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 | Antônio More/Gazeta do Povo
| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Eleita vereadora de São Paulo pelo PT, em 2004, Soninha Fran­­cine passou para o lado da oposição em 2007. Foi para o PPS – partido do deputado paranaense Rubens Bueno – e, depois de perder duas eleições para a prefeitura de São Paulo, anunciou que pretende se candidatar à presidência da República. Apesar de ainda encontrar resistência de algumas alas da legenda, Soninha se mostra confiante na pré-campanha. "Em vários lugares do país a candidatura própria é considerada como a primeira opção", diz nesta entrevista à Gazeta do Povo. Um dos compromissos da pré-candidata ocorre em Curitiba hoje – ela vai acompanhar o Congresso Estadual do partido. A ex-vereadora, conhecida pelo seu trabalho como VJ da MTV Brasil, afirma que pode ser uma alternativa aos eleitores descontentes com a ida da ex-ministra Marina Silva para o PSB, de Eduardo Campos. Soninha também se autodenomina como uma alternativa dentro da oposição. "Não achamos que foi bom e tem que melhorar, temos certeza de que não foi bom", afirma, ao avaliar o governo petista.

Você ainda encontra resistência de algumas alas do partido para candidatura própria. Como está sendo essa busca por apoios?

Em vários lugares a candidatura própria é a primeira opção. Depois da ida da Marina [Silva] para o PSB, grande parte do eleitorado ficou desatendida. Tem os que já achavam que o PPS deveria ter candidatura própria mesmo antes disso, como é o caso do Rubens [Bueno]. Outros veem que o partido pode dar uma contribuição maior, aparecendo e tendo voz no horário eleitoral e nos debates. Certamente serei vista pelo eleitorado que se queixa do velho modelo da política. Muita gente anseia por alguém com pé no chão, com uma vivência próxima das pessoas, que responda a verdade, mesmo que a resposta não soe muito agradável. Em 2008, quando me perguntavam se eu pretendia fazer o metrô, eu dizia que não, porque, com R$ 1 bilhão, poderíamos fazer uma revolução no sistema de ônibus, que está longe de ser um sistema. Curitiba ainda é vista como modelo, mas o sistema também está sobrecarregado aqui. Falo de verdade no que acredito, não para tentar agradar o eleitorado, mesmo que as pessoas sejam seduzidas pelas mentiras.

O que a diferencia dos outros candidatos da oposição?

O PPS é mais contundente nas críticas ao governo do que os partidos de outros candidatos. Os outros têm cuidado em não contrariar a aprovação ao governo Dilma. Não achamos que foi bom e tem que melhorar, temos certeza que não foi bom. Não faz diferença se 80% das pessoas aprovam o governo. É inaceitável um país se gabar de ter uma das maiores economias do mundo e não melhorar os índices de cobertura do saneamento básico, ter estradas perigosas, portos e aeroportos estrangulados. Existem vários problemas até no discurso do governo de ter tirado muitos da pobreza. Primeiro porque os números são generosos. Nos cálculos do Ipea, 40 milhões de pessoas subiram de classe social, ou seja, não são todos que saíram da pobreza. E a linha para sair da pobreza e da miséria é muito baixa.

E o que você faria de diferente?

Investiria em coisas muito mais modernas e promissoras. Em vez de renunciar ao imposto para incentivar a indústria automobilística, como fez o governo, por exemplo, é possível gerar muito mais inclusão, emprego e dinamizar a economia com atividades ligadas à economia da criatividade. É preciso incentivar a política tributária para o carro e a bicicleta elétrica, por exemplo. É um mercado novo que, hoje, tem uma tributação absurda.

E o que você manteria?

Não é problema fazer um repasse emergencial para os que não têm condições de sobreviver sem isso, mas é preciso ter a porta de saída. Esse programa não deveria mais ser necessário. O que se poderia fazer para além do repasse, é incentivar, facilitar e fomentar a inclusão produtiva. Ao invés de conceder financiamentos bilionários, dividir esse investimento na pequena agricultura, para atividades econômicas compatíveis com aquele lugar, aí sim se promoveria a inclusão de verdade. Além da educação, naturalmente. A pessoa sobe na categoria de classe em função da renda, mas a escolaridade continua baixa. E, quando a escolaridade é mais alta, é de qualidade ruim.

Nesse ponto da escolaridade, você já comentou que se investe no teto, mas não na base. Como garantir essa qualidade?

Se a qualidade não melhorar no ensino fundamental e médio, não adianta dar dinheiro público para facilitar a entrada na instituição privada, inclusive sem fazer questão da qualidade. Quem estava no primeiro ano quando o Lula se elegeu está terminando o ensino médio agora. E qual é a qualidade do nosso ensino médio? É péssima e cada vez pior. É preciso melhorar a remuneração e o preparo dos professores e oferecer condições físicas adequadas. Que espécie de educação você dá para crianças e jovens quando o banheiro da escola não tem porta, a descarga não funciona, a torneira não tem água e, se tiver tudo isso, certamente não tem sabonete. O comprometimento também tem que ser cobrado. Isso veio à tona com o Mais Médicos: finalmente se admitiu que alguns médicos do serviço público não têm compromisso.

Você apoia essa medida?

Nada contra a vinda de médicos estrangeiros, desde que bem preparados. Tudo contra a desigualdade de regimes de contratação. Também não adianta a pessoa ter médico se ela mora em uma casa com umidade e com esgoto a céu aberto. Precisamos, sim, de mais médicos, e precisamos admitir que há médico que não quer trabalhar muito longe, inclusive pela falta de condições. Mas isso é muito pouco, é superficial, é mais uma prova de que o governo não foi bom. Cadê o SUS à beira da perfeição que o Lula comemorou há alguns anos?

Se você não for candidata, em quem vai votar?

Em algum dos candidatos da oposição. E vou pensar bastante em qual deles. O PPS tem uma posição muito clara: a gente desaprova esses onze anos de governo, os resultados e os métodos dele. Não vamos vai ficar com medo de contrariar os que aprovam o governo Dilma. A gente desafia o coro dos contentes porque a gente não está contente.

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