| Foto: Henry Milléo/ Gazeta do Povo

Corrupção, baixa ca­­pacidade técnica dos funcionários público e falta de fiscalização da sociedade são os fatores que resultam em pouca efetividade das políticas públicas. Assim pensa o professor Christian Luiz da Silva, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Governança Pública da UTFPR, e organizador da obra Políticas Públicas e Desenvolvimento Local: instrumentos e proposições de análise para o Brasil, lançada na sexta-feira passada, dia 1.º de junho.

CARREGANDO :)

Em entrevista à Gazeta do Povo, Silva fala sobre como é possível superar os problemas da administração pública. Segundo o professor, a população tem papel importante, principalmente como fiscalizador das políticas públicas. "Ela tem o poder de mudar por meio do voto, que ainda é a maneira mais demorada. Entretanto, ela pode cobrar por resultados. Para isso, precisa adquirir conhecimento de qual é seu papel e o papel do governo."

Para o professor, deve-se investir também em capacitação de servidores, que precisam ter conhecimentos na área de gestão.

Publicidade

Qual a proposta do livro?

Percebemos que existem dificuldades entre muitos técnicos, administradores públicos, alguns de carreira, outros comissionados, que exercem funções essenciais na administração pública e que não tinham conhecimento básico de alguns instrumentos de gestão. Normalmente acontecem alguns erros nessa área, muitas vezes, são atos de ineficiência técnica. Então, queremos fazer a informação chegar a esses administradores, para que eles tenham conhecimento e possam reduzir esses problemas. Outro propósito é o de promover a discussão da administração pública na sociedade, para que ela deixe de ser meramente um agente que cobra do governo e participe do processo de decisão.

Entre os assuntos abordados estão os instrumentos da política pública que a sociedade pode influenciar efetivamente, contabilidade pública, transparência eletrônica, ações de empreendedorismo público para promoção de crescimento nos municípios.

Há uma cultura de política pública instalada no Brasil?

Estamos retomando a democracia. Hoje temos a demanda pela transparência pública, pela discussão do que o governo está fazendo e quais os resultados.

Publicidade

Por que o governo ainda comete muitos erros na aplicação de políticas públicas?

Existem alguns fatores. Um deles é a corrupção. Nossas instituições públicas ainda são frágeis. Outro problema é a falta de capacidade técnica, temos um número significativo de funcionários públicos que têm sido cobrados por inovações e mudanças gerenciais significativas em um curto espaço de tempo. De outro lado, o estado passou por alguns momentos de contingenciamento de recursos, ou seja, apesar de ter muito dinheiro, como existiam também gastos inadequados, dificultava a capacitação de funcionários e contratação de pessoas adequadas para as funções. Às vezes, falta também capacidade técnica. Há casos de pessoas não capacitadas que ocupam cargos em comissão, com a priorização do companheirismo político em detrimento da competência. O último fator é a capacidade de investimento do estado.

O que pode ser feito, pelo governo e sociedade, para aprimorar a eficiência das políticas públicas?

À medida que houver uma cobrança por resultado, os governos vão compreender que estão prestando um serviço para a sociedade e que ela tem participação na decisão de como deve ocorrer a prestação de serviços públicos.

A população tem o poder de mudar por meio do voto, mas ainda é a maneira mais demorada. Então, ela pode cobrar por resultados. Para isso, precisa adquirir conhecimento de seu papel e do papel do governo. Esse amadurecimento tem que ser contínuo. Para isso, é preciso haver uma mudança de perfil não só dos governantes em entender que a profissionalização é importante, mas também da sociedade que deve ter elementos para poder fazer essa cobrança.

Publicidade

Os governos devem priorizar os cargos comissionados ou efetivos?

Seria melhor investirmos nos técnicos de carreira. Historicamente, o cargo comissionado deve atender apenas a uma limitação de recursos para novas contratações e também incorporar as pessoas de confiança em cargos estratégicos. Mas, hoje, essa relação é absurda, governos de estado, como o nosso, possuem muitos cargos efetivos que não foram repostos e não existem pessoas com conhecimento histórico e técnico do papel dos órgãos públicos. É um problema de gerenciamento que se resolve com técnicos capacitados.

O cargo comissionado pode existir somente para algumas funções de confiança. Para cada função, devem existir pessoas capacitadas, senão cada governo é um recomeçar. Não temos muitas políticas de estado, e sim de governo porque a preocupação normalmente é com o mandato, não com o gerenciamento do município, estado ou do país, para um período de médio e longo prazo. Portanto, ter um corpo técnico qualificado é muito melhor do que ter pessoas que transitam pela administração pública.