, mas os recursos do estado serão colocados exclusivamente nos programas de infra-estrutura e nos programas sociais", disse. Requião afirmou que quer no Paraná uma comunicação popular, que busque o envolvimento da sociedade, comunique a diversidade de opiniões e que favoreça a inclusão do maior número de cidadãos no debate político.

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