Em quase três horas de depoimento, a ex-assessora financeira da campanha do PT em Londrina, Soraya Garcia, voltou a afirmar, agora na CPI dos Bingos, a existência de um "caixa 2" durante as eleições municipais de 2004. Segundo ela, o ministro do Planejamento, Paulo Bernado, e ex-ministro da Casa Civil José Dirceu teriam ligação com o esquema.

CARREGANDO :)

A operação, disse, teria injetado ilegalmente R$ 6,5 milhões na campanha do prefeito Nedson Micheleti em 2004. Soraya Garcia afirmou que o atual ministro do Planejamento, Paulo Bernado, que apoiou o prefeito, teve participação no esquema. Ela também acusou o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu de levar R$ 300 mil para Londrina um mês antes das eleições.

"Ele participou de um evento que eu ajudei a organizar. O tesoureiro da campanha, Augusto Dias Junior, disse: 'faz esse evento bem bonito para agradar o José Dirceu por que ele vai trazer o dinheiro'. No dia 20 de setembro (dois dias depois), apareceram R$ 300 mil em notas de R$ 100 novas com selo do Banco do Brasil", disse na CPI.

Publicidade

Apesar de não apresentar documentos, as denúncias de Soraya resultaram na abertura de um inquérito no Ministério Público estadual e na Polícia Federal. Ela disse que chegou a contar R$ 3,5 milhões em notas e admitiu que ajudou a fazer a maquiagem contábil na prestação de contas do PT local. Sobre a origem do dinheiro, disse que parte dele foi desviado dos recursos destinados à usina de Itaipu.

Em nota oficial, a direção de Itaipu contestou a afirmação. A empresa alegou que a denúncia "é mentirosa, feita sob encomenda para tentar atingir a imagem da empresa e de seus diretores" e informa que vai adotar todas as medidas judiciais e extraordijudiciais cabíveis para responsabilizar a autora da denúncia.

A ex-assessora também contou que a multinacional Gtech deu dinheiro para a campanha petista em Londrina, usado para pagar o aluguel de carros. Disse ainda que teria sido alugado um automóvel BMW blindado para o ex-ministro José Dirceu na ocasião do evento.

Ela acreditava Soraya Garcia ficou emocionada e chorou ao responder para o senador José Agripino (PFL-RN). Ela disse que era filiada do Partido dos Trabalhadores (PT) pois acreditava que o partido iria mudar o país. "Mas piorou tudo. Eu amo meu país, sou brasileira. Não se pode mais fazer o que se faz. Não interessa se é PSDB, PMDB, PFL, PT, não interessa! Nosso país não é feito de partidos, é feito de homens" desabafou.

Atrás das provas

Publicidade

Ao final da reunião da CPI dos Bingos, o presidente da comissão, senador Efraim Morais (PFL-PB) afirmou à imprensa que solicitará ao Ministério Público Federal, à Polícia Federal e ao Tribunal Regional Eleitoral do Paraná informações acerca das denúncias feitas pela depoente sobre o suposto caixa dois.

Embora classificando como corajoso o depoimento de Soraya Garcia, Efraim ponderou que a depoente foi convincente em alguns pontos, porém em outros assuntos serão necessárias provas para sustentar as acusações.

"Na verdade não há provas contra o ministro Paulo Bernardo. Vamos dar continuidade à investigação sobre a Gtech até porque a maioria dos coordenadores da campanha de 2004 em Londrina eram pessoas ligadas à Caixa Econômica Federal. O caso Gtech ainda não está fechado", finalizou Efraim.

No Paraná

Também alvo das denúncias de Soraya Garcia, o presidente do PT do Paraná, André Vargas, acompanhou o depoimento em Brasília e voltou a afirmar que as denúncias de Soraia Garcia não são verdadeiras.

Publicidade

Dois inquéritos abertos em julho do ano passado pela Polícia Federal para apurar as denúncias feitas pela ex-assessora estão parados atualmente. O PT conseguiu na Justiça que as investigações fossem suspensas.

Veja também
  • Diretório do PT recebeu R$ 300 mil após visita de Dirceu, diz Soraya
  • Soraya liga ministro a "caixa dois" de Londrina
  • Ex-assessora diz que PT alugou até sala para a Gtech, além de fazer caixa dois
  • Ex-assessora do PT em Londrina diz que vai falar sobre relação da GTech com o partido