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 | Roberto Custódio/Jornal de Londrina
| Foto: Roberto Custódio/Jornal de Londrina

Entrevista com Márcia Lopes, nova ministra do Desenvolvimento Social.

Brasília - A londrinense Márcia Lopes assumiu na quarta-feira o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) sentindo-se em casa. Elogiada pelo presidente Lula, que disse que ela nunca deveria ter deixado o governo, a paranaense vai gerenciar um orçamento anual de R$ 38,6 bilhões e uma das principais bandeiras da gestão petista, o Bolsa Família. O programa, segundo ela, tem condições de ser ampliado – mas não de acordo com a sugestão da oposição no Senado, que beneficiaria os alunos com boas notas na escola.

Márcia havia sido secretária-executiva do ministério entre 2004 e 2007 e disse que só deixou a pasta para ficar mais tempo com a família. Apesar de ter um perfil técnico, ela também possui uma longa história política – é filiada ao PT desde 1982. Professora de Serviço Social da Universidade Estadual de Londrina (UEL), ex-vereadora da cidade, Márcia se preparava para disputar as eleições para a Assembleia Legislativa antes de ser convidada para o ministério.

O que será possível fazer de diferente no ministério nesses próximos nove meses?

Na verdade, eu sempre me senti parte do ministério, até porque permaneci aqui quatro anos [de 2004 a 2007]. Fiquei os últimos dois anos em Londrina, mas sempre acompanhando o trabalho do [ex-]ministro Patrus Ananias e de toda a sua equipe. Eu me sinto familiarizada com esse trabalho. A partir de agora, trata-se de dar continuidade ao plano de governo do presidente Lula. Precisamos consolidar os programas e projetos que já estão em andamento, como a implantação dos nossos dois grandes sistemas: o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional e o Sistema Único de Assistência Social. Também vamos intensificar e fortalecer as nossas alianças com estados e municípios.

Como a senhora avalia o atual momento do Bolsa Família?

Atendemos hoje 12,4 milhões de famílias no Brasil. Temos condições de ampliar o Bolsa Família. Isso depende de melhorias na gestão municipal e de um bom cadastro das famílias. Sem dúvida o programa Bolsa Família se constitui em um eixo articulador das demais políticas sociais do governo. No âmbito da assistência social, da segurança alimentar, junto com a saúde, com a educação, com a cultura, o que nós temos visto é que de fato o Bolsa Família traz as famílias para a inclusão nos serviços públicos. É um programa que vai envolvendo, fazendo com que o poder público local, estadual e federal pense na família como uma unidade, com demandas próprias, esperanças, sonhos, que quer buscar cada vez mais a sua cidadania. O programa tem mostrado pelos seus indicadores, de uma forma muito rápida, que avançamos muito.

Qual importância os programas sociais terão no debate eleitoral?

Não sabemos ainda o tom dos debates. Mas sabemos que nenhum candidato a presidente pode negar os avanços que estão acontecendo no Brasil nessa área. Até porque estaria sendo contrário à melhoria da vida da população. Isso, em um país democrático, é muito importante. Agora, é claro que sempre terá gente que vai buscar algum ponto, até buscar uma ampliação dos programas.

A oposição ao governo no Senado acabou de aprovar uma proposta nessa linha, que amplia o Bolsa Família. Isso é positivo?

É algo que não cabe. O programa tem um objeto específico, que é uma renda básica de cidadania, que complemente a renda das famílias. Há um dado que mostra que 77% das famílias atendidas estão no trabalho. A proposta [da oposição] distorce o objetivo, porque não suporta o acompanhamento dessas famílias na área de saúde e educação. São questões muito mais amplas. Mas eu estou aberta ao debate, vamos discutir qualquer sugestão.

Há sempre uma discussão sobre a "paternidade" do Bolsa Família, de que na verdade ele seria apenas uma união de programas que foram desenvolvidos pelo governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Esse é um debate importante?

Não. Ainda mais quando estamos caminhando, com uma grande contribuição do presidente Lula, para uma compreensão republicana do país. O que importa não é quem fez ou deixou de fazer. O que importa é que o Estado brasileiro seja a base para um país de todos. O presidente está impondo uma relação apartidária com prefeitos, governadores, para que o dinheiro chegue à população, para que o povo melhore de vida. Daqui para frente, nada pode ser como era antes.

Por que a senhora deixou o governo em 2007 e como foi o processo de escolha para a sua volta como ministra?

Foi muito difícil a minha saída. Eu já estava há quatro anos longe do meu marido, dos meus filhos, dos meus dois netos, da UEL. Eu entendia que o ministério já estava em um rumo correto. Junto com o ministro Patrus, nós estruturamos o MDS, que era e é algo ainda muito novo no país. Eu, como já disse, nunca me desliguei do ministério do ponto de vista do debate de ideias. Fui sondada e convidada pelo presidente Lula e pelo Patrus para voltar para essa tarefa de agora ser ministra. É uma grande honra poder voltar e contar com o apoio de toda a minha família.

Houve alguma força do seu irmão [Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Lula] nessa indicação?

É claro que meu irmão é uma pessoa maravilhosa. Quem o conhece sabe que a história de engajamento político dele vem desde criança. Nossa família sempre teve muito disso. Nossos pais sempre nos ensinaram o caminho da retidão, do bem, da indignação perante a desigualdade. Por isso é uma grande honra ter aqui o Gilberto comigo no governo federal. Mas estamos em áreas bem diferentes. Eu me formei em Serviço Social na UEL. Sou professora há 29 anos, professora de pós-graduação em muitos cursos, fui militante do movimento por uma assistência social pública de qualidade no Brasil. Também fiz mestrado em políticas sociais, fui secretária municipal dessa área em Londrina, fui vereadora. Eu tenho uma trajetória própria. Quem conhece o meu trabalho sabe que só ele me qualifica para integrar o governo neste momento.

A senhora planeja continuar no MDS em um possível governo Dilma?

Não é o momento de falar disso. Tenho de concluir o meu trabalho no mandato do presidente Lula, no plano de governo dele. Essa é a minha disposição. É óbvio que temos clareza do que significa para o Brasil a importância desse projeto ter um bom desfecho. Não há nenhuma vinculação e compromisso mais para frente.

Como a senhora vê a aliança do PT com o PDT no Paraná em favor da candidatura a governador do senador Osmar Dias?

As alianças são necessárias. O que é importante é que haja de fato uma disposição, tanto do PT quanto do PDT de levar isso adiante. Queremos que venham outros partidos também. Achamos que o Paraná pode avançar nesse processo, de uma gestão cada dia mais ampliada e integrada. É possível uma eleição muito boa para os dois lados. Eu sou favorável à aliança. Sou membro da executiva estadual do PT e estamos juntos na construção desse consenso.

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