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Sarney disse que não foi eleito para “limpar o lixo das cozinhas do Senado” | Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr
Sarney disse que não foi eleito para “limpar o lixo das cozinhas do Senado”| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

Brasília - Pela primeira vez desde que assumiu a presidência do Senado, em fevereiro, José Sarney (PMDB-AP) ouviu ontem publicamente sugestões para que se licencie do cargo. Os apelos partiram dos senadores Cristovam Buarque (PDT-DF) e Arthur Virgilio (PSDB-AM), durante mais um dia tenso no plenário. Sarney defendeu-se dizendo que não irá "acobertar" irregularidades e apresenta hoje o relatório da comissão de sindicância que investigou os 632 atos secretos da Casa nos últimos 14 anos.

O clima começou a esquentar no começo da tarde, quando Virgilio anunciou que faria uma série de novas denúncias contra os ex-diretores do Senado João Carlos Zoghbi (Recursos Humanos) e Agaciel Maia (Direção-Geral). O líder do PSDB chamou os dois de "criminosos". Além disso, acusou Maia de chantagear os colegas Eduardo Suplicy (PT-SP) e Pedro Simon (PMDB-RS), além de Cristovam Buarque.

O ex-diretor teria informações comprometedoras dos três, que negaram qualquer intimidação. Suplicy teria usado a cota de passagens com a namorada, a jornalista Mônica Dallari, enquanto Buarque teria usado de influência para conseguir um cargo para a própria esposa na liderança do PDT. Simon também teria usado passagens aéreas indevidamente.

Virgilio disse que a situação colocava Sarney em xeque. Em tom de ultimato, declarou que só voltará a apoiar Sarney quando ele promover uma repreensão drástica aos ex-diretores. "Se vossa excelência (Sarney) não tiver como romper com essa camarilha (Zoghbi e Maia), perderá as condições de governar essa Casa."

Já Buarque propôs que Sarney deixasse o cargo por 60 dias. "Que ele passe a presidência ao vice-presidente, que eu espero que terá uma velocidade maior, sintonizada com a velocidade da opinião pública." A sugestão beneficiaria o primeiro vice-presidente da Casa, Marconi Perillo (PSDB-GO).

Buarque declarou que não tem qualquer problema pessoal com Sarney, mas que a saída temporária seria uma maneira para que ele pudesse contribuir para o fim da crise do Senado. "Fiz essa mesma sugestão ao então presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), em 2007." Calheiros renunciou ao cargo em 2007 e conseguiu escapar de dois processos de cassação que chegaram ao plenário.

Escolha compartilhada

Em discurso, Sarney admitiu que nomeou Maia para a direção-geral do Senado há 14 anos. Por outro lado, reforçou que a decisão contou com o respaldo de um abaixo-assinado com o apoio de "quase todos" os colegas. Assim como na defesa feita em plenário há uma semana, ele voltou a dizer que não foi eleito para cuidar dos problemas administrativos da Casa.

"Julguei que eu fosse eleito presidente para usar e presidir politicamente a Casa e não para ficar submetido a procurar a despensa ou a limpar o lixo das cozinhas do Senado." Sarney também enumerou uma série de medidas que foram tomadas ao longo dos últimos quatro meses para moralizar o trabalho legislativo, como as novas regras para uso de passagens aéreas e a publicação detalhada dos gastos com verba indenizatória. Além disso, novas medidas devem ser apresentadas amanhã.

A expectativa é que a comissão de sindicância sobre os atos secretos proponha que o Tribunal de Contas da União audite todos os atos e até a folha de pagamento do Senado. A comissão também deve apresentar a tese – já defendida por Sarney – de que na verdade não houve qualquer atitude secreta. Os problemas teriam ocorrido devido à vulnerabilidade do sistema de registro eletrônico dos atos.

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