A análise do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, de que os partidos não cuidaram da formação de seus quadros e, por consequência, se afastaram dos anseios da sociedade, é uma preocupação compartilhada por lideranças da base governista e da oposição. Por razões diversas, parlamentares que vão do PT ao PSDB consideram que os partidos políticos se desatualizaram e criaram um fosso entre o que praticam e o que a população almeja.
Em entrevista, Carvalho afirmou que os partidos "não cuidaram da formação de seus quadros da mesma forma que os movimentos fizeram". Por causa disso, ele qualificou o fato como "gravíssimo" e acrescentou que o país tem hoje "uma estrutura política e eleitoral que é quase uma indução à perda de teor ideológico e político. Ela é uma indução, eu diria, até a corrupção, se nós falarmos da eleição".
O líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), ressaltou que as legendas partidárias não existem no país e, por isso, "é impossível" falar sobre o assunto. Segundo ele, as siglas são artificiais e cartoriais, servindo apenas como acomodações para candidaturas de ocasião. Nesse sentido, o líder tucano destacou que as alianças políticas nos estados e municípios não seguem uma orientação ideológica. "Temos políticos que possuem formação de direita filiados em partidos de esquerda e as coligações são totalmente contraditórias. Sem achincalhar a música [de autoria de Stanislaw Ponte Preta], é um samba do crioulo doido".
Ele discordou, entretanto, da avaliação feita por Gilberto Carvalho de que os movimentos sociais prepararam melhor quadros no decorrer dos anos e "evoluíram muito". Para o líder do PSDB, o que houve foi "um aparelhamento e uma relação de promiscuidade" entre os movimentos e o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, agora, com o da presidente Dilma Rousseff.
O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), afirmou por sua vez que o seu partido já constatou essa discrepância entre a atuação de seus legisladores, seja em cargos majoritários ou no Legislativo, e as demandas sociais. Segundo ele, o PT tem tido "uma dificuldade especial" para estabelecer uma relação mais próxima com a sociedade, especialmente a juventude.
Juventude
O presidente do PMDB, Valdir Raupp (RO), destacou que a reaproximação do partido com a juventude e a qualificação de seus quadros é uma das principais preocupações das lideranças de hoje. Ele ressaltou que deliberação nesse sentido foi tomada na última reunião da Executiva Nacional, no início de abril. "Para ser candidato pelo PMDB, para qualquer cargo, os filiados terão que fazer o curso de gestão pública oferecido pela Fundação Ulysses Guimarães. Isso é pré-requisito".
Já o senador pelo PDT Cristovam Buarque (DF), fez uma análise mais ampla do raciocínio do ministro. Ele afirmou que os partidos políticos continuam prisioneiros de metas de curto prazo e, por isso, incapazes de tomar decisões que impliquem uma mudança profunda no modelo industrial vigente.
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