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O coronel Fernando Camargo, do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes (Cenipa), informou nesta terça-feira, em Washington, que o trabalho de extração de dados das caixas-pretas do Airbus da TAM já foi concluído nos laboratórios da agência federal americana NTSB (sigla em inglês para Conselho Nacional de Segurança dos Transportes). Ele espera voltar na sexta-feira para o Brasil com todo o material, que será então analisado pelo Cenipa.

- Houve aproveitamento total, 100% do conteúdo das duas caixas-pretas já foram extraídos - afirmou.

Segundo ele, será feita nesta terça-feira a transcrição do gravador de áudio, chamado CVR, contendo sons captados na cabine dos pilotos, que faz parte de uma das caixas-pretas. Como a investigação é internacional, os peritos ouvem os diálogos dos pilotos e transcrevem para o inglês.

Já na coleta de dados do FDR, como é chamado o gravador de dados de vôo, contido na outra caixa-preta, foram encontrados 580 parâmetros de vôo - capacidade da caixa. Destes, foram escolhidos 60 principais, que seriam a chave para encontrar as causas do acidente.

- Caso seja necessário, avançaremos - explicou o coronel.

Deputados da CPI voltam atrás

Os deputados Marco Maia (PT-RS) e Efraim Filho (DEM-PB) durante entrevista em Washington sobre o exame das caixas-pretas do Airbus da TAM - José Meirelles Passos - O Globo Os deputados Efraim Filho (DEM-PB) e Marco Maia (PT-RS), que viajaram a Washington para acompanhar os exames das duas caixas-pretas representando a CPI do Apagão, fazem nesta terça-feira uma visita guiada ao laboratório da NTSB. Na segunda-feira, os deputados chegaram a dizer que uma análise preliminar das caixas pretas indicava que o piloto da TAM não tentara arremeter e sim frear o avião; e que a pista molhada, escorregadia e inacabada do aeroporto de Congonhas, contribuíra para a pior tragédia da aviação brasileira. O próprio Efraim voltou atrás nas informações, admitindo, em entrevista coletiva em Washington, que ele, na verdade, se baseara num levantamento preliminar feito por investigadores da Aeronáutica no Brasil.

- Falei com base em informações colhidas no local do acidente. Parece que os pilotos não tiveram condições de arremeter - corrigiu o parlamentar.

O desencontro de informações fez o brigadeiro Kersul Filho, chefe do Cenipa, ligar para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para negar que a análise das caixas-pretas tenha indicado que a aeronave tentou frear e não arremeter ao pousar em Congonhas.

Segundo Kersul Filho, a análise feita até a noite de segunda-feira não permitia esse tipo de especulação. De acordo com técnicos que trabalham na extração de dados daquele equipamento em Washington, as informações transmitidas para o Brasil pelo deputado Efraim não passam de hipóteses.

Dados específicos a respeito ainda não foram colhidos no exame das caixas-pretas. Tanto Efraim quanto o seu colega Marco Maia, sequer tinham tido acesso ao prédio da agência federal americana NTSB (Conselho Nacional de Segurança nos Transportes). Marco Maia também não confirmou posteriormentes as informações que divulgara com Efraim.

Falta de reversor, pista molhada, excesso de peso

Vista da pista do Aeroporto de Congonhas atraves do predio administrativo da Tam - Sao Paulo -SP - Digital O vôo 3054 da TAM pousou na pista curta de Congonhas, na terça-feira da semana passada, com 100% de lotação e peso perto do limite (98%), sem que o piloto pudesse contar com a ajuda do reversor da turbina direita. A falta de um reversor no Airbus, aliada à pista molhada e escorregadia do Aeroporto de Congonhas, que foi recém-reformada e ainda não recebeu o grooving (ranhuras para escoamento de água), podem ter, juntas, contribuído para o desastre, o pior da aviação comercial brasileira.

Nas investigações, as autoridades poderão determinar se a falta do reversor direito foi preponderante ou não no caso específico da tragédia em Congonhas. A pista não tinha acúmulo de água, mas estava molhada e havia chegado a ser fechada por 23 minutos, uma hora e 20 minutos antes do acidente .

O problema no reverso foi apontado pelo próprio sistema de checagem eletrônica da aeronave. A TAM diz ter seguido o manual do fabricante, aceito pelas autoridades aeroportuárias, ao decidir manter o avião em operação e usá-lo em Congonhas com um reversor desativado.

Na quarta-feira, na entrevista à imprensa, a TAM assegurou que a aeronave estava em perfeitas condições técnicas

Um dia antes da tragédia, um turboélice da Pantanal derrapou na pista de Congonhas . Não houve feridos. A aeronave parou na lama. No mesmo dia em que o avião da Pantanal derrapou, véspera do desastre, o mesmo Airbus da TAM tinha enfrentado problemas para pousar em Congonhas. No pouso do vôo 3215, que saiu de Confins (BH) e pousou em São Paulo às 13h48m, o avião parou só no limite da pista, segundo revelou o Jornal Nacional. O piloto relatou apenas que a pista estava molhada, mas não citou problema na aeronave.

Tecnicamente, as aeronaves têm três tipos de freio. Um deles é das rodas, outro é aerodinâmico (flaps) e o terceiro é o reverso, que inverte o fluxo da turbina, ajudando o avião a desacelerar.

- O avião passou por revisão há três meses e não apresentou pane significativa. No sábado, houve reporte de mau sinal do reverso direito. Mas, pelo manual, ele poderia voar até mesmo sem os dois reversores - disse o vice-presidente da TAM, Rui Amparo, ao Jornal Nacional .

O executivo disse ainda que o livro de bordo do avião não registrou "nenhuma pane grave" no pouso problemático da segunda-feira, véspera do acidente.

Apesar da posição da TAM e da Aeronáutica, especialistas ouvidos pelo jornal O Globo, afirmam que o reverso é importante para o pouso em pistas curtas e molhadas. Um comandante da Gol, que não quis se identificar, informou que a companhia orienta seus pilotos a não pousarem em Congonhas em dia de chuva sem o reverso.

O chefe do Cenipa afirmou que as marcas deixadas na pista mostram que o avião teve um deslocamento à esquerda. Segundo ele, há várias hipóteses para que isso tenha ocorrido, entre elas alterações no reverso da aeronave e diferenças no acionamento do freio. Kersul Filho assinalou que apenas o Airbus da TAM sofreu este deslocamento. Mesmo com a possibilidade de ter ocorrido algum problema na aeronave, o Cenipa acredita que a pista de Congonhas deverá ser usada apenas quando estiver seca ou, no máximo úmida, até que sejam apuradas as causas do acidente.

Para o presidente da Associação dos Pilotos e Proprietários de Aeronaves (Appa), George Sucupira, é possível que tenha havido divergências entre comanante e co-piloto após o pouso, na tentativa de evitar o desastre. Segundo ele, é possível que já no fim da pista, enquanto o comandante freava a aeronave, o outro tenha tentado uma manobra de última hora para arremeter.

No domingo, a TAM recomendou a seus pilotos que não pousem em Congonhas em dias de chuva. Na semana passada, o presidente da empresa, Marcos Bologna, havia dito que o aeroporto é seguro mesmo em dias chuvosos .

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