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A derrapagem do avião da BRA em Congonhas na tarde desta quarta-feira causou atrasos de vôos nos principais aeroportos do país e reabre a discussão sobre a necessidade de redução de vôos e decolagens no aeroporto mais movimentado do país. O incidente parou Congonhas por cerca de 90 minutos e alterou horários e conexões em vários outros aeroportos, pois cerca de 80% dos vôos dentro do país passam por São Paulo, seja em conexão, escala ou pousos e decolagens. A Infraero não confirma oficialmente o transtorno. Entre os pilotos das companhias aéreas, circulou nesta quarta-feira um alerta de cuidado para pousos em Congonhas, por causa da chuva que quase diariamente castiga a cidade nos períodos de intenso calor.

Segundo fontes do setor, apesar das recentes reformas, o movimento de passageiros já voltou a superar a capacidade do aeroporto. A capacidade subiu de 8 para 12 milhões de pessoas por ano, mas chega a 16 milhões o número de passageiros que recebe. Com isso, supera o Aeroporto Internacional de Guarulhos, que recebe cerca de 14 milhões, tem capacidade ociosa e está ganhando um terceiro terminal para chegar a 27 milhões de passageiros. Na comparação com movimentação de Congonhas, Guarulhos se torna o segundo principal do país para a aviação civil.

A pista do aeroporto de Congonhas é velha. Para reformá-la seria necessário suspender os vôos, pelo menos temporariamente, diz uma fonte. A Infraero informou que não vai se pronunciar sobre o tipo de piso, que não teria condições ideais de escoamento de água (leia aqui).

A retirada de vôos de Congonhas, que fica a 8 km do marco zero da Praça da Sé, esbarra na 'caixa-preta' do setor aéreo nacional. Por um lado, há a pressão das companhias aéreas, que argumentam que operar em Congonhas garante custos mais baixos e não relutam em transferir vôos para o aeroporto de Guarulhos. Esbarra ainda na comodidade dos executivos e passageiros, que sequer imaginam viver o transtorno de desembarcar ou embarcar em Guarulhos, cruzar os congestionamentos das marginais Pinheiros e Tietê e pagar caro pelo transporte de táxi até a área central da cidade. Outra alternativa é ainda mais distante: o aeroporto de Viracopos, em Campinas, distante 100 km da capital.

Incrustado no meio de uma megalópole de 18 milhões de habitantes, Congonhas vive o risco do pouquíssimo provável, mas não totalmente impossível, acidente de grandes proporções. O avião da BRA poderia ter se lançado sobre os carros na Avenida Washington Luiz, uma das principais artérias da zona sul da cidade.

São Paulo não é a única cidade do mundo a ter um aeroporto central e a necessidade dele é indiscutível numa metrópole que quer disputar lugar entre as sedes mundiais de negócios. No Brasil, o Aeroporto Santos Dumont, no Rio, e o de Pampulha, em Belo Horizonte, também cumprem este papel. O nó está em reduzir os vôos, não acabar com eles.

Repousa nas pranchetas de Brasília projetos de reduzir os vôos em Congonhas para não mais do que 10 das 66 localidades que se servem hoje deste aeroporto. Seriam preservados destinos como Rio, Brasília, Curitiba e Belo Horizonte, além de vôos dentro do próprio estado de São Paulo. O estudo indica que a transferência de vôos pode levar 3 milhões de passageiros de vôos de curta e média distância para Guarulhos e outros 3 milhões, de vôos de longuíssima

Distância, para Viracopos, em Campinas. Essa transferência imediata colocaria Congonhas de volta à sua capacidade instalada.

Há ainda outra discussão rondando as torres de controle de Congonhas: o tamanho das aeronaves. Especialistas afirmam, neste estudo que repousa em Brasília, que, com a tecnologia atual, poderiam descer ali aeronaves de até 120 passageiros. Descem aviões de até 180 passageiros.

E não é só isso. Vôos de turismo (charter), repletos de passageiros em férias para o Nordeste, usam o aeroporto no fim da noite e início da madrugada, horários de menor movimento. Neste verão, filas enormes de passageiros com bagagens de férias se formaram nos guichês das companhias aéreas. Filas de mais de 100 pessoas, carregando crianças sonolentas. E também aí se discute qual o motivo de esses vôos não saírem pelo Aeroporto de Guarulhos. Até mesmo ponto de embarque para cruzeiros Marítimos funcionaram no verão dentro de Congonhas.

Pedra no calcanhar da cidade, Congonhas teria como alternativa ser transformado num aeroporto especial, de vôos curtos, onde as companhias poderiam operar vôos mais caros, cobrando dos passageiros o preço pela comodidade. E aí, o preço da mudança cai no bolso do consumidor.

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