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O tempo de Milena, de 9 anos, foi curto para a longa espera que a crise da saúde exige dos doentes crônicos. Ontem, depois de uma semana de espera no Hospital do Fundão, onde não há UTI pediátrica, a menina, hospitalizada com complicações de uma artrite psoriática (que provoca dores nas articulações e descamações na pele), morreu pouco antes de a família finalmente conseguir uma liminar da Justiça determinando a internação imediata dela numa unidade de tratamento intensivo especializada, fosse na rede pública ou privada.

- Infelizmente, Deus não quis. Chegou a hora dela. Estava acertando os últimos detalhes com o juiz quando soube que ela havia falecido - contou o tio de Milena, o pastor Jorge dos Santos Reis. - Quando ela foi internada, estava com falta de ar. Com a demora em conseguir UTI, o estado dela piorou muito. Agora no final, os próprios médicos nos alertaram para o perigo da remoção mas tínhamos decidido arriscar para tentar salvar a vida dela. Não foi possível.

O relato do tio de Milena Monteiro Gomide é mais um caso da via-crúcis de pacientes para obter desde um simples medicamento até equipamentos como respiradores ou a simples internação numa UTI. O desfecho de mais uma história trágica de paciente expõe a intensidade da crise que atinge toda a rede de saúde pública. Como o Hospital do Fundão não tem UTI pediátrica, a família tentou sem sucesso uma vaga para Milena nos hospitais de Bonsucesso e dos Servidores (federais) e até no Souza Aguiar (municipal).

Por último, depois de acionar o plantão da Defensoria Pública na madrugada de ontem, uma equipe do Corpo de Bombeiros foi colocada à disposição para transportar Milena, com uma ordem judicial para interná-la em qualquer hospital particular.

- Embora o laudo vá apontar uma causa para a morte da Milena, na prática ela não morreu de infecção generalizada ou de outra complicação qualquer. Ela foi vítima da omissão. Sofria com a descontinuidade do fornecimento de remédios e sofreu até o final. No mundo todo, os artríticos têm outra expectativa de vida, aqui estão morrendo - revoltou-se Iva Rosa Coppede, arquiteta, que também sofre de artrite e está organizando uma federação para defender os direitos dos portadores desta doença crônica. Ela vinha tentando ajudar a família de Milena, que é de Nova Iguaçu.

O estado de saúde de Milena, que às vezes ficava sem os medicamentos de uso contínuo, havia se agravado nos últimos dias. Além de dores causadas pela artrite, ela estava com feridas pelo corpo. A família disse que não tem interesse em pedir indenização ao estado.

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