Deputados Zé Geraldo e Wellington Roberto trocaram tapas durante a sessão do Conselho de Ética.| Foto: LLula Marques/ Agência PT

Em uma das semanas mais quentes da história política brasileira recente, parlamentares agiram como gladiadores e transformaram o plenário da Câmara e outras dependências da Casa em verdadeiras arenas dignas dos confrontos de vale-tudo. Cenas de pugilato no Congresso não são inéditas, mas elas se alastraram pela capital federal, chegando a uma festa de confraternização natalina dos senadores. Dificilmente serão esquecidas por aqueles que observam o cotidiano de Brasília.

CARREGANDO :)

O clima começou a esquentar na segunda-feira, um dia tradicionalmente morno na cidade. Quando o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), decidiu adiar a instalação da Comissão do Impeachment e autorizar a criação de uma chapa antigovernista, líderes partidários alinhados ao Palácio do Planalto abandonaram a sala de reuniões aos gritos. Era apenas um prenúncio do tumulto que o assunto iria provocar no dia seguinte.

CRISE POLÍTICA: Acompanhe as últimas notícias sobre o Impeachment da presidente Dilma

Publicidade

A terça-feira foi marcada por confusões. A mais emblemática delas aconteceu no plenário da Câmara. Pouco depois de mais um bate-boca no Conselho de Ética entre deputados favoráveis e contrários à cassação de Eduardo Cunha, os parlamentares marcharam para definir qual seria a composição da Comissão do Impeachment. Indignados com a determinação do presidente da Casa de fazer uma votação secreta para escolha entre as duas chapas, deputados do PT tentaram impedir a votação.

Veja também
  • Ministros do STF defendem que corte atue discretamente no impeachment
  • Dilma exonera aliado de Cunha da vice-presidência da Caixa
  • Graças a ‘truques’, admissibilidade do processo contra Cunha só deve ser votada em 2016
  • Toffoli teme que nova lei incentive doações criminosas na eleição de 2016

Ignorados em seus pedidos de questões de ordem, que foram sumariamente rejeitados por Cunha, decidiram partir para uma obstrução literal. Colocaram-se em frente às cabines de votação e começou o empurra-empurra, sob muita tensão. Afonso Florence (PT-BA) jogou computadores usados para votação no chão. Técnicos da área de informática foram chamados para reativar os equipamentos danificados.

Os deputados Jorge Solla (PT-BA) e José Carlos Aleluia (DEM-BA) foram às vias de fato. Solla alegou que foi empurrado por Aleluia, e que a agressão resultou na quebra de uma das urnas. O deputado Laerte Bessa (PR-DF) deu uma cabeçada em um colega. Vários núcleos de tumulto se formaram no plenário. Um dos mais fiéis escudeiros de Cunha, o deputado Paulinho da Força (SD-SP) se atracava com governistas.

Publicidade

O saldo da batalha: três das 14 urnas destruídas e uma decisão liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) que mandou parar tudo até a definição de um rito para o processo.

Durante toda a semana, faltou compostura e elegância. O líder do governo, José Guimarães (PT-CE), que não é uma referência na hora de se expressar, conseguiu resumir de forma acurada o sentimento geral: “Nessa Casa, infelizmente, pode tudo. Não tem mais glamour, está se transformando nessa baixaria. Quantas saudades de Ulysses Guimarães”, disse o petista.

A quarta-feira foi um dia de mais emoções na Câmara. Eduardo Cunha conseguiu destituir o relator de seu processo de cassação no Conselho de Ética, Fausto Pinato (PRB-SP), e a tramitação voltou à estaca zero. A sessão ocorreu sob muita troca de ofensas.

Até mesmo o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ficou perplexo com as manobras de Cunha. Na noite de quarta-feira (9), Renan foi flagrado pelo jornal O Globo em uma conversa na qual dizia o que muitos pensam, mas poucos no mundo político se atrevem a dizer: “A influência dele [Cunha] na comissão vem desde lá de trás. Mas, se ele continuar destituindo relator, trocando líder, manobrando com minorias, vão acabar decretando a prisão dele”, disse.

Publicidade

A fala de Renan foi apenas o aperitivo do que estava por vir na festa de confraternização natalina com a presença do vice-presidente Michel Temer, senadores da base e da oposição na casa do líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE).

Em um momento que deixou constrangidos os convidados, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, e o senador José Serra (PSDB-SP) protagonizaram um verdadeiro “barraco” que terminou com a peemedebista jogando sua taça de vinho no tucano depois de um bate-boca provocado por uma brincadeira mal recebida. Serra, conhecido pelas colocações pouco felizes, chamou Kátia de “namoradeira”.

A taça de vinho endereçada a Serra foi lançada horas antes da sessão do Conselho de Ética em que dois deputados saíram no tapa. Na manhã de quinta-feira (10), quando seria apresentado projeto defendendo o afastamento do presidente da Câmara do cargo até o julgamento do seu caso, a sessão chegou a ser suspensa após uma briga entre Zé Geraldo (PT-PA) e Wellington Roberto (PR-PB) . Os dois trocaram ofensas e tapas e tiveram que ser contidos por colegas. Zé Geraldo assumiu algum “constrangimento”, mas disse que não tinha se arrependido. As próximas semanas prometem.